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Por que Dilma não se envolve mais com a CPI do Cachoeira? Porque não é burra!

Os últimos dias transcorreram sem que os observadores políticos recebessem um sinal claro do Palácio do Planalto sobre como seria a atuação do governo na CPI do Cacheira. O sinal, a despeitos da saraivada de palpites, não veio. Até aqui, os preparativos para a guerra congressual que se arma passam longe do gabinete da presidente Dilma Roussef.

A ausência de uma orientação mais evidente tem sido interpretada como sinal de apatia, falta de habilidade política ou de êxito em articulações engendradas nos sub-bastidores da política palaciana que transcorreriam longe dos olhos atentos da opinião pública. Talvez não seja nada disso.

Quando o tabuleiro começou a ser armado, o que se viu foram movimentos coordenados dos velhos atores de sempre. No ataque, Lula ressurgiu do leito hospitalar para uma posição proeminente. O PMDB, até agora aparentemente fora da seara dos negócios de Cachoeira, logo se posicionou como o grande mediador do processo de negociação que antecede esse tipo de evento político. Os partidos comprometidos foram para a defensiva. E o Palácio do Planalto ?

Nada. Nenhum sinal. Apenas uma declaração protocolar de que CPIs são problema do Congresso, e que a vontade dos congressistas deve ser respeitada.

Não é lícito supor que os desdobramentos dessa CPI não interessem ao Planalto. Eles interessam sim, e muito, na medida em que podem redefinir o papel das várias forças que compõem o arco de apoios ao governo. E também, talvez principalmente, o tamanho da oposição que restará ao governo  com a destruição de um de seus principais alicerces residuais — o DEM — e  o comprometimento de parte do PSDB, representada pelo governador Marconi Perillo.

Como entender, então, o aparente absenteísmo do governo neste momento crucial?

Talvez a resposta seja mais simples do que a complexidade do assunto sugere. Dilma Rousseff  emite sinais de que atua positivamente com uma atitude passiva. Ela já demonstrou que não tem dificuldade em se livrar de assessores comprometidos em escândalos de corrupção. Em seu primeiro ano de governo, defenestrou seis ministros e vários detenterores de posições importantes no segundo escalão. Ao contrário de Lula, defensor empedernido de todos os anjos caídos da República, Dilma não foi além das declarações protocolares em todos os casos que se apresentaram — à exceção de um deles, o que envolve seu amigo Fernando Pimentel.

Desta forma, operando com o passivo, conseguiu algo que em outros tempos (recentes) soaria impossível: se não promoveu uma faxina ética, ao menos logrou sanear sua equipe em (quase) todas as oportunidade que se apresentaram. Não pode ser “acusada” de ter movido uma caça às bruxas, mas efetivamente cortou a cabeça de algumas feiticeiras que a ocasião desnudou. Ao final, lucrou com isso — ou em parte por isso — um patamar de popularidade inédito na história, o que não é pouca coisa.

Quanto custaria ao Planalto assumir uma atitude de interferência ativa nesse processo? Embora não exista uma resposta clara, basta recorrer ao passado recente para se ter uma ideia do que poderia estar acontecendo neste momento de preparação para a guerra que se avizinha. O PMDB, para citar um único caso, jamais se prestou a qualquer tarefa por patriotismo ou altruísmo. As faturas são elevadíssimas e só fazem retroalimentar a máquina de produzir denúncias e ilegalidades.

De acordo com a cultura política contemporânea, quanto pior a situação do governo, melhor a de seu principal aliado. O PMDB sempre aproveitou bem todas as ocasiões que lhe permitiram atuar como um advogado criminalista diante de um réu preso: quanto mais grave o crime e mais sólidas as provas, maiores os honorários, mais drásticas as condições de pagamento.

Desta vez, a persistir o aparente absenteísmo, Dilma vai obrigar os mercenários do PMDB a agir por voluntarismo. Sem honorários, sem conta a pagar.  Quanto vale isso? Que o diga o governador Jaques Wagner: “não tem preço”!

Por último, há uma vantagem residual que pode antecipar uma luta interna do Partido dos Trabalhadores tendo em vista o pleito de 2014. Luta que, diga-se de passagem, foi deflagrada pelo ódio visceral com que Lula tem se movimentado como protagonista da cena da CPI do Cachoeira. Na iminência de ter sua versão sobre a inexistência do Mensalão desmascarada pelo STF, vendo seu mito ser implodido pelas ações silenciosas de sua própria criatura, antevendo o momento em que terá de confrontar a possibilidade de Dilma reivindicar para si o direito de disputar com ele a legenda para a próxima eleição presidencial, mais do que incomodado, Lula parece colérico e estabanado. Foi-se a racionalidade. O ex-presidente hoje merece a imagem caricata de um hipopótamos em loja de louça. Os cacos já estão visíveis: que o diga Agnelo Queiroz, obrigado a purgar solitariamente o inferno de suas próprias contradições.

Muitos dirão que esta é uma análise simplista e reducionista porque o governo simplesmente não atua desta forma. Mas parece evidente que, ao adotar uma postura passiva, Dilma Rousseff  não está abdicando do direito ou do dever de interagir com o processo político. Ao contrário: o lucro pode ser enorme. Deixar a cachoeira correr, evitar o represamento do dique dos negócios da jogatina e de suas implicações políticas deletérias, mais do que proveitoso, pode ser sinal de inteligência.

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