Pannunzio Comunicação – Blog do Pannunzio

Dilma está certa. Os bancos privados são hoje o principal entrave ao crescimento da economia

A confrontação entre a Presidente Dilma Rousseff e os bancos pode dar à Presidente da República o seu grande trunfo na condução da economia. No Brasil, como de resto em todas as democracias, é a sensação de felicidade da população, expressa pela capacidade de saciar a demanda por consumo, que alicerça a popularidade e, por consequência, o cacife eleitoral dos governantes.

“É a economia, estúpido!”, já ensinava James Carville aos estrategista da campanha de Bill Clinton. Caso consiga civilizar os bancos e trazer os juros para patamares ao menos aceitáveis, Dilma terá sedimentado uma obra importante na área econômica, com efeitos que certamente terão reflexos expressivos na vida da população.

Até que o governo Itamar Franco decidisse enfrentar com determinação a hiperinflação renitente, a desvalorização da moeda a cada dia fazia com que boa parte da renda nacional fosse drenada para o sistema financeiro. A corrosão do valor real do dinheiro era mais perversa com quem não tinha conta-corrente ou não alcançava as ferramentas de proteção, como as aplicações “overnight”.

Quando Plano Real conseguiu aplacar a fúria inflacionária, os bancos, compensatoriamente,  foram aquinhoados com taxas de juros estratosféricas, que se mantiveram ao longo dos 16 anos dos governos de Fernando Henrique Cardoso e Luis Inácio Lula da Silva. A lógica do lucro fácil acabou por transformar o Estado no duto da felicidade da banca. Sem a inflação, o Estado passou a destinar a ela boa parcela do que arrecadava em imposto do cidadão pela via do endividamento.

Sob Lula, que colocou um banqueiro no Banco Central para zelar pelos privilégios dos banqueiros, os lucros auferidos pelo sistema financeiro no Brasil nunca foram tão fáceis e expressivos. Bastava aplicar a poupança da clientela em títulos públicos para fazer a abastança da banca. Sem nenhum risco.

Dilma prometeu durante a campanha reduzir os juros no País. Ninguém deu muita importância porque todos os candidatos prometem isso e não fazem nada. Por esta razão, a anunciada cruzada da presidente contra os juros surpreendeu muita gente — inclusive a recalcitrante FEBRABAN, que chegou a apresentar um programa de redução dos juros sem tocar nos lucros exorbitantes de seus associados.

Houve um enorme alarido e muita desconfiança quando o governo anunciou sua disposição de fazer uma queda de braço com os bancos privados pela via da concorrência. Os analistas econômicos — a serviço dos bancos, diga-se de passagem — perderam o discurso de que a culpa sempre cabia ao governo, responsável pela manutenção da taxa SELIC em níveis inexplicáveis para uma economia sólida.

Agora, a redução da taxa básica expôs o verdadeiro fator de limitação do crescimento econômico: os juros reais, que o cidadão paga para consumir um bem e o empresário paga para produzí-lo.

Alguns desses analistas se apressaram em identificar no posicionamento claro da Presidente em cadeia nacional uma performance digna de Cristina Kirchner. Viram no pronunciamento da véspera do Dia do Trabalho elementos de uma confrontação de caráter populista, tentando equivocadamente levar para o campo ideológico o locus do embate.

É muito difícil entender que, em plena crise de solvência, o consumidor norte-americano continuasse pagando 7% ao ano de juros no cartão de crédito enquanto as mesmas empresas cobravam — ainda cobram — 240% de seu congênere brasileiro. É muito difícil entender por que uma empresa está sujeita a taxas que as equiparam, em risco e importância, ao consumidor do varejo. E também é impossível entender por que os bancos se recusam fazer empréstimos de fomento em um ciclo especial de crescimento da economia.

Por tudo isso, Dilma Rousseff , mais do que razão, tem elementos concretos para expressar sua indignação. O que ela faz é se insurgir contra a ganância que se traduz em um poderoso indutor da recessão, que limita a produção e o consumo e que desafia um governo que, pelo menos nesse campo, está fazendo o que tem que ser feito.

O estoque de ferramentas de que o governo dispõe para limitar os juros não termina com a indução do ambiente de concorrência pelos bancos oficiais. A próxima etapa, já anunciada, é tratar das tarifas cobradas pelos serviços bancários. Mas há algo mais impactante que começa a ser cogitado. A discussão da proposta tem sido patrocinada pelo Professor Amir Khair, da FGV, com quem autoridades da área econômica costumam se aconselhar. Ele defende abertamente que talvez seja mais barato ao País emitir dinheiro do que emitir títulos públicos.

O risco de gerar inflação a partir da expansão da base monetária para financiar a dívida pública, segundo Khair, é inexistente na atual conjuntura. Isso faria com que os bancos, sem a alternativa de rentabilidade e segurança dos papéis do governo, fossem obrigados a oferecer crédito e a concorrer efetivamente pela clientela para remunerar seu capital.

Como se vê, o governo ainda tem muitos elementos para tentar convencer a banca a cumprir seu papel social. Mas aplacar a ganância do sistema financeiro não é tarefa simples para nenhum governante, mesmo em um País que vai galgando posições no cenário internacional pelo vigor de sua economia.

Nos Estados Unidos de 2008/2009, por exemplo, foi ela o principal elemento da guerra travada entre a Casa Branca e os escritório da Wall Street. “Greed Kills” se transformou em emblema dos manifestantes que acampavam em frente à sede da Bolsa de Nova Iorque. Na pátria-mãe do capitalismo, um discurso ainda mais agressivo do que o de Dilma foi sustentado por Obama, a quem ninguém acusa de ser socialista ou de agir motivado pelo populismo petista.

É isso o que Dilma está fazendo agora: dizer aos bancos que a ganância mata. Se não mata os bancos, que no Brasil são invulneráveis, pode matar a economia, se nada for feito para limitá-la.

Share the Post:

Join Our Newsletter