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Em busca do aquecimento global I

Acordei intrigado com a chuva dos últimos dias, o frio e a neblina que tomou São Paulo esta madrugada. Decidi ir atrás do aquecimento global, que aqui em casa parece ainda não ter se manifestado. Fiquei sabendo que haveria um leilão de créditos de carbono da Prefeitura de São Paulo na BMF. Dirigi-me para lá para tentar entender o que são os tais créditos de carbono na prática e quanto custam, quem compra etc.

Pois encontrei finalmente evidências do valor do aquecimento global: 3 euros e trinta centavos por tonelada. Foi por quanto o comprador europeu arrematou um título chamado RCE, equivalente a uma tonelada de CO2. Esse comprador, que já é freguezão da Prefeitura, arrematou todo o lote, composto por 530 RCEs (Redução Certificada de Emissões).

Houve cinco inscritos que se qualificaram para disputar o leilão. Mas, ao final, foram apresentados apenas três lances. O valor mínimo arbitrado era de 2,70 euros por RCE (ou tonelada de CO2, como queira). Portanto, houve um ágio de 22,22%, muito comemorado ao final dos trinta minutos que o pregão durou.

Havia três secretários municipais, executivos da bolsa e alguns jornalistas — a maioria setoristas na BMF. Pelo menos entre os jornais e emissoras de TV, o leilão não despertou grande interesse. Talvez porque a tentativa anterior tenha teminado sem nenhuma oferta, frustrando todo mundo. Talvez porque esse mercado ainda seja complicado demais para a população em geral entender.

Enfim, havia gente de sobra para me explicar como funciona aquele negócio. As autoridades estavam com bastante tempo para atender os poucos jornalistas, o que era necessariamente bom para um ignorante no assunto como eu.

As fontes com quem conversei me explicaram que o valor, comemorado com aplausos quando o martelo bateu pela terceira vez, está muito abaixo do que foi auferido no último pregão com ofertas realizadas. Ele ocorreu em 2008 e terminou com a tal RCE (ou tonelada de CO2) vendida por 19,20 euros — quase seis vezes mais do que o resultado ao final do pregão de hoje. Na época, foram vendidas ao mesmo comprador 713 mil RCEs. A féria chegou a cerca de R$ 37 milhões, contra  um total de apenas 1,75 milhão de euros agora, que equivalem a pouco mais de R$ 4 milhões.

“É o mercado, fazer o quê ?”, conformava-se o Secretário de Finanças da Prefeitura, Mauro Ricardo Costa. “Pelo menos desta vez tivemos alguém interessado”, dizia, aliviado, um funcionário da BMF.

De onde vêm os tais créditos de carbono ?

Não se espante se você se sentir como um peixe fora d`água ao travar contato com esse assunto. Pouca gente sabe mesmo como funcionam os créditos de carbono. Para não tentar discorrer sobre o que não domino, vou logo descrevendo o que vi — com a promessa de que vou me informar melhor sobre os fundamentos disso tudo, inclusive a regulação da ONU sobre o assunto, que me dizem ser rigorosíssima.

Vamos, então, ao caso concreto do leilão de hoje. A Prefeitura tem aterros sanitários cuja exploração foi cedida a empresas privadas. Elas recebem do governo municipal para armazenar o lixo de maneira, digamos “sustentável”. Não se limitam a depositar o lixo num terreno baldio. Constroem uma base impermeável e sobre ela vão dispondo camadas de lixo, que são posteriormente compactadas com terra.

A fermentação do material orgânico é feita por bactérias anaeróbicas. Um dos compostos orgânicos derivados dessa fermentação é o gás metano, que poluiria 21 vezes mais a atmosfera do que o gás carbônico se escapasse para o meio-ambiente (agora diz-se apenas ‘ambiente’).

O que fez a concessionária ? Conseguiu uma licença para explorar o subproduto desse lixo. Construiu drenos para o gás, que é canalizado e alimenta um grupo de geradores de energia elétrica. Na ponta da chaminé, depois da queima do metano como combustível, sai apenas CO2. E água. O gas que exala do escapamento do grupo gerador, desta forma, poluiria menos de 5% do que o metano antes de ser queimado.

A diferença pode ser transformada em créditos de carbono. Ou seja: se consumiu o equivalente a 1 tonelada de metano, a concessionária do lixo e a Prefeitura podem lançar cerca de 950 quilos como créditos de carbono.

Hoje, o município de São Paulo tem ainda em estoque certificados equivalentes a 820 mil toneladas. Valeriam uma fortuna se a cotação voltasse à casa dos 40 dólares a tonelada, patamar em que esteve quando era uma novidade com valor ainda sendo arbitrado pelo mercado incipiente. Mas hoje em dia vale bem pouco, como se viu pelo resultado do leilão.

E por que houve essa depreciação ? Simples. Porque a Europa está em recessão. A Comunidade Européia é o principal comprador desse tipo de título porque aderiu aos termos de Kyoto, coisa que Estados Unidos e China não fizeram e da qual o Canadá já saltou fora. Com a produção desaquecida, a indústria européia não queima combustíveis e não precisa comprar o carbono do terceiro mundo. Daí o encalhe na última tentativa de leiloar e o preço de liquidação de agora.

