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Explicações que não explicam numa nota que não diz nada

Reproduzo a seguir a nota do Instituto Lula sobre a reunião em que o ex-presidente assediou o ministro Gilmar Mendes. Vou tecer minhas considerações em seguida e pedir a atenção de vocês a alguns detalhes. Primeiro leiam com atenção o “desmentido” do Instituto Lula.

Sobre a reportagem da revista Veja publicada nesse final de semana, que apresenta uma versão atribuída ao ministro do STF, Gilmar Mendes, sobre um encontro com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no dia 26 de abril, no escritório e na presença do ex-ministro Nelson Jobim, informamos o seguinte:

1. No dia 26 de abril, o ex-presidente Lula visitou o ex-ministro Nelson Jobim em seu escritório, onde também se encontrava o ministro Gilmar Mendes. A reunião existiu, mas a versão da Veja sobre o teor da conversa é inverídica. “Meu sentimento é de indignação”, disse o ex-presidente, sobre a reportagem.

2. Luiz Inácio Lula da Silva jamais interferiu ou tentou interferir nas decisões do Supremo ou da Procuradoria Geral da República em relação a ação penal do chamado Mensalão, ou a qualquer outro assunto da alçada do Judiciário ou do Ministério Público, nos oito anos em que foi presidente da República.

3. “O procurador Antonio Fernando de Souza apresentou a denúncia do chamado Mensalão ao STF e depois disso foi reconduzido ao cargo. Eu indiquei oito ministros do Supremo e nenhum deles pode registrar qualquer pressão ou injunção minha em favor de quem quer que seja”, afirmou Lula.

4. A autonomia e independência do Judiciário e do Ministério Público sempre foram rigorosamente respeitadas nos seus dois mandatos. O comportamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o mesmo, agora que não ocupa nenhum cargo público.

Assessoria de imprensa do Instituto Lula

Agora, alguns elementos de informação para que vocês possam, além do texto, entender o contexto.

1 – A nota não é de Lula, é do Instituto Lula. O autor usa o verbo na terceira pessoa do plural. Confira no fim do primeiro parágrafo: “informamos o seguinte”…

2 – A nota afirma que “o teor da conversa é inverídica (SIC)”. Mas não é Lula quem diz, e sim a assessoria do Instituto Lula.

3 – O alvo da nota não é Gilmar Mendes, é a Revista Veja (“a reportagem da revista Veja publicada nesse final de semana, que apresenta uma versão atribuída ao ministro do STF, Gilmar Mendes”).  A versão não foi atribuída. Gilmar Mendes a confirmou ao Consultor Jurídico, ao Estadão, ao Zero Hora e à Rede Globo. Portanto, o alvo do desmentido está dolosamente equivocado.

4 – Lula rigorosamente não desmente Gilmar Mendes. Há duas declarações entre aspas. A primeira trata da indignação do ex-presidente (“Meu sentimento é de indignação”). A segunda faz referência ao passado, ao convívio de Lula com o STF ao tempo em que era presidente da República: ““O procurador Antonio Fernando de Souza apresentou a denúncia do chamado Mensalão ao STF e depois disso foi reconduzido ao cargo. Eu indiquei oito ministros do Supremo e nenhum deles pode registrar qualquer pressão ou injunção minha em favor de quem quer que seja”. Portanto, Lula não desmente Gilmar Mendes em nenhum trecho das declarações que lhe são atribuídas. De novo, quem desmente é a nota do Instituto Lula.

A seguir, no próximo post, você vai entender por que Lula não pode dar uma declaração cabal, ao seu estilo, e sepultar o assunto. Aguarde alguns minutos e você vai saber onde está o nexo que vincula a entrevista de Gilmar ao Zero Hora e a posição tíbia de Lula.

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