Fausto Maced0
Sob suspeita no escândalo dos contracheques milionários do Tribunal de Justiça de São Paulo, o desembargador Fábio Monteiro Gouvêa, que recebeu R$ 713,2 mil, dá risada quando fala da rotina dos tempos em que integrou a Comissão de Orçamento da corte. “O meu telefone celular tocava mais ou menos a cada 3 ou 4 minutos, incessantemente. Noventa por cento dessas ligações eram pedidos de antecipação de créditos.”
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Presidente do TJ-SP diz que imprensa ‘enxovalha’ o JudiciárioQuem pedia dinheiro, segundo Gouvêa. “Juízes, em favor deles próprios, juízes em favor dos seus funcionários ou ex-funcionários. Tinha noite que eu não dormia. Os casos todos eram tão graves e tão urgentes que eu perdia o sono, várias noites.”
Aos 59 anos, desde 1978 na magistratura, o desembargador atuou na Comissão de Orçamento entre 2008 e 2010, gestões dos ex-presidentes Vallim Bellocchi e Vianna Santos. Antes, por um breve período, fez parte da Comissão na administração do presidente Celso Limongi (2006/2007), “mas sem nenhuma função executiva”.
Em entrevista ao Estado, Gouvêa conta que deixou de comparecer a festas da toga porque havia uma pressão terrível. “Chegou um momento em que nós não podíamos nem mais ir a festas, principalmente de juiz, porque a pergunta era constante, se havia dinheiro, se ia ter um pagamento extra no final do ano ou no meio do ano, se o orçamento era melhor, Isso foi causando um mal-estar que me fez evitar esse tipo de confraternização.”
Admite que recebeu seu quinhão sem ter apresentado justificativa e que o ex-presidente Vianna (já falecido) “autorizava verbalmente” os pagamentos.
Gouvêa e os desembargadores Tarcísio Ferreira Vianna Cotrim e Alceu Penteado Navarro, atual presidente do Tribunal Regional Eleitoral (TER) de São Paulo integravam a Comissão de Orçamento do Tribunal de Justiça. Eles estão sob investigação, juntamente com o ex-presidente do TJ, desembargador Roberto Antonio Vallim Bellocchi que, sozinho, recebeu R$ 1,44 milhão de pagamentos antecipados.
O relato do desembargador Fábio Monteiro Gouvêa põe fogo na crise que asfixia o grande tribunal. Ele aponta para outro ex-presidente, Celso Limongi, que dirigiu a corte entre 2006 e 2007.