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Secretaria de Segurança Pública de SP acoberta PMs corrompidos pelo PCC

O repórter Sandro Barboza mostrou agora há pouco, no Jornal da Band, algo estarrecedor: a Secretaria de Segurança Pública de são Paulo  estaria acobertando policiais militares que trabalham para o PCC — Primeiro Comando da Capital — apesar da farta documentação  produzida pela Divisão de  Inteligência do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) dando ciência do envolvimento de parte da tropa com a organização criminosa.

Os primeiros documentos divulgados hoje revelam que, embora informado de que PMs fazem jornada dupla como gendarmes do “Partido” (é assim que eles se referem ao PCC), o Secretário de Segurança Pública Antônio Ferreira Pinto mandou engavetar investigações sem que ninguém fosse punido.

O Departamento de Inteligência do DHPP vem produzindo informações sobre corrupção e crimes cometidos por policiais militares há muito tempo. Apesar de indicarem os desvios de conduta, os relatórios produzidos (chamam-se RELINTs – Relatório de Inteligência) não provocaram a abertura de inquéritos policiais e foram ocultados do Ministério Público, contrariando o que manda a lei, embora tenham sido encaminhados formalmente ao gabinete de Ferreira Pinto.

O secretário, egresso da PM, tem sido acusado  de transigir com excessos dos soldados enquanto aperta o torniquete da corregedoria  contra os policiais civis. No ano passado, ele atuou deliberadamente para arquivar a chamada Operação Pelada, denunciada por este blog e pelo repórter Sandro Barboza  no Jornal da Band (dentro de instantes vou publicar um post relembrando o caso).

Um dos investigadores da equipe do DHPP, entrevistado pelo repórter da Band, foi taxativo: segundo ele, o secretário foi informado dos crimes atribuídos aos PMs. Foi dele a decisão de arquivar os relatórios.

O caso conhecido hoje decorreu das investigações do assassinato do estudante Felipe Ramos de Paiva. Ele morreu em maio do ano passado dentro do campus da USP. Dois ladrões, Irlan Graciano Santiago, conhecido como Queirós, e outro mencionado apenas como  Lanlan, assumiram o crime e declinaram as razões: o estudante teria reagido ao assalto. O crime teve enorme repercussão e provocou o aumento do policiamento ostensivo na USP. A responsabilidade pelas rondas foi delegada ao 16º BPM.

Ao investigar esse crime, policiais civis do DHPP descobriram que Lalan e Queirós haviam se envolvido em outro assassinato. Eles executaram, a mando do PCC, um ladrão chamado Fernando Alvez de Oliveira, companheiro de “partido”. A execução foi determinada pelos chefes do PCC na favela San Remo, conhecidos como Irmão Peu, Irmão Caveira e Irmão Túlio. A  favela fica ao lado da USP. A vítima teria se desentendido com os líderes do PCC por causa da partilha de uma carga roubada de reagentes químicos que seriam utilizados para o refino de cocaína.

Ao investigar as conexões entre os cinco bandidos, o DHPP descobriu que os assassinos “sempre sempre praticaram roubos no interior da USP sem gerar consequências de maiores gravames, podendo ser reconhecidos pelas suas diversas e impunes ações dentro dos portões da Cidade Universitária”, conforme o RELINT nº 8/2011. A explicação para a impunidade: sua “periculosidade, as “fortes relações com o PCC ” e “por pagarem semanalmente elevados valores aos policiais militares que atuam na região”. Encaminhado ao gabinete do secretário Ferreira Pinto, esse relatório mereceu o mesmo destino de muito outros — a gaveta.

A afirmação de que policiais militares recebiam propina de bandidos que agiam dentro da USP não gerou nenhuma consequência. Apesar de alertado, o secretário nada teria feito para elucidar a denúncia. E ainda ampliou a participação do batalhão dos PMs sob suspeita na área de atuação dos bandidos que, supostamente, pagavam a eles por proteção e imunidade.

Certo é que os bandidos pareciam tão tranquilos que eram vizinhos de muro do batalhão — e ali mesmo, num beco lindeiro ao destacamento, desenvolviam sua atividade principal, o tráfico de drogas. As facilidades eram tão grandes que eles mantinham uma “biqueira”  (boca de fumo, ponto de venda de drogas) a poucos metros de distância do 16º BPM.

Não se sabe se o governador Geraldo Alkmin foi ou não comunicado por seu secretário dos problemas na vizinhahnças do Palácio dos Bandeirantes. A despeito de ter feitos várias tentativas de entrevistar autoridades do governo paulista — o secretário Ferreira Pinto e o próprio governador entre elas — o repórter da Band não conseguiu nenhuma fonte disposta a responder suas indagações.

O impacto da revelação é enorme. Diz respeito à próprio segurança de Alkmin. O 16º BPM é o responsável também pelo policiamento do bairro onde estão situados o gabinete e a residência oficial do governador. O  Morumbi, que concentra boa parte do PIB paulistano, tem sido sobressaltado diariamente por notícias de roubos a residências, a maior parte cometida com o uso de excessiva violência.

Talvez o desprezo aos relatórios de inteligência ajude a explicar a onda de violência que assola o reduto mais nobre da Zona Oeste de são Paulo. Se policiais recebem dinheiro para acobertar ladrões que atuam na maior universidade do País, não há como não inferir a possibilidade de que outras ações delituosas, praticadas por esses mesmos bandidos, não tenham sido igualmente protegidas pela ação da quadrilha encastelada na PM.

De acordo com o ex-Secretário Nacional Antidrogas Walter Mayerovitch, a descoberta de Sandro Barboza deixa a nu uma perspectiva assustadora: a de que o PCC, vitaminado pela corrupção que contamina a PM paulista, já tenha se imiscuído no Estado, contratando bandidos de farda para o cometimento de crimes que antes eram perpetrados por bandidos sem farda.

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