Pannunzio Comunicação – Blog do Pannunzio

A dolorida e imperiosa prática da liberdade de expressão

O Blog do Pannunzio tem sido instado a exercer com mais rigor a moderação dos comentários para evitar ataques de antagonistas das posições que defendo nestas páginas. Reconheço que permitir o contraditório é uma tarefa espinhosa e muitas vezes dolorida. Não é fácil para ninguém ser contrariado.  E quem age assim está permanentemente ameaçado de se ver desautorizado por argumentos mais sólidos — ou menos equivocados — do que os que orientam suas próprias convicções.

Em suma, é preciso ter coragem para admitir, assumir e expor erros de apuração. É preciso ter estômago para ler, dentro dos domínios de seu espaço pessoal de manifestação, contestações que muitas vezes beiram a afronta. É preciso ter discernimento para separar a injúria da lógica argumentativa genuína. É preciso ter sabedoria para mudar de ideia, quando for o caso. E, mais importante do que tudo, é preciso entender e respeitar a diferença, o que só é possível dentro de um ambiente verdadeiramente democrático.

Em suma, não é fácil resistir à tentação de encerrar uma conversa e apertar a tecla “trash”, enviando para o lixo os comentários que não reverberam a minha maneira de ver o mundo.

Não é fácil, mas é absolutamente necessário.

O jornalista, mesmo que muitas vezes não o saiba, é portador de um mandato outorgado pela sociedade para que o sujeito possa, por seu intermédio, aceder à plena cidadania, tornando-se efetivamente cidadão . Esse mandato está expresso no décimo-quarto inciso do Artigo 5º da Constituição de 88. Ele prescreve que “é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional”.

Não é necessário fazer a exegese do texto constitucional para entender que, se alguém tem um direito, outrem tem uma obrigação. A obrigação de informar cabe à Imprensa, instituição basilar em qualquer democracia que se preze. Tão fundamental quanto qualquer um dos Poderes sobre os quais o Estado se alicerça – Legislativo, Executivo, Judiciário.

Ao criar a obrigação institucional, a Constituição alinhava salvaguardas para que a Imprensa exerça seu papel sem entraves decorrentes das tentações autoritárias. Aí estão a proibição à censura prévia, à discriminação por raça ou orientação ideológica, o postulado da livre manifestação do pensamento.

As salvaguardas, no entanto, não se prestam apenas para assegurar a incolumidade do jornalismo. São, e esse é com certeza seu mais importante papel, armas que o Estado oferece ao cidadão para garantir-lhe o direito de se informar.

O estatuto que permite a qualquer um expressar livremente o pensamento confere ao jornalista o direito à crítica, que vem sendo sobejamente reconhecido pela jurisprudência e pela doutrina sempre que o Poder Judiciário é chamado a opinar sobre o assunto. Mas não apenas a ele. O leitor, que a mudança de paradigma tecnológico transformou em sujeito ativo na dinâmica da comunicação social, também está assistido pelos mesmos direitos.

É esta a orientação que imprimi aos conteúdos produzidos pelos comentaristas. O objetivo é criar um espaço realmente democrático para a discussão de temas políticos que conformam o escopo temático do Blog do Pannunzio. O que inclui a necessidade, muitas vezes dolorida, de admitir o contraditório.

O blog vai além disso. Sempre que posso, dialogo com o leitor no espaço de comentários. Sei que não é algo usual entre blogueiros, que preferem o corpo da página principal de seus sites para se manifestar, criando assim um desnível na relação com o universo de leitores. Em contrapartida, muitas vezes os comentaristas ocupam a página central dos artigos, numa inversão que considero salutar e desejável.  Mesmo quando a polifonia das críticas supera o sussurro laudatório.

Quem acompanha o meu blog há mais tempo sabe que essa orientação nunca mudou. Ele existe desde 2009 e não deixou de noticiar e assumir posições sobre os temas mais polêmicos que eclodiram nesse período. Houve casos em que a maioria esmagadora dos leitores discordou da minha argumentação. Para ilustrar essa situação, cito especificamente a defesa que fiz do meu colega Boris Casoy quando do vazamento da frase infeliz sobre os lixeiros. Quem se der ao trabalho de perscrutar os comentários a dois posts em que tratei do assunto vai entender exatamente o que digo. Basta clicar sobre o link aí atrás.

Tenho um grande apreço pelos comentários também por razões mais egoísticas. Boa parte do prestígio obtido por esta página eletrônica decorre justamente da participação democrática dos comentaristas. A confrontação no plano das idéias cria um debate lúcido — embora algumas vezes áspero — que contribui para expor não apenas a opinião do blogueiro, mas toda a gama de opiniões suscitada por temas de grande repercussão .  Desta forma, meus leitores não ficam obrigados a concordar com o que expresso, pois podem eles mesmos formar juízos de valor muito mais ricos, sólidos e menos erráticos.

Por esta razão, preciso de apenas cinco palavras para explicar o que define o critério que me faz distinguir entre o que vai para o lixo e o que é estampado na área de comentários: injúria, difamação, calúnia, desqualificação do oponente. Para todo o restante, ficam meus agradecimentos pelo trabalho ativo dos leitores que  recusam a passividade contemplativa e se transformam em comentaristas.

Tenho muito respeito pelo que eles escrevem, mesmo quando o fazem para discordar do que é escrito por mim. Para estes, o espaço na área de comentários estará sempre aberto.

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