Mas há perspectivas de que isso melhore para quem, como nós, pode lucrar com a commoditie ambiental ? “Não, não há nenhuma perspectiva no horizonte de que isso mude”, diz o secretário Mauro Ricardo. Daí a decisão de vender, assim que for possível, o estoque remanescente.

Mas há também uma crise de credibilidade dos fundamentos da hipótese do aquecimento global. Ela parte da convenção, cada dia mais atacada, de que o gás carbônico proveniente da sociedade de consumo que se ergueu após a Revolução Industrial provoca o aquecimento da atmosfera terrestre.

A hipótese do aquecimento é ferrenhamente defendida por um grupo de cientistas ligado ao IPCC — O Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas. E é ferrenhamente combatida por um outro grupo de cientistas que se autodenominam “céticos”.

O QG dos aquecimentistas é a Universidade de East Anglia, na Inglaterra, onde está entrincheirado o papa do aquecimento Phil Jones. Em outros tempos, o grande nome da turma do aquecimento, que embala os ambientalistas, era James Lovelock, autor de uma teoria bem interessante, chamada Hipótese de Gaya, segundo a qual a Terra funcionaria como um organismo vivo que vem sendo atacado pelas agressões humanas.

Ocorre que, dois meses atrás, Lovelock capitulou e fez uma autocrítica. Admitiu que os efeitos devastadores previstos por ele e seus discípulos simplesmente não estavam ocorrendo como prediziam os modelos climatológicos que rodam em supercomputadores.

Phil Jones, por sua vez, foi abatido por um escândalo batizado de “Climategate”, ou Climagate, num aportuguesamento leniente para com o anglicismo remanescente. Em 2009, e-mails quase pornográficos que ele trocou com outros aquecimentistas foram vazados na internet. Foi um Deus-nos-acuda!

Sabe o que ele dizia nesses e-mails ? Que as amostras utilizadas para comprovar que a Terra está esquentando foram acochambradas, acertadas com a mão, porque os resultados que vinham brotando das sondas e estações meteorológicas simplesmente não confirmavam as previsões.

Ele também declarou a um amigo que, se fosse obrigado por uma lei inglesa a abrir suas fontes de dados, preferia deletá-los a permitir que viessem a público. Pois foi exatamente o que ocorreu. Os dados originais que deram base às afirmações aquecimentistas desapareceram para sempre. Desta forma, a conduta anticientífica ficou mais do que bem demonstrada: os trabalhos de Phil Jones e sua equipe jamais poderão ser reproduzidos — quer para confirmá-los, quer para contestá-los.

É preciso dizer que os pesquisadores de East Anglia foram investigados por duas comissões independentes, que concluíram pela validade dos estudos mas impuseram-lhes um pito público pela falta de transparência e colaboração. Os céticos dizem que nenhuma dessas comissões independentes ouviu um crítico sequer alinhado com a outra vertente do pensamento. E Phil Jones pode reassumir a cadeira da qual fora afastado em função da suposta manipulação.

Hoje, a polêmica entre aquecimentistas e céticos (há uma versão “esfriacionista” também, como veremos adiante) tem mais de religião e política do que de ciência. Os ataques entre os dois grupos criaram castas distintas, matizadas por um claro viés ideológico.

Os aquecimentistas dizem que os céticos trabalham para a indústria do petróleo e os comparam aos cientistas contratados pela indústria do tabaco para provar que cigarro não dá câncer. E estigmatizam os adversários com o rótulo de “extrema direita a serviço do Partido Republicano”.

Os céticos dizem que os aquecimentistas são parasitas infestando o orçamento dos Estados com demandas que não se justificam do ponto de vista estrito da ciência. Acusam os colegas de criar a base teórica de uma nova geopolítica discricionária para manter o progresso do terceiro mundo contido enquanto os ricos podem comprar indulgências para continuar poluindo como sempre fizeram. E até de lançarem o arsenal teórico sobre o qual se construiria uma nova eugenia, em que os pobres e negros, especialmente os africanos, deveriam ser esterilizados para evitar a proliferação demográfica da pobreza.

Contei tudo isso para mostrar a vocês onde está o problema — “onde está o busilis”, diria Rubem Fonseca. Isso pode ser visto no gráfico abaixo. Ele contém uma síntese do que aconteceu entre 1997 e 2008 com dois fatores importantes: a concentração de CO2 e a temperatura média da atmosfera do planeta.

A linha preta é a do gás carbônico. Ela revela que a concentração de CO2 passou de cerca de 360 para 380 partes por milhão nesse período. A curva da temperatura, de cor rosa, vem se mantendo constante nos onze anos compreendidos pela amostra.

 

As duas perguntas que fiz a mim mesmo ao ver esse gráfico foram as seguintes: ora, se a temperatura não subiu, cadê o aquecimento que vai acabar com a vida na Terra ? E se o CO2 continuou aumentando — e partindo-se do pressuposto de que esse gás é que provoca o efeito-estufa — por que a temperatura não aumentou na mesma medida ?

Bem, essas são perguntas muito difíceis de responder. Prometo que vou procurar as mentes mais coroadas para dirimir minhas dúvidas — e as suas também, caso lhe ocorram.

Por enquanto, felicito-me com o fato de que existe, entre a atmosfera diáfana da última madrugada e o sol que brilha agora lá fora, um espaço para a continuação da vida humana no nosso planetinha.

Ufa, que alívio!

 

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