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Repórter da Itatiaia não aceita rótulo de “fantasma”.

A repórter Gabriela Speziali, da Rádio Itatiaia, não aceita ser rotulada como fantasma. “Eu trabalho muito. Já vivi em vários países”, diz a jornalista, indignada com a manchete deste Blog.

Gabriela foi nomeada para o gabinete do senador Wellington Salgado no dia 2 de Dezembro passado, dois meses depois de chegar a Brasília. Desde então acumula as funções de correspondente e assessora parlamentar, em situação análoga à de todos os seus colegas na sucursal brasiliense da rede de rádio mineira.

“Você não pode me confundir. Há pessoas e pessoas” , diz, em tom indignado, fazendo uma comparação entre o caso dela e o da jornalista Leid Carvalho, ex-correspondente da mesma emissora que admitiu jamais ter prestados serviços ao senador Hélio costa.

A equipe do Blog tentou contatar a repórter durante a tarde de hoje. Foram disparados vários telefonemas. Duas vezes ela atendeu. A mim, pediu quinze minutos, dizendo que ligaria de volta. A pergunta era clara: o que você faz no gabinente do senador Wellington Salgado ?

A repórter Fernanda Muylaert repetiu a mesma tentativa seis vezes. Gabriela ficou de retonar em cinco minutos e parou de atender aos telefonemas. Conseguimos estabelecer contato com ela depois de quase duas horas.

As explicações fornecidas pela correspondente mudaram conforme as conversas avançavam. Primeiro, ela me disse que trabalhava como assessora de imprensa do senador. Depois, falou que fazia gravações de peças de rádio. Confrontada com a informação de que o próprio senador havia negado ter, desde sempre, assessoria de imprensa ou um profissional encarregado do veículo rádio, a versão foi mudando.

“Eu faço textos em formas de release que alimentam um bancos de dados”, assegura Gabriela. Pergunto se os releases são publicados em algum lugar. “Não”, diz ela, categoricamente. “É um material produzido para a campanha”. Campanha de quem ? Ao que se saiba, Wellington não é candidato — é candidato a suplente de Hélio Costa, de que sem ufana de ter patrocinado a última campanha que, por vias trasnversas, o transformou em senador da República.

Pergunto à minha colega porque ninguém a conhece no gabinete onde está lotada. “Eu não cumpro expediente. Pra ser assessora não tem que bater ponto”, diz ela. É um argumento razoável, com o qual concordo. Não precisa ir regularmente. Mas a ponto de  ninguém ter a menor noção de quem é ela, que hipoteticamente trabalha no tal gabinete há mais de meio ano ?

A próxima indagação é sobre a rotina que justifica o salário de assessora parlamentar. “Quantas horas por dia você se ocupa de atividades do gabinete ?”. Gabriela não tem uma resposta pronta. Pergunto, então, se todos os dias ela dedica algum tempo à função. “Todo dia, não. Mas eu tenho uma rotina de trabalho”, diz ela.

Gabriela está preocupada e eu entendo sua ansiedade. Deve ser uma jovem repórter com muitos predicados. Não duvido de que ela trabalhe muito, como declara. Deve ser uma pessoa valorosa em busca de uma oportunidade séria na Capital da República. Oportunidade que ainda não encontrou. É muito difícil entender releases que não são publicados, versões que vão se adaptando aos argumentos da contradita, explicações que não parecem plausíveis diante do contexto inquestionável que dá conta de que todos os correspondentes de uma mesma cadeia de rádio estão sujeitos aos mesmos vícios éticos.

Mas estas podem ser conclusões apressadas. Enviei a Gabriela um questionário que ela se dispôes a responder. Comprometi-me a publicar na íntegra as respostas. E assim será. Não acho que ela esteja desprovida de qualquer qualidade que diga respeito ao caráter, ao respeito pela própria profissão, nada disso. Acho apenas que ela é vítima de uma condição muito parecida com a dos jornalistas do anos 50, que ganhavam uma miséria e tinham a autorização expressa dos patrões para encontrar outro meio de vida.

Nesse caso, jornalistas são vítimas. Mesmo quando aparentemente adquirem vantagens.

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