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A imprensa no banco dos réus: quem não deve, não teme

A Imprensa brasileira se transformou em protagonista da cena política assim que começaram a surgir os primeiros vazamentos que desaguaram na CPI do Cachoeira. Sob suspeita de atuar como partido desde que Lula começou uma campanha para melar o Mensalão, o jornalismo talvez nunca tenha sido alvo de tantos ataques em sua história.

As suspeitas ganharam espaço na internet quando o deputado Fernando Ferro, fazendo eco à paranóia lulista, criou o termo Partido da Imprensa Golpista, depois apropriado por agente da propaganda governamental financiados por estatais com rios de dinheiro do contribuinte. E se solidificaram a partir dos primeiros sinais de que o bicheiro Carlinhos Cachoeira havia se servido de jornalistas para provocar algumas das maiores crises da república lulopetista. O principal elemento dos detratores da “velha mídia” são os 200 telefonemas trocados entre o chefe do escritório da Revista Veja, Policarpo Jr., e o bicheiro goiano.

Até aqui, salvo as correlações indiretas — portanto suposições — nada ficou demonstrado sobre os desvios éticos aludidos pelos inimigos do jornalismo contemporâneo. Não se conhece ainda a transcrição dos diálogos. Policarpo goza do melhor prestígio entre os colegas e não apareceu nenhuma evidência de que, a despeito de ter se valido de informações emanadas do submundo da espionagem, tenha sido cooptado pelo esquema de Cacheira.

Veja sustenta que seus jornalistas podem manter relações éticas mesmo com fontes espúrias. Ao contrário do que afirma a banda de música governista em meia dúzia de blogs, a revista não deixou de noticiar nenhum dos fatos relacionados ao ambiente que precedeu a CPI do Cachoeira — aí incluída sua versão sobre o que se sabe dos grampos da Operação Monte Carlo. Mas falta um elemento de convicção para afastar a Imprensa do banco dos réus em que foi colocada, em boa medida, pelos jornalistas a serviço da turma do Mensalão.

Nesse sentido, a CPI do Cachoeira se apresenta como uma tribuna oportuna. O assunto inevitavelmente terá que ser abordado no âmbito da investigação parlamentar, a despeito das afirmações do relator Odair Cunha de que não moverá uma “caça às bruxas”. Há que se reconhecer que a sociedade, mesmo tangida por ânimos viciados que têm por objetivo destruir o jornalismo que não está a serviço do aparelhamento ideológico ou de conveniência, tem o direito de saber como as notícias que pautam a política são produzidas e a que fim realmente se prestam.

Quem não deve, não teme. Ao final desse processo, caso a natureza ética dessas relações fique comprovada, o processo que se iniciar agora terá o efeito de uma absolvição sumária. Ou, na pior das hipóteses, a se comprovarem os vícios imputados aos jornalistas, haverá uma depuração da qual poderá surgir um novo jornalismo. Com certeza ele não terá os brios nem a cara do autoproclamado “jornalismo progressista”, que nada mais é do que a atualizaçao do folhetim partidário dos anos 50, época em que repórteres e editores não tinham salário e viviam de extorquir suas fontes.

A sub-relatoria da imprensa na CPI do Cachoeira também deverá servir para outro debate: o das relações entre fontes de financiamento públicas e a abastança de meia dúzia de escribas de aluguel atavicamente vinculados ao governo.

Com acesso fácil ao dinheiro dos impostos, são remunerados regiamente por contratos que não se explicam pela audiência, importância, qualidade das informações, tampouco pelos princípios da impessoalidade e da moralidade. E ainda gozam da proteção das caixas-pretas armadas por entes públicos, cuja atuação deveria se pautar não pela obscuridade, mas pela transparência democrática.

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