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As respostas para as suas dúvidas

Por Ricardo Noblat

Por que Lula pediu a Nelson Jobim para patrocinar seu encontro com Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF)?

Lula fora informado – mal informado – sobre uma série de viagens que Gilmar fizera na companhia do senador Demóstenes Torres (GO-sem-partido). Disseram-lhe que algumas – inclusive uma a Berlim – haviam sido financiadas pelo bicheiro Carlos Cachoeira.

Para Lula, o julgamento do mensalão do PT é o julgamento do seu governo pela Justiça.

A saída honrosa da presidência da República perderá parte do seu brilho se os mensaleiros forem condenados.

Um Gilmar em débito com a ética por ter viajado à custa de um contraventor seria uma presa fácil para Lula.

O controle político da CPI de Cachoeira está nas mãos de Lula, segundo ele próprio repetiu diversas vezes durante a conversa com Gilmar. Lula estava disposto a salvar Gilmar de constrangimentos. Em troca… Sabe como é.

Deu errado.

Gilmar coleciona os comprovantes de que ele e o STF pagaram a viagem a Berlim, onde mora uma de suas filhas. Antes ele passou por Granada, na Espanha, para participar de um seminário como palestrante.

O que Gilmar não disse a Lula foi que voou duas vezes a Goiânia a convite de Demóstenes e em jatinho arranjado por ele.

Quem pagou o aluguel do jatinho?

Em um dos grampos executados pela Polícia Federal, Demóstenes foi flagrado pedindo um jatinho a Cachoeira para transportar um ministro do STF.

Por que somente depois de um mês Gilmar resolveu tornar público seu encontro com Lula?

Gilmar sentiu-se humilhado por ter dado satisfações a Lula a respeito de sua viagem a Berlim. Ele e a mulher Guiomar eram amigos do casal Lula-Marisa. Jantaram no Palácio da Alvorada algumas dezenas de vezes. Gilmar calcula que ele e Lula se encontraram mais de 100 vezes num período de oito anos.

Em duas ocasiões, pelo menos, Gilmar salvou petistas de sérios apuros no STF.

Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda, foi um deles. Acusado de mandar quebrar o sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos, testemunha de suas frequentes idas a uma alegre mansão do Lago Sul de Brasília, Palocci acabou absolvido com o voto de Gilmar.

Por mais de um ano, Gilmar sentou-se em cima do processo que apontava Aloizio Mercadante como beneficiário da ação dos aloprados – funcionários da campanha de Lula à reeleição em 2006 que forjaram um dossiê para prejudicar as campanhas de Serra ao governo de São Paulo e de Alckmin à presidência da Repúbica. Aloizio safou-se.

Tamanha ingratidão machuca, não é?

Assim, no dia seguinte à reunião com Lula no apartamento de Jobim, Gilmar procurou o advogado Sigmaringa Seixas e revelou-lhe o que tinha ocorrido. Pediu para que a presidente Dilma Rousseff fosse informada a respeito.

Estava magoado com Lula, mas ainda decidido a engolir em seco a humilhação.

Aí se deu uma reviravolta. Gilmar ficou sabendo por meio de um jornalista que Lula, mesmo depois do que ouvira dele, continuava dizendo que Gilmar viajara, sim, com Demóstenes a expensas de Cachoeira.

O caldo entornou. Gilmar temeu ser alvo de ataques do PT na CPI de Cachoeira. Vacinou-se tornando pública sua versão do encontro com Lula.

Por que Jobim desmentiu a versão do encontro publicada pela revista VEJA e avalizada por Gilmar?

Se tudo se passou conforme o relato de Gilmar, Lula teria incorrido em crime de tentativa de obstrução da Justiça.

Gilmar afirma que Lula lhe dissera que encarregaria o ex-ministro Sepúlveda Pertence de convencer a ministra Carmem Lúcia a contribuir para o adiamento do julgamento do mensalão.

O ministro José Antônio Dias Toffoli hesita em votar. Foi Advogado-Geral da União durante parte do governo Lula e assessor do ex-ministro José Dirceu.

Lula confidenciou que orientara Toffoli a votar, sim senhor.

Por fim, Lula anunciou que procuraria para uma conversa o ministro Ayres Brito, presidente do STF. Queria tomar um vinho com Britto juntamente com o jurista que foi padrinho de sua indicação para ministro.

Jobim tinha duas maneiras de confirmar a versão de Gilmar. A direta: simplesmente confirmando-a sem restrições. A indireta: alegando que não assistira parte da conversa.

Ficaria mal com Lula se escolhesse qualquer uma das maneiras. Se escolhesse a maneira direta, poderia ser apontado como cúmplice de tentativa de obstrução da Justiça.

Desmentir Gilmar não custou a Jobim apenas a amizade de Gilmar. Custou uma fatia de sua credibilidade. Porque o desmentido foi acompanhado de uma mentira.

Ao repórterJorge Bastos Moreno, Jobim afirmou que o encontro de Lula era com ele. Que Gilmar apareceu em sua casa por coincidência. “Gilmar não sabia que encontraria Lula”, disse.

Em entrevistas a outros jornalistas, Jobim contou que Clara Ant, secretária de Lula, lhe telefonara três dias antes do encontro dizendo que Lula queria vê-lo e pedindo para que chamasse Gilmar.

Jobim telefonou para Gilmar e o convidou. Gilmar aceitou na hora. Não estivera com Lula desde que ele se descobrira portador de um câncer na laringe.

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