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Diretor-geral do Senado é acusado de agredir mulher e sogra

Da Revista Isto é.

Hugo Marques, Mino Pedrosa e Sérgio Pardellas

Lotado no Senado Federal desde 1986, Haroldo Feitosa Tajra foi o braço direito de todos os primeiros secretários da Casa desde a gestão de Carlos Wilson, em 2001. Lá, ajudou a administrar um Orçamento de R$ 2,7 bilhões por ano e esteve à frente de muitas licitações para contratação de empresas fornecedoras. Conhecia como poucos o funcionamento das nomeações e transferências de verbas feitas por intermédio dos chamados atos secretos, estopim para a sucessão de escândalos no Senado. Este ano, em meio à crise que apeou da diretoria-geral o até então todo-poderoso Agaciel Maia, Tajra foi indicado pelo atual primeiro secretário Heráclito Fortes (DEM-PI) como novo diretor do Senado.

A relação com Heráclito é antiga. Os dois são piauienses e suas famílias se conhecem há duas décadas. Haroldo é primo do primeiro-suplente de Heráclito, Jesus Tajra, que foi deputado pelo PFL, hoje DEM. Só que, nomeado há menos de um mês numa tentativa de pôr um ponto final aos desmandos e irregularidades cometidas no Senado, o novo diretor-geral já corre o risco de ter o mesmo destino do antecessor.

Conforme denunciou ISTOÉ em sua última edição, Haroldo é um dos expoentes da estrutura operada pelo servidor Aloysio Brito Vieira que o DEM montou para controlar com mão de ferro a primeira secretaria. Entre 2005 e 2008, atuou afinado com o primeiro secretário Efraim Morais (DEM-PB), que agora é acusado de receber R$ 300 mil mensais da Ipanema Empresa de Serviços Gerais e Transportes. Também foi frequentador assíduo das festas promovidas em Brasília pelo ex-primeiro-secretário Romeu Tuma (ex-DEM hoje PTB-SP) e seu filho Robson, o Tuminha, que durante a administração do pai, entre 2003 e 2004, tinha contatos frequentes com o grupo que organizava as licitações do Senado. Haroldo mantinha ainda um relacionamento estreito com o ex-diretor da Câmara Adelmar Sabino, que prestou consultoria a Tuma no período em que ele comandava a primeira secretaria. Graças a sua grande influência e capacidade de operar nos bastidores, Sabino passou 18 anos no comando administrativo da Câmara. Era uma espécie de Agaciel Maia de lá. Quando chegou ao Salão Azul, Sabino teve Haroldo como aliado de primeira hora, graças a sua boa relação com o empresariado.

O diretor-geral, no entanto, deixou marcas no passado que podem manchar o currículo de um alto funcionário público que ainda precisa ter seu nome aprovado em sabatina no plenário do Senado para manter-se num dos cargos mais importantes do Congresso Nacional. Os papéis que podem jogar luz sobre a personalidade do novo diretor, responsável por administrar a vida de dez mil servidores, estão protegidos por segredo judicial em um processo que tramita na 4ª Vara do Tribunal de Justiça de Brasília. Recheado de ocorrências policiais, fotografias e laudos do IML, o volumoso processo expõe um personagem destemperado. Dono de uma personalidade agressiva, o diretor-geral é acusado de ameaçar de morte e de espancar a ex-mulher, a sogra e a amante, além de coagi-las física e psicologicamente na tentativa de reaver parte de seus bens. “Ele já me agrediu enquanto eu segurava minha filha de três meses no colo”, denunciou à ISTOÉ sua ex-mulher, a descendente de árabes Cálida Ghazaleh Tajra, com quem Haroldo foi casado por dez anos e teve três filhos. De acordo com os autos, ela fez três queixas formais à Delegacia da Mulher em Brasília contra Haroldo, por lesão corporal e ameaças. As denúncias formais foram feitas entre 2000 e 2002. Em uma das ameaças, Cálida conta que ouviu do ex-marido: “Você se prepara, qualquer dia você vai cair dura no chão.”

As ameaças de Haroldo também foram feitas por escrito. Em 2006, Cálida encontrou entre os documentos do marido anotações redigidas pelo próprio reveladoras do seu comportamento agressivo. O texto diz o seguinte: “Ferrar com Cálida financeiramente para aplacar a minha ira. Conversar com a Ousseima antes da conversa com a Cálida”, numa alusão à ex-sogra. Os bilhetes ainda fazem referência à compra de uma arma: “Comprar uma arma – treinar antes do encontro fatal.”

Haroldo foi procurado por ISTOÉ na quarta-feira 15 para falar sobre o processo. Por intermédio da assessoria de imprensa do Senado, o diretor-geral disse que não iria falar sobre sua vida pessoal. Mas agiu nos bastidores para evitar que os processos ganhassem o conhecimento público. Até a quarta-feira, 15, o processo, registrado no TJ do DF com o número 2007.01.1.125284- 4, poderia ser acessado livremente por quem navegasse no site do tribunal. A partir de quinta-feira, no entanto, Haroldo conseguiu retirar seu nome da página do TJ na internet. No lugar, ficaram somente as iniciais de seu nome: “H.F.T.”. Todas as informações do processo, agora, estão em “segredo de Justiça”. O acesso está restrito às partes. Na sexta-feira, 17, Haroldo, por intermédio de sua assessoria, admitiu que sua separação foi “traumática” e em decorrência dela contraiu uma psoríase. Ele nega, no entanto, que tenha espancado a ex-mulher.

Cálida diz que em 2002, em meio à separação, cedeu às pressões de Haroldo para que convencesse a mãe, Ousseima Imad, a retirar uma denúncia contra ele, também por agressão. O acerto foi feito na presença de representantes do Ministério Público. “Minha mãe retirou a queixa porque eu estava grávida da Ana, minha filha. Não queria me separar dele. Pedi a ela para não levar adiante”, diz Cálida. Em troca, a ex-mulher esperava uma reconciliação. Mas não foi possível. Depois de nova agressão, Cálida e Haroldo se separaram. Mas a dor de cabeça não acabou. Ameaçada novamente por Haroldo, Cálida aceitou transferir 75% de todos os bens da família para ele. “Abri mão dos bens porque eu tinha medo dele”, disse à ISTOÉ. “Achei que fazendo isso eu e minha família teríamos paz, mas me enganei, não tive paz mais.” Além da quase totalidade dos imóveis, diz a ex-mulher, Haroldo ficou com os dois carros e com todo o dinheiro da conta bancária da família. Em 2007, Cálida impetrou na Justiça de Brasília uma ação contra Haroldo, em que pede assistência judiciária gratuita. Ela trabalha como secretária no Sindicato dos Delegados da Polícia Federal e ganha R$ 1 mil por mês. Cálida tenta se proteger na Justiça porque Haroldo, diz ela, agora quer metade do apartamento onde ela mora com os três filhos menores, no Setor Sudoeste, em Brasília. “Ele paga pensão de dois filhos, mas o dinheiro não dá”, diz ela. “A gente vive contando os centavos.”

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