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Milicianos inundam a internet de pornografia para “defender a família”

Milicianos virtuais conhecidos como bolsomínions estão enchendo as redes sociais de imagens e videos pornográficos. O tsunami escatológico começou logo que o Presidente da República postou a célebre cena do golden shower. As imagens difundidas por seus seguidores — e também por robôs perfilados na infantaria virtual governista — repetem a mesma temática: são orgias sexuais em que há manipulação anal, sexo grupal e aberrações de toda natureza. Muitas vezes surgem misturadas a registros de performances artísticas, confusão que tem o objetivo de demonizar o nu, abominado pela direita religiosa.

Paradoxalmente, o exército de milicianos virtuais diz defender a família, a moral e os bons costumes. Mas quem se depara com as mensagens, que brotam aos milhares nos perfis de quem critica o governo, se choca com a vulgaridade e a tosquidão dos conteúdos. As cenas bizarras são sempre anexadas a posts públicos e acabam chegando a milhões de seguidores de perfis de grande popularidade.

Os destinatários são jornalistas, artistas, adversários políticos e militantes dos movimentos LGBT. As postagens reproduzem clichês disseminados pelo vereador Carlos Bolsonaro, que chefia a milícia virtual. “Imprensa lixo”, “vagabundos”, “canalhas”, “extrema-imprensa” são algumas das expressões que aparecem invariavelmente acompanhadas por xingamentos. Elas também funcionam como uma espécie de marcador do DNA da pornografia em rede, deixando claro de onde vem a inspiração para os ataques. O objetivo inequívoco é o de criar uma espiral do silêncio e calar quem não tece loas ao atual governo.

O uso intensivo da escatologia como munição para ataques políticos é uma novidade no mundo virtual. Palavrões e expressões chulas, no entanto, são empregados desde sempre. Foram eles que despertaram a cólera do Presidente. Na internet, hashtags com palavras ofensivas ficaram nos trending topics do Twitter durante todo o carnaval. E corais de milhões de vozes entoaram cânticos atrevidos em protesto contra Bolsonaro simultaneamente nos blocos carnavalescos.

Se não logrou afastar das redes os críticos do governo, ao menos um efeito a tática parece ter sido bem-sucedida: reduziu o patamar de civilidade em que se trava a guerra política levada a efeito pelos milicianos bolsonaristas, transformando o espaço das redes sociais numa espécie de território da barbárie. Para tanto, em muito contribuiu a inação do Twitter que, em caráter excepcional, deixou de aplicar a punição prevista em seus próprios estatutos quando Bolsonaro decidiu rebaixar o nível do debate com postagens pornográficas.

A primeira consequência é a vulgarização da política, seara em que ocorrem os combates movidos pelos novos cangaceiros da internet. Amplificadas pelo grotesco, as fake news ganharam um poder corrosivo ainda maior. Se antes ela já ocupavam um papel central em projetos de Poder da extrema direita , agora aparecem emulsificadas pela efeito dissuasório da escatologia oficial.

Com isso, perde-se a essência do legítimo debate político, o que leva o cidadão comum e respeitável a manter uma distância saudável dos psicopatas das redes, de seus robôs antissociais e dos jagunços virtuais. Ou seja: perde a democracia, ganham seus inimigos.

Essa constatação leva necessariamente a uma indagação central em tempos de conturbação cultural e ideológica. O que será preciso para o soerguimento da política: vencer o cangaço virtual travando o bom combate ou aderir ao processo, fazendo com que homens de boa índole se transformem em gladiadores da internet ?

 

 

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