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Vice do PSD diz que Kassab é autoritário e centralizador

ANDRÉIA SADI

Protagonista da primeira crise do PSD, a senadora Kátia Abreu (TO) diz que o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, conduz o partido à base de “centralismo e autoritarismo” e critica a intervenção para que a sigla apoiasse o PT em Belo Horizonte.

Cortejada pelo PMDB, a senadora afirma que o momento é de trabalhar pela democracia interna do PSD, mas não descarta deixar o partido se a situação piorar.

Leia a seguir os principais trechos de entrevista concedida à Folha.

Folha – A senhora está no centro da primeira crise do PSD. Como fica seu embate com o prefeito Gilberto Kassab?

Kátia Abreu – Na verdade, não é o primeiro embate entre mim e Gilberto Kassab.

Nós estávamos no DEM e tivemos um rompimento