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Segurança, eleições e ideologia

O Blog do Pannunzio tem veiculado uma série de matérias sobre a violência policial em São Paulo. A preocupação  com o tema começou em 18 de fevereiro do ano passado, quando uma equipe da Corregedoria da Polícia Civil despiu à força uma escrivã acusada de concussão. O blog veiculou as imagens da desastrada e arbitrária prisão em flagrante e cobrou das autoridades providências para punir os delegados que protagonizaram o escândalo.

Desde então, o atual secretário de Segurança Antônio Ferriera Pinto vem deixando claro seu apoio a atitudes como aquela, que extrapolam o limite legal de atuação de policiais sob comando de sua pasta. Ele chegou a cumprimentar os policiais que prenderam a escrivã e relutou em demitir a corregedora Maria Inês Trefiglio, que dias depois do episódio vir a público foi defenestrada do cargo de confiança que ocupava pelo governador Geraldo Alckmin.

No dia 29 de maio passado, um episódio trágico revelou que as arbitrariedades continuavam sendo cometidas com o propósito de promover uma “faxina” a partir da eliminação física de pessoas com ou sem passado criminal. O caso ficou conhecido como a chacina do Bar Barracuda, em que uma equipe da ROTA, após a matança de cinco supostos traficantes, sequestrou, torturou e assassinou covardemente, em local ermo e distante da ocorrência, um homem sobre quem pesava a suspeita de ter assassinado um policial.

Esse episódio desatou uma reação do crime organizado desde sempre negada pela Secretaria de Segurança Pública. A partir de então, nove policiais militares foram executados brutal e covardemente pelos criminosos, em ações pontuais caracterizadas por assassinatos seletivos adredemente planejados. Todos eles estavam descaracterizados e foram pegos em horário de folga.

Na sequência dos acontecimentos, chacinas e “caravanas da morte” viraram lugar-comum na crônica policial, fazendo com que os índices de criminalidade disparassem em São Paulo. O resultado do enfrentamento só fez produzir mais e mais crimes, fazendo com que a sociedade se sinta cada vez mais enclausurada em bunkers domésticos  para fugir à sanha da violência.

Com a agudização da crise, os posts sobre o assunto se tornaram mais frequentes e as cobranças, mais rigorosas. Isso fez com que a maior parte dos leitores manifestasse, na área de comentários, opiniões divergentes da do editor deste blog. A despeito disso, as opiniões e as críticas continuam sendo veiculadas, até agora praticamente sem a necessidade de tornar a moderação mais rigorosa. Até o momento, apenas dois comentários injuriosos foram vetados.

Ocorre que muitos leitores, inclusive alguns que acompanham o blog há muito tempo, têm suspeitado de que o foco nos problemas da segurança paulista tem razões ocultas, de natureza eleitoral ou ideológica, o que absolutamente não é verdade. Desde seu nascimento, o Blog do Pannunzio adota uma postura crítica em relação aos abusos de qualquer natureza — morais, éticos, legais, de autoridade. O alvo do blog não é um governador, um governo, um partido. O alvo é o arbítrio, venha ele de onde vier.

A vida humana é o maior bem jurídico sob tutela do Estado. Nos dias de hoje, em São Paulo, há uma clara inversão de valores. Em nome da eliminação do crime organizado, muitos são os que acham que a polícia pode se arvorar o direito de aplicar sumariamente a pena de morte em que lhe convém. Foi o caso inequívoco do publicitário Ricardo Prudente,  morto porque furou um blitz policial. Foi o caso também do adolescente Bruno Vianna, morto em Santos pelo mesmo motivo. No incidente, três outros jovens saíram feridos a bala.

Não há coincidência entre as postagens e o cronograma eleitoral. Há, sim, coincidência com o recrudescimento da violência, pelo qual as autoridades constituídas têm o dever de responder. Deixar para abordar o morticínio somente após as eleições, pleito reiterado pelos eleitores tucanos, equipara-se ao casuísmo defendido pelos mensaleiros que só admitem ver o maior escândalo político da história do País ser julgado depois que o  voto tiver sido depositado na urna.

Apesar de considerar a política de segurança pública do atual governo uma lástima, o blog reconhece que o governador Geraldo Alckmin tem méritos em outras áreas. E, quando for o caso, sinto-me à vontade para elogiar o que merecer elogios e continuar criticando o que entendo ser incompatível com o respeito humano e a democracia.

O blog não está sozinho nessas críticas. Há uma parte da sociedade que, mesmo acuada, consegue ainda discernir que menos truculência e mais inteligência sem dúvida levariam a um resultado melhor na gestão do confronto entre a violência legítima e o crime organizado. Observe-se a posição do Ministério Público Federal. O posicionamento de ontem, em sintonia com diversas entidades que defendem os direitos humanos, é a melhor prova de que o embate ultrapassou todos os limites do suportável — e que tem surtido apenas efeitos deletérios, sem que se possa vislumbrar nada a não ser mais sangue no horizonte da guerra entre PM e bandidos.

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