O ex-diretor da construtora Delta Cláudio Abreu foi preso ontem sob a suspeita de participar de um esquema de pagamento de propina para direcionar uma licitação para a empreiteira no governo Agnelo Queiroz (PT-DF).
Segundo as investigações, a Delta tinha interesse na prestação de serviços de bilhetagem do transporte público no Distrito Federal.
O plano era comprar equipamentos de uma empresa coreana, ou fazer parceria com ela, já que a Delta não tinha tecnologia nessa área.
Outro diretor da empresa que teve a prisão decretada, Heraldo Puccini, não havia sido localizado pela polícia até a conclusão desta edição.
A ação foi um desdobramento da Operação Monte Carlo, deflagrada pela Polícia Federal em 29 de fevereiro e que prendeu o empresário Carlinhos Cachoeira.
Em conversa gravada em junho do ano passado, Cachoeira fala com Claudio Abreu sobre a bilhetagem.
“É um negócio de sessenta paus por mês, e dá pra aumentar trinta por cento. Quer dizer, se a gente pegar um percentual do aumento na licitação é bom demais, então é bom você sentar com o cara e falar em nome da Delta porque aí pesa mais”, diz Cachoeira.
Abreu já foi afastado da Delta. O DF diz que o negócio não se concretizou.
A Operação Saint-Michel, executada pela Polícia Civil e pelo Ministério Público do DF, prendeu mais dois lobistas (o termo foi usado pela polícia), um vereador do PT de Anápolis (GO) e um ex-servidor do DF.
AFASTAMENTO
O empresário Fernando Cavendish anunciou ontem seu afastamento da administração da Delta, numa tentativa de preservar seus negócios com o setor público em meio às investigações sobre suas relações com Cachoeira.
A medida é parte da estratégia traçada por Cavendish para enfrentar sua provável convocação pela CPI instalada nesta semana para investigar as ligações de Cachoeira com o meio político.
Segundo interlocutores de Cavendish, ele acredita que ajudará a preservar os interesses da Delta se sair da linha de frente da empresa, o que permitiria que se apresentasse à CPI apenas como seu controlador, sem responsabilidade por suas decisões.
O empresário também estuda a possibilidade de reivindicar o direito de ficar calado na comissão para não correr o risco de produzir provas que o incriminem, se for convocado para depor.
Cavendish é o principal acionista da Delta, com 42% das ações da empresa, que foi fundada por seu pai há 51 anos. A companhia tem 195 obras em andamento no país, em contratos estimados entre R$ 3 bilhões e R$ 4 bilhões, e vinha encontrando dificuldade de conseguir crédito no mercado para dar continuidade a seu trabalho.
Em entrevista à Folha na semana passada, Cavendish disse que poderia “quebrar” por causa das acusações.
A empresa abandonou a reforma do Maracanã, obra em que era sócia da Odebrecht e da Andrade Gutierrez. A Petrobras negocia também, a pedido da própria empreiteira, a sua saída das obras do Complexo Petroquímico do Rio e da Refinaria Duque de Caxias.
via Folha de S.Paulo – Poder – Ex-diretor de empreiteira é preso, e presidente se afasta – 26/04/2012.