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Por que o eleitor de MT terá saudade do maior ficha-suja do País

Como se sente o eleitor matogrossense diante do fato inapelável de que o político mais poderoso do estado está definitivamente afastado do processo eleitoral por força da decisão unânime de uma das câmaras do Tribunal de Justiça ?

Não tenho resposta para esta pergunta, mas posso imaginar o que está acontecendo a partir do cotejamento de dados objetivos emandados das urnas nos últimos pleitos.

José Geraldo Riva é o político brasileiro com maior número de processos por improbidade administrativa, corrupção e outras imputações da mesma gravidade. Foi cassado duas vezes por compra de votos, e duas vezes afastado das funções administrativas e financeiras atinentes ao cargo que ocupa por votação quase unânime de seus pares (apenas uma deputada estadual não votou por sua última recondução à presidência da Casa).

Nada disso é novidade para o eleitor cuiabano e do Nortão de Mato Grosso, que o sufragaram em massa, a despeito do silêncio obsequioso da imprensa daquele estado sobre os malfeitos de Riva. Com todo esse passivo judicial, Riva amealhou 93.594 votos na eleição de 2010, que ele disputou na condição de ex-deputado cassado.

Quatro anos antes, havia sido sufragado por 82.799 eleitores. Ou seja: tudo o que lhe aconteceu — cassação, o vexame de governar o parlamento sem poder assinar um cheque — acrescentou 30,03% a seu cacife eleitoral. É inequívoco, portanto, que com sua leniência o eleitor matogrossense tornou-se uma espécie de avalista entusiasmado da bandalheira em que se transformou a política naquele grotão.

Tenho a impressão de que os novos vexames produziriam, se isso fosse possível, um aumento da incrível popularidade do rei dos ficha-suja brasileiros (agora novamente transformado em Rainha da Inglaterra, pois destituído de boa parte de seus poderes institucionais). Coloco o verbo no condicional porque a condenação em segunda instância por improbidade administrativa põe um ponto final à proeminente carreira do multiprocessado José Geraldo Riva, que agora está inelegível por oito anos.

Apesar de todos os seus problemas judiciais, Riva vinha se preparando para disputar o governo de Mato Grosso. Paralelamente, prepara a filha mais velha para dar continuidade à oligarquia com a qual pretende eternizar o controle político de seu estado. Não apenas em virtude da já materializada inelegibilidade. Riva também enfrenta problemas de saúde que produzem incertezas sobre seu futuro. Ele fala sobre isso apenas com quem preza de sua intimidade. Dependendo do interlocutor, agrava ou reduz a importância dos prognósticos. Mas cuida de manter o assunto longe da seara da opinião pública cuiabana, o que lhe é de direito.

Se há uma qualidade que se pode atribuir a ele é a disposição para o exercício do Poder. Imagine se isso fosse usado para o Bem! Nem a doença, nem as sucessivas derrotas judicias refrearam o ânimo para impor sua vontade aos eleitores e aos políticos matogrossenses.

Há uma explicação para isso. Riva enriqueceu na política, e enriqueceu muito. Amealhou um patrimônio invejável para quem começou como corretor de imóveis e chegou ao parlamento sem um tostão, tendo desde os idos dos anos 80 sobrevivido exclusivamente em função dos salários que recebe do Legislativo. Hoje, é um dos maiores proprietários de terras e gado do Centro-Oeste brasileiro, a ponto de ufanar-se de sua fortuna publicamente.

Mas o tempo passa. E no caso emblemático de Mato Grosso, a passagem dos últimos dia tem produzido notícias alvissareiras para a cidadania. A mais importante delas dava conta da aposentadoria compulsória de 3 desembargadores e 7 juízes. Determinada pelo CNJ, a punição máxima foi finalmente referendada pelo STF, o que levou ao saneamento do Judiciário matogrossense. Os julgadores afastados constituíam uma ponte entre a galhardia de Riva e sua aparente impundade, agora desafiada pela volta da altivez ao TJMT. O que vai dificultar ao extremo uma reversão da situação processual do político.

Bom para a institucionalidade, esse novo ambiente jurídico-político certamente vai provocar muitas dores  com a aposentadoria precoce  — que ainda pode ser antecipada pela Justiça eleitoral — de José Geraldo Riva.

Há sempre um bom punhado de eleitores dispostos a legitimar a pilhérie. Gente que se contenta com um boné, um tanque de gasolina ou um milheiro de tijolos como compensação ou partilha do butim.

Em Mato Grosso, são pelo menos 93,5 mil.

Até descobrirem um novo Riva, eles ficarão órfãos da velha política.

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