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A foto que pode custar a derrota de Haddad

A foto acima bem poderia servir como o epitáfio da política brasileira. Nem tanto por Haddad, um jovem cheio de qualidades e ainda idealista que apenas agora se apresenta ao eleitorado. Na cena, ele ocupa uma posição secundária. Análoga, aliás, à sua condição na campanha que se inicia. Os dois protagonistas são mesmo Lula e Maluf.

“Donde qualquer coisa se espera, daí é que sai tudo mesmo!”, teria dito o Barão de Itararé. A despeito da incredulidade dos que, até a semana passada, juravam que Lula e Maluf eram como água e óleo.

Pois Lula conseguiu o prodígio de unir-se ao seu anverso, tangido pela conveniência de consolidar a candidatura da qual é padrinho, artífice e tutor. Era só o que faltava.

Ontem, no Band Eleições, Haddad estava com o semblante carregado, não sorria como sorri sempre. E tinha motivos para estar alegre: finalmente sua curva de popularidade fletiu,  saiu do traço para iniciar uma previsível ascensão, catapultando sua candidatura para um lugar onde se espera que ela esteja. Mas não: havia mais motivos para preocupação do que para qualquer tipo de comemoração.

No estúdio ele nos contou que o mote da campanha vai ser construído em cima da palavra “novo”, um bordão que se encaixa bem com sua figura. Mas o que dizer do “novo”que é avalizado por Paulo Maluf ? Que novidade é essa ?

A novidade, ontem, era a sapituca de Luiza Erundina, que de “novo” também não tem nada — além do fato de ter aceitado reconciliar-se com o partido que a expulsou quando ela decidiu apoiar Itamar Franco. Depois de declarar ao jornal O Globo que não aceitaria ser vice de uma chapa apoiada por Maluf, Erundina desligou o telefone e desapareceu. Até o fim da gravação do programa da Band, Haddad ainda não havia conseguido falar com sua vice.

“Não se pode fulanizar essa questão”, disse o candidato do PT durante a entrevista. Para ser lembrado em seguida por Fernando Mitre de que quem fulanizou o problema foi Luiza Erundina. Para o candidato do PT à prefeitura paulistana, a companhia indigesta de Maluf se justifica pela necessidade de ampliar o arco de alianças que irá sustentar a candidatura do PT. Mas ele repetia isso como quem pede desculpa, não com a ênfase de quem ganhou um aliado importante.

Esta é a primeira eleição que o ex-ministro da Educação disputa. Inexperiente, tem sido guindado a uma série intermivável de erros por seu padrinho. É de Lula, e não de Haddad, que a militância crédula precisa cobrar coerência. É a Lula que devem ser debitados todos os problemas da estratégia petista, uma vez que ele se arroga maior que o  o partido e decidiu tomar as rédeas do processo.

Pode-se afirmar sem medo de errar que a própria candidatura Haddad é produto da onipotência de Lula. O candidato natural, Marta Suplicy, ficou na estrada quando ele interveio na disputa interna e sacou da cartola o ex-ministro, repetindo a estratégia que adotara para inventar Dilma Rousseff.  Ao criar a “novidade”, o ex-presidente enfiou a ex-prefeita no saco das velharias das quais convém dispor em nome de uma suspeita renovação.

O que aconteceu a partir de então ? Marta Suplicy não aceitou o desaforo. Desapareceu dos compromissos públicos de uma campanha que deveria ser sua. Humilhada, não permitiu até hoje um registro como a foto estampada no alto deste post.

Lula não esteve no ato em que foi selada a aliança com o PSB, mas fez questão de ir à casa de Maluf para marcar a entrada do PP na Arca de Noé petista. A ausência, confrontada com o entusiasmo evidente ao final da conversa com o ex-prefeito e ex-governador paulista, ajuda a criar um conjunto de símbolos muito representativo da decadência do PT como partido ideológico.

Se já não há mais um ideal a defender, restou aos petistas como alento um projeto de poder. Isso fica evidente nos últimos movimentos de seu líder máximo. Para defendê-lo, Lula tem feito ginásticas inimagináveis para um político experiente.  A julgar pelas críticas que vem recebendo da própria militância, pode-se bem traduzir esses malabarismos por bobagens inexplicáveis.

As manobras de Lula têm funcionado como um forte elemento de dispersão dentro e fora de seu partido. São desagregadoras, uma vez que tiveram o condão de afastar uma militante da importância de Marta Suplicy e uma aliada de última hora do quilate de Luiza Erundina. Ou seja: provocaram perdas muito maiores do que o ganhou residual, que se reduz a um tempo maior de exposição de seu candidato no horário eleitoral.

Se vai dar certo ou não, o tempo e os eleitores dirão. A julgar pelos humores do próprio Haddad e de seus assessores na noite de ontem, tudo indica que o prejuízo é enorme. E significativo a ponto de impedir que a primeira boa notícia da temporada — a saída do fosso das pesquisas eleitorais — fosse abafada pela repercussão negativa do encontro Lula-Maluf.Por enquanto, a cada movimento estabanado do ex-presidente cria-se uma frustração entre próprios petistas. Só quem teve algo a comemorar até agora foram seus adversários.

Pelo que se viu até aqui, teria sido melhor se Lula se conformasse com seu papel de ex-presidente. Pelo menos estaria a salvo da chacota e das críticas suscitadas pela evidente falta de racionalidade e limites. E da responsabilidade de ter que explicar, no futuro, por que decidiu tão enfaticamente sepultar as chances de vitória do candidato que ele mesmo inventou.

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