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Desumanidade: hospital particular deixa paciente conveniado 24 numa cadeira do PS sem atendimento

Neuza Vieira de Barros tem 51 anos de idade, é hipertensa e tem uma alta taxa de glicemia. Ela é empregada doméstica da mesma família há 18 anos e paga desde sempre um convênio médico com a Medial Saúde, recentemente incorporada pela Amil. Gasta R$ 285 por mês com o plano de saúde.  Isso corresponde a quase 30% do salário que recebe. Ou seja: a cada três dias de trabalho, um é destinado integralmente à Medial.

Na última quarta-feira, Dona Neuza amanheceu com fortes dores nas costas e quase 40 graus de febre. Foi levada por seus patrões ao Hospital da Luz, em São Paulo, onde a acomodaram numa cadeira do pronto-socorro. Tinha contraído uma infecção urinária grave, segundo os médicos que fizeram o primeiro atendimento, e necessitava tomar antibióticos por via endovenosa para debelar o problema. As bactérias haviam atacado seus rins. O quadro era preocupante.

Neuza foi mandada de volta à recepção e se sentou na mesma cadeira. Não havia leito para interná-la. Os funcionários do Hospital da Luz disseram que ela teria que aguardar ali mesmo, pois não podiam liberá-la no estado em que se encontrava.

A espera durou inacreditáveis 24 horas. Ela varou o dia e a noite ali, imóvel, com dores horríveis decorrentes do quadro que se agravava. Uma médica receitou analgésicos para mitigar uma insuportável dor de cabeça, e foi só.

No dia seguinte, às 10 horas da manhã, ela estava cansada, combalida, com o corpo cobrando caro pela noite passada em claro na cadeira desconfortável. Não lhe ofereceram alimentos. Ela passou as 24 horas de seu calvário sem ingerir absolutamente nada. Então, decidiu implorar para o médico plantonista que a liberasse.

Entendendo a situação, penalizado e constrangido, o médico prescreveu um antibiótico por via oral e permitiu que ela saísse. Fez a ressalva de que o caso dela não seria resolvido com aquela medicação. Reiterou que ela necessitava receber o remédio por via endovenosa. Mas, diante da situação esdrúxula em que se encontrava, permitiu que ela saísse para tentar algo mais digno em outro lugar.

Dona Neuza voltou para casa. Estava um fiapo. Na manhã desta sexta-feira, acordou com 40 graus de uma febre renitente, que resistiu a doses cavalares de dipirona. Mal conseguia se mover na cama. Arfava com uma falta de ar que indicava o comprometimento das vias respiratórias.

Sua patroa ligou para a Medial Saúde e relatou o problema. Falou com a ouvidoria, recebeu um protocolo. E a garantia de que “tudo será apurado e uma solução encaminhada”. Em cinco dias.

Então, se sobreviver, Dona Neuza poderá finalmente saber porque teve que agonizar sem atendimento na cadeira do pronto-socorro.

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