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CNJ apura 39 casos de nepotismo no Judiciário

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) investiga 39 casos de nepotismo no Judiciário. Cada procedimento envolve contingente variado de contratados que não passaram pelo crivo do concurso público. A mais recente inspeção do CNJ apontou nepotismo em larga escala no Tribunal de Justiça da Paraíba – foram identificados 48 apadrinhados e outras 24 admissões estão sob suspeita. Desde que o nepotismo foi banido, em outubro de 2005, pela Resolução 7, o CNJ já abriu 203 processos relativos a nomeações violadoras do artigo 37 da Constituição, que trata da transparência, moralidade, honestidade e impessoalidade na administração pública.

Tribunais ainda relutam em acatar a diretriz do CNJ. “Há resistência às normas contra o nepotismo, não só no Judiciário como em toda a administração pública”, declarou o ministro Gilson Langaro Dipp, corregedor nacional da Justiça. Muitos casos de indicação e contratação de familiares de magistrados e servidores chegam ao conselho por denúncia anônima ou representação de entidades de funcionários do Judiciário que têm acesso aos expedientes. “Constatamos indícios de nepotismo nas inspeções que temos realizado nos Estados. São indícios não apenas de nepotismo como de nepotismo cruzado.”

Nepotismo cruzado é quando um magistrado emprega um filho de outro e este contrata parente daquele. Há Estados em que também há troca de favores entre desembargador e deputado – aquele admite parente do parlamentar que, por seu lado, emprega familiar do juiz. O recurso dificulta a identificação de apadrinhamentos com verba pública. “Estamos determinando aos tribunais que informem os detalhes de todo aquele percurso de grau de parentesco dessas pessoas, inclusive com agentes de outros órgãos da administração”, anotou o corregedor. Ele disse que a verificação no Judiciário da Paraíba “mostrou algumas boas práticas, mas outras tantas irregularidades já conhecidas”.

“Os tribunais estão assoberbados de servidores e a Justiça de primeiro grau lançada quase que à míngua de instalações físicas”, revela Dipp. O conselheiro do CNJ Felipe Locke observa que “há muitas pessoas que trabalhavam em cargos comissionados que são parentes de juízes e de desembargadores e algumas ainda tentam continuar fazendo o que é irregular”. Dipp reconhece dificuldades em mergulhar nas mazelas do Judiciário. “É difícil. Tínhamos uma cultura muito grande da falta de transparência, da sensação de que o Judiciário e nós, juízes, estávamos acima do bem e do mal. Esse estigma está sendo quebrado pelo CNJ que faz um grande esforço, muitas vezes incompreendido por alguns magistrados.”

Segundo ele, “com apoio da grande maioria dos juízes e simpatia da sociedade o conselho está conseguindo demonstrar que o Judiciário é um serviço público e que o juiz é um servidor público”. “Como integrante de um poder, o juiz tem o dever de prestar contas a essa sociedade para a qual ele presta serviços.” Dipp aponta a má distribuição de recursos como fator negativo do poder. “As verbas do Judiciário são insuficientes e esse dinheiro é pessimamente administrado. As dotações orçamentárias da Justiça nos Estados são pequenas e muito mal administradas.”

Para o ministro Gilmar Mendes, presidente do Supremo Tribunal Federal e do CNJ, existe “um ou outro ponto de resistência”. Ele atribui “essas situações a alguma imprevisão ou insegurança jurídica”. “Há dúvidas sérias que precisam ser dirimidas”, observa o ministro. “O CNJ vem tentando esclarecer questões, por exemplo, ligadas a cargos em comissão de alguém que já tem emprego efetivo, ou seja, que se submeteu ao concurso público”.

Segundo ele, o governo federal está preparando um decreto definindo regras contra o nepotismo em toda a administração pública. Mendes se reuniu com o ministro Jorge Hage, da Controladoria Geral da União. “O governo está elaborando decreto com base na súmula do Supremo, mas também tem suas dúvidas.” O presidente do STF disse que não acredita que “haja um quadro de resistência de forma genérica”. “Pode haver um ou outro tribunal, essa prática (nepotismo) havia se disseminado e era considerada normal. Até a correção, às vezes, reclama algum tempo.” Ele avalia que, a partir da Resolução 7, “houve um grande avanço, uma ruptura com esse tipo de prática”.

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