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OEA vê possibilidade de diálogo em Honduras

A OEA (Organização dos Estados Americanos) acredita que o diálogo entre o regime golpista de Roberto Micheletti e o presidente deposto Manuel Zelaya pode se destravar com a chegada na semana que vem de uma comitiva de chanceleres da região.

Ontem, tanto o chileno John Biehl, enviado do secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, quanto diplomatas que estão no país ouvidos pela Folha afirmaram haver “sinceridade” nas manifestações em prol de diálogo vindas de Zelaya e de representantes de Roberto Micheletti, presidente golpista.

Biehl afirmou que já foi acertado “um chamado ao diálogo” e que conversações podem começar antes mesmo do dia 7 -quando está prevista a chegada dos chanceleres. “Aumentou a vontade de que se dê o diálogo para encontrar uma solução. […] A parte passional abriu espaço para muito mais racionalidade”, disse ele à agência France Presse.

Ontem pela manhã chegaram ao país seis enviados da OEA para preparar o encontro da próxima semana, entre eles os representantes da organização que haviam sido expulsos do país no domingo pelo regime golpista.

Diplomatas que estão em Honduras também acreditam que as negociações da próxima semana devem ser cruciais para construir um acordo que dê fim à crise iniciada com o golpe de Estado de 28 de junho. Mesmo assim, ainda não foi acertado um encontro frente a frente entre Zelaya e Micheletti.

O embaixador americano em Tegucigalpa, Hugo Llorens, disse ontem à Folha que a melhor saída para a crise continua sendo o Acordo de San José -que prevê a volta de Zelaya ao poder, sob condição de ele abrir mão de tentar uma reeleição, o que a cláusula pétrea da atual Constituição veta. “A comunidade internacional quer ajudar Honduras a resolver a crise política. É por isso que há esse extenso apoio internacional ao Acordo de San José, que é ainda a melhor solução”, disse ele. O embaixador afirmou que o decreto que instalou o estado de sítio “danificou liberdades civis como nada mais em um longo tempo aqui”.

Até o momento, os EUA têm pressionado o governo golpista com corte de recursos e cancelamentos de vistos. Entre as pessoas que tiveram seus vistos revogados estão Micheletti e outros dois ministros.

O governo americano suspendeu, até o momento, recursos ao país que somam, anualmente, US$ 17 milhões em assistência militar para as Forças Armadas, US$ 40 milhões destinados a ministérios para manter projetos nas áreas de educação, saúde e ambiental e outros US$ 15 milhões para construção de estradas e cumprimento dos objetivos do milênio. O país mantém, entretanto, recursos de assistência humanitária.

Mediadores acreditam que a volta de Zelaya legitimaria o processo eleitoral de novembro. Na prática, o presidente voltaria ao poder por pouco tempo, já que em janeiro passaria o cargo para aquele que sair vencedor das eleições.

Até o momento, os golpistas rejeitam a volta de Zelaya. Ainda na noite de quinta-feira, Micheletti, ao falar com jornalistas após receber deputados brasileiros, desdenhou a presença da OEA e pregou uma solução caseira.

Zelaya

Contrariando o discurso do representante da OEA, em suas primeiras declarações desde que se reuniu com Biehl, o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, disse que o diálogo com o governo interino “não é sincero” por causa do isolamento imposto à Embaixada do Brasil em Tegucigalpa, onde ele está refugiado há 13 dias.

“O diálogo que estão promovendo não é sincero, são só declarações”, disse, em entrevista coletiva nos jardins da embaixada -numa das raras vezes em que deixou a parte interna da casa.
“Estão permitindo visitas internacionais, mas não do povo hondurenho, que é o que nos interessa para estabelecer diálogo com o povo, diálogo com o regime golpista. As visitas internacionais eu receberia fora. Se vim aqui, é para poder me comunicar com as pessoas, com os empresários. Só deixaram passar os religiosos. Só deixaram passar os candidatos de extrema direita”, disse Zelaya.

Sobre a visita de chanceleres de países da OEA, na semana que vem, Zelaya disse que ela só ocorrerá caso seja aprovada uma agenda mínima entre os dois lados, o que não ocorreu até agora.

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