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BESTA também usou arapongas de Cachoeira. O que na Veja é crime, na Privataria é trunfo

Quem ler o livro “Privataria Tucana” vai encontrar, logo no primeiro capítulo, uma menção carinhosa ao Agente Dadá. Idalberto Matias de Araújo acabou se tornando um nome famoso no intróito da CPI do Cachoeira. Era ele araponga que, em outras circunstâncias, repassava a Veja informações auferidas pelo submundo da espionagem.

Amaury Ribeiro Jr., o autor do livro que se transformou em bíblia da BESTA (Blogosfera Estatal), relata que pediu a ajuda do espião, que trata como “amigo”, para descobrir quem eram os traficantes que assombravam a periferia de Brasília, inclusive com o assassinato de crianças. A investigação do assunto quase terminou em tragédia: Amaury foi atingido por um tiro enquanto investigava o crime organiado.

É no capítulo em que conta essa história, que felizmente terminou bem, que o autor apresenta o araponga. “Com a ajuda do amigo Idalberto Matias de Araújo, o agente Dadá, do Serviço de Inteligência da Aeronáutica (Cisa), consegui respaldo dos policiais para aprofundar ainda mais as investigações”, revela o repórter.

Dadá aparece em várias passagens do livro.  Depois de curado, já no jornal O Estado de Minas, quando passou a investigar um supostos esquema de espionagem de José Serra contra Aécio Neves, Amaury novamente recorreu aos préstimos do araponga.

“Ao receber a pauta, retomei logo o contato com “Dadá”. Queria que ele apurasse dentro da comunidade de informações quem eram os agentes engajados e atuando na pré‑campanha serrista para detonar Aécio. E chegou às minhas mãos um relatório da P2, o serviço secreto da Polícia Militar de Goiás”. Ou seja: Amaury pautou o espião — comportamento que é execrado pela BESTA  quando atribuído a outro Junior — o Poliocarpo de Veja.

A relação entre a fonte e o jornalista foi prolífica. ““Dadá” levantou que o trabalho de campo era liderado pelo funcionário da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Luiz Fernando Barcellos. Conhecido como “agente Jardim”, Barcellos teria sido levado para o grupo de inteligência de Serra pelo deputado Marcelo Itagiba (PSDB/RJ), também delegado da Polícia Federal e casado com uma prima do tucano Andrea Matarazzo, amigo de Serra há muitos carnavais”, como descreve Amaury.

Depois desse episódio, Dadá reaparece noutro momento crucial da vida do autor da Privataria. Foi quando ele apresentou o “amigo” a Luiz Lanzetta, que posteriormente foi afastado (ou se afastou) da campanha de Dilma Rousseff sob suspeita de ter coordenado a montagem de um grupo de inteligência criado para produzir dossiês contra adversários da já candidata petista.

Amaury e Lanzetta negam peremptoriamente que estivessem implicados em espionagem. Afirmam que foram vítimas de uma armação do “Grupo Paulista” do PT, que patrocinava um intenso fogo amigo de artilharia contra os coordenadores da campanha. Mas o autor não nega que tenha, mais uma vez, se valido dos préstimos de Dadá, como relata no trecho que reproduzo abaixo:

“Falava‑se algo em uma reunião e, no outro dia, a informação estava estampada nas colunas dos jornais. Nesse ambiente crivado de ciladas, Lanzetta procurava um escudo para sua empresa e para si próprio. Queria a minha ajuda.

— Caro, você conhece todos os arapongas desta cidade. Eu não sou da área — sintetizou.

Ele me disse também que estava consultando com Danielle Fonteles, dona da Pepper, algumas firmas de segurança indicadas por conhecidos. Desconfiava‑se de grampos e de infiltração de pessoas. A casa era grande e devassada. E frequentada por muita gente. As ações poderiam vir de qualquer lado. Tanto dos adversários, o que seria “legítimo”, quanto de dentro, de gente querendo abrir espaço na marra. Pintado esse quadro, fui à Brasília procurar o ex‑sargento da Aeronáutica Idalberto Matias de Araújo, o “Dadá”. Levei‑o ao “bunker” da QI‑05″.

A história terminou mal para todo mundo. Amaury conta em detalhes o que se sucedeu no comando da campanha. Dadá, segundo ele, não chegou a prestar nenhnum tipo de serviço para o comitê da campanha petista.

O objetivo deste post não é o de criticar Amaury Ribeiro Jr. Tenho por ele muito respeito e reconheço a importância de seu trabalho, muitas vezes justificadamente premiado. Não quero fazer nenhum juízo de valor sobre a Privataria Tucana porque, a rigor, a qualidade do livro não está em questão neste momento.

O que compete é demonstrar que o uso dessas fontes contaminadas não é privilégio de uma ou outra corrente do jornalismo contemporâneo. Dadá e seu esquema foram fontes de Veja e da Privataria. Ou do PIG e da BESTA, que indubitavelmente chegou a pautá-lo muitas vezes.

Cabe ao leitor fazer a sua análise sobre os aspectos éticos, a natureza e os objetivos dessas relação. A única coisa que não é possível é criminalizar em alguns o comportamento que se atribui como mérito a outros jornalistas.

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