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Saia, Demóstenes, saia!…

A presença de Demóstenes Torres no Senado é uma afronta à dignidade que, embora sofregamente, ainda se esperava que sobrevivesse no Parlamento brasileiro. A pusilanimidade desse senhor só tem paralelo em figuras como José Dirceu, o mentor do Mensalão, o colega de partido José Roberto Arruda e seu conterrâneo Delúbio Soares. Não há outra analogia possível — e ainda assim com muita benevolência.

É enojante ver a decomposição da da aura de candura que ele sustentava ao irradiar as virtudes de vestal enquanto acertava o jabaculê com a contravenção. Durante anos, manteve intacta sua aura pudica, armadura e escudo dos negócios tenebrosos que fazia com seu chefe e corruptor.

Demóstenes Torres bradava a catilinária moralista ao mesmo tempo em que conspirava contra as instituição em favor do jogo do bicho. E ninguém foi capaz de perceber. Talvez porque sua honorabilidade de fachada tenha sido construída a partir de sua origem no Ministério Público.

Foi essa credencial que o ergueu ao pedestal reservado às mais nobres fontes compulsadas pelos jornalistas. Éramos, e me incluo nesse rol de inocentes inúteis, incapazes de distinguir um falsário de um herói,  todos crentes na santidade do fâmulo do crime organizado. Demóstenes, enquanto o ardil durou, era o cara inquestionável, o inquisidor indestrutível, garantia de boas aspas, a própria encarnação do Bem contra o Mal que confrontava na figura de seus alvos.

Jornalistas, quando não são desonestos, são necessariamente iconoclastas e contestadores. O personagem com o qual o impoluto parlamentar se fantasiava servia como uma luva a esse mister. Hoje, à luz de tudo o que já se sabe sobre esse farsante contumaz, posso afirma sem medo de errar que o senador do jogo do bicho e do bingo entendeu melhor os jornalistas do que nós conseguimos entendê-lo.

A despeito dos crimes que perpetrava entre um e outro discurso patriótico, nunca ninguém jamais suspeitou da existência das relações espúrias que, afinal, hoje parecem ter sido sua verdadeira razão de existir. Agora que a Polícia Federal nos apresentou ao verdadeiro Demóstenes Torres, está na hora de fazer-lhe um último pedido: Saia logo, senador.

Sua carreira política morreu junto com a honorabilidade de araque que lhe dava sustentação. Enquanto não renunciar a esse mandato imerecido, questão de horas ou dias, sua presença continuará provocando nos que conviveram com ele uma náusea profunda. Especialmente aos que mantinham com ele uma relação supostamente honesta de fonte de informações.

Para os jornalista, a derrocada moral de Demóstenes não é apenas um problema afeto à cidadania e ao interesse público. É um espelho da nossa própria incompetência, da nossa miserável falta de acuidade para distinguir o que é joio e o que é trigo nesse canteiro de ervas-daninhas em que ele e seus iguais transformaram a política brasileira.

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