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Cadê os 30% de petisas no eleitorado de SP ?

Fernando Haddad é um cara simpático. Parece bem-intencionado. É bonitão, causa furor entre as mulheres por onde passa. Mas não consegue transformar sua simpatia em votos. Está atolado no ridículo percentual de pouco mais de 5% desde que sua candidatura foi imposta pelo ex-presidente Lula.

Diz um dos bordões da política que o eleitorado petista representa 30% dos eleitores paulistanos. Pergunto: onde estão esses 30% que não aparecem nas pesquisas ?

Podem dizer que a pergunta é extemporânea. Deveria ser feita mais à frente, quando a campanha já tiver sido embalada pela propaganda na televisão. É verdade que só o início da propaganda eletrônica vai definir o cenáio. Mas o tabuleiro já está montado. E, ao contrário do que se passa com o postulante petista, os demais já começaram a ver suas curvas eleitorais sofrendo os efeitos da reflexão dos eleitores.

Não se pode atribuir a estagnação inicial de Haddad à falta de divulgação de sua candidatura. Embora seja ainda pouco conhecido da população, o ex-ministro já foi exposto em várias oportunidades criadas por seu patrono Lula. O Programa do Ratinho, por exemplo, foi mais do que uma peça de campanha — foi campanha desabrida endereçada ao público que se supõe cativo das peripécias de Lula, as classes D e E. Mas não se nota nenhum efeito de tradução desse esforço inicial em votos.

Há algumas possibilidades que devem ser consideradas nas especulações sobre os motivos. A primeira delas é a de que talvez Lula não seja mais o cabo eleitoral que se supunha. As bobagens que tem feito, o excesso de intromissão nas definições partidárias, o culto à sua própria personalidade podem ter provocado um estrago enorme nos poderes mágicos do Midas eleitoral que conseguiu transformar Dilma em Presidente da República.

O erro mais crasso com certeza foi o acordo com Maluf, algo que não se explica por um minuto e meio a mais na televisão. O simbolismo da fotografia conseguiu afastar Erundina da campanha depois que Marta Sulicy já havia abandonado os palanques petistas. Ambas foram apartadas de Haddad pelas intromissões de Lula, restando para a criatura a fatura decorrente dos erros do criador.

Mas é possível que o motivo que leva o eleitorado suposto do PT a evitar repetir uma declaração de voto diante do pesquisador seja outro: vai longe o tempo em que o PT era uma legenda democrática, que respeitava a decisão de suas bases antes que seus caciques conseguissem impor sua vontade.

Isso faz toda a diferença. Um partido é a soma de suas partes. O PT não é o PT por sua história — que foi rasgada muitas vezes –, mas é a soma da força de seus militantes. Desgastada pelo mandonismo, essa militância certamente não terá mais o ânimo dos pleitos passados.

O PT de hoje em nada se parece com o PT antes do Poder. A rigor, é um partido exatamente como o PMDB. Encontra-se matizado por denúncias de corrupção que se generalizam em todos os níveis. Há escândalos envolvendo petistas onde quer que o partido tenha chegado ao Poder. E há também a pressão e a expectativa pelo julgamento do Mensalão.

Nesse processo de transformação, chama a atenção o pragmatismo de posições defendidas por próceres partidários como o vereador Antônio Donato, presidente do PT no município de São Paulo. Ao justificar a aliança entre Lula e Maluf, ele disse simplesmente que esse é o jogo, e que suas regras devem ser aceitas por quem se dispõe a jogá-lo.

É preciso lembrar que a história do PT foi construída numa aguerrida luta anti-hegemônica. Uma luta contra o sistema, de confrontação às regras, que justificou sua criação e o suesso de sua proposta inicial. Foi essa a estratégia que terminou por levar o partido ao poder dez anos atrás.

O PT dos dias atuais nem de longe lembra o partido em seu período de amadurecimento. À promessa de uma revolução sobrepôs-se a adesão fisiológica. Ao foco na esquerda, o deslocamento para o centro. O PT hoje tem muito mais do PSD de Tancredo e Ulisses do que do partido operário forjado no sindicalismo dos anos 80. Está muito focado no Diário Oficial, com suas nomeações e liberações indecorosas, do que nos genuínos interesses da sociedade.

Talvez por isso o atoleiro estatístico em que se encontra a candidatura Haddad deva ser interpretado não como um o sintoma de uma dificuldade conjuntural, mas como sinal de um declínio estrutural.

É possível que a militância do PT não reconheça mais seu partido. Entre aqueles 30% que justificavam o bordão deve haver muitos que não se conformam com a degeneração moral da legenda, a fuga de seus quadros e o esvaziamento da pauta ética. É possível mesmo que não haja mais esses 30%.

Aferir quanto sobrou da militância autêntica só vai ser possível quando as urnas forem abertas. Mas uma coisa é certa a esta altura: mesmo que consiga suplantar as dificuldades do momento eleitoral, há algo estranho acontecendo nas hostes petistas.

Que sirva como alerta. Nenhum projeto de poder pode desprezar seus próprios fundamentos. Para quem tinha o PT como causa, talvez já não haja mais causa a defender.

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