ANDREZA MATAIS, JOSÉ ERNESTO CREDENDIO E RUBENS VALENTE
Em duas horas e 23 minutos, o empresário Carlinhos Cachoeira disse ontem 30 “nãos” a 60 perguntas feitas por oito congressistas e esvaziou a mais aguardada sessão da CPI que o investiga.
Alegando que pretende se manifestar antes na Justiça, ele disse que tem “muito a dizer”, mas saiu sem responder a nenhum questionamento e afirmou que só estava ali por que foi forçado a comparecer.
“Quem forçou foram os senhores”, disse Cachoeira, ao justificar seu comportamento. “Estamos aqui perguntando para um múmia, uma pessoa que não quer responder”, afirmou a senadora Kátia Abreu (PSD-TO), que sugeriu o encerramento da sessão e teve sua proposta acolhida.
Cachoeira foi chamado por integrantes da CPI de “bandido”, “marginal”, “arrogante” e “criminoso”. Em alguns momentos, sorriu discretamente ao ser questionado.
Preso desde 29 de fevereiro sob acusação de explorar jogos ilegais e comandar um vasto esquema de corrupção, Cachoeira saiu ontem pela primeira vez do complexo penitenciário da Papuda, sob forte esquema de segurança.
Acompanhado pelo ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, seu advogado, Cachoeira foi acomodado numa mesa lateral na CPI, por sua condição de presidiário.
O senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) foi o único que lhe apertou a mão. A mulher de Cachoeira, Andressa Mendonça, acompanhou tudo no fundo da sala.
Nervoso e com aparência envelhecida desde sua última aparição em uma CPI, há sete anos, Cachoeira indicou sua disposição logo de cara.
“Fui advertido pelos advogados a não dizer nada e não falarei nada aqui”, disse. “Somente depois da audiência que terei com o juiz, se achar que posso contribuir. Podem me chamar que responderei a qualquer pergunta.”
DEBOCHE
Cachoeira contrariou os parlamentares várias vezes, e algumas de suas falas foram interpretadas por eles como sinal de deboche. Kátia Abreu o acusou de cínico.
“Vou te ajudar demais, é outra pergunta muito boa para responder depois disso”, disse Cachoeira em uma das ocasiões. “Tenho muito a dizer depois da minha audiência, pode me convocar.”
Cachoeira será ouvido na Justiça de Goiás no dia 1º de junho. A CPI decidiu convocá-lo novamente depois disso, mas seu advogado disse que ele poderá ficar calado novamente se comparecer.
Beba na fonte: Folha de S.Paulo – Poder – Cachoeira se cala na CPI, mas afirma ter ‘muito a dizer’ – 23/05/2012.