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A cama-de-gato na Lava-Jato

Tirando a família Batista, talvez não haja mais nenhum brasileiro hoje que ache que o prêmio oferecido pelo Ministério Público e aceito pelo Judiciário pela delação dos irmãos Wesley e Joesley não é excessivamente generoso.

Depois de corromper em escala industrial, os donos da JBS deram uma banana ao País e se mandaram para o exterior para usufruir de sua incalculável fortuna construída às custas do contribuinte brasileiro.

Mas daí a achar normal que o Ministério Público e o Judiciário podem levar alguém a se auto-incriminar, acordar um preço pela confissão e mudar tudo depois do acordo assinado vai uma enorme distância.

Essa autêntica cama-de-gato pode desmoralizar o instituto da delação premiada quase tanto quanto querem os políticos implicados na Lava-Jato e algumas eminências pardas do próprio judiciário.

Sim, porque neste momento há todo tipo de tramoia sendo armada para refrear o alcance das investigações e tirar da reta o traseiro dos que sempre estiveram a salvo de qualquer punição graças à ação auspiciosa do próprio Supremo, o tribunalzão amado por dez entre dez gatuno de colarinho branco.

Veja só quantas frentes de batalha se movimentam neste momento para atacar a Lava-Jato. Uma delas é coordenada no Congresso por gente da qualidade de um Aécio Neves, um Jáder Barbalho, um Renan, um Jucá e tem o apoio do Palácio do Planalto, hoje habitado por uma ampla freguesia da lava jato.

De outro lado, os generais Dias Tóffoli e Gilmar Mendes prometem botar fogo na jurisprudência que o Supremo alterou recentemente para pôr na cadeia condenados em segunda instância. A manobra já está em curso e Gilmar Mendes se ufana de patrocinar a esperteza urdida por Tóffoli. Se não houver uma gritaria geral, isso logo, logo vira fato consumado e a cadeia volta a ser uma perspectiva cada vez mais distante para todos os barões da corrupção. Exatamente como sempre foi,

A isso, somem-se os erros cometidos pela Procuradoria Geral da República, que estão ajudando a desqualificar o trabalho iniciado em Curitiba com toda a assertividade e competência. Aceitar provas sem perícia, negociar indultos e anistias disfarçados de premio para delatores, também não ajuda a dar qualidade ao processo de deputação da política e combate à corrupção.

Como se vê, o que não falta é gente disposta a desmoralizar o País para mantê-lo como sempre foi: bom demais para com ladrões de alto coturno, injusto demais para com todos os outros. Será uma pena se a oportunidade histórica se perder nas mazelas e contradições de um sistema que parece ter sido construído para blindar a malandragem e premiar a esperteza.

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