Ontem à noite este Blog divulgou, em primeira mão, que o funcionário do Senado que foi preso e continuou recebendo salário estava lotado no gabinete do senador Marco Maciel. Por uma questão de justiça, preciso restabelecer a verdade. O furo foi do repórter Felipe Recondo, que deu a notícia em maio passado em absoluta primeira mão.
A “novidade” foi alardeada da tribuna pelo senador Renan Calheiros anteontem, que requentou a notícia há muito publicada. Não havia novidade alguma. O caso, como mostra a reportagem, era há muito conhecido.
Mais sem sentido do que requentar a velharia é negar-se a dar o nome do senador pretensamente envolvido com um problema que, a rigor, já estava há anos resolvido. Foi disso que se valeu Calheiros ao ocupar a tribuna para tentar se livrar a responsabilidade de ter permitido a seu ex-assessor Rui Palmeira passar quatro meses na Austrália às custas do pagador de impostos.
Reproduzo, abaixo, a reportagem veiculada na edição de 7 de maio passado. Foi de onde Renan tirou o “segredo” que vendeu aos colegas como prova de que sua conduta em nada difere da geléia-geral em que ele pretende transformar o Senado. Se você preferir, clique na manchete para ler o original no site do Estadão.
Agradeço ao meu amigo Leandro Colon pela lembraça e pelo envio do link da reportagem.
Irmão de servidor preso recebeu salário por 5 anos
Também funcionário do Senado, Sílvio Esteves falsificava folha de ponto de condenado por latrocínio
Felipe Recondo
Condenado por roubo seguido de morte em 1991 e preso na Papuda, em Brasília, um funcionário do Senado – João Paulo Esteves – continuou a receber seu salário por cinco anos, mesmo sem aparecer no Congresso para trabalhar. Nesse período, conforme o Ministério Público, a folha de ponto de João Paulo era falsificada pelo irmão Sílvio Esteves, também servidor, ou sua presença era atestada por Maria Socorro Rodrigues, chefe do gabinete do ex-senador Joel de Hollanda (PE), na época do PFL, hoje DEM, onde João Paulo estava lotado.
O esquema só foi descoberto quando o juiz responsável pela execução da pena encaminhou ofício ao Senado para saber se João Paulo poderia voltar às atividades quando progredisse para o semiaberto, em 1996. Nesse intervalo, ele recebeu gratificações, férias e os adicionais pagos pela convocação extraordinária.
Além de lesar o irmão, segundo o Ministério Público, Sílvio também causou prejuízos à mãe, Leila Esteves Gonçalves. De acordo com a Lei 8.112 de 1990, a família do servidor público que é preso, mas não perde o cargo, recebe o equivalente à metade do salário a título de auxílio-reclusão. Sílvio foi não localizado pelo Estado.
Segundo o Ministério Público, o ex-senador e os responsáveis pelos recursos humanos não souberam da prisão do funcionário, mesmo o processo sendo público e diante da falta do servidor por mais de cinco anos.
DIRETORIAS
No início do ano, esse descontrole no Senado ficou evidente quando o número de diretores da Casa foi divulgado. Foi necessária uma investigação interna para chegar ao total de 181 diretores.
Dentre as descobertas estavam a diretoria de check in, para facilitar o embarque dos senadores nos aeroportos, e a diretoria de visitação, para acompanhar a visita de turistas ao Senado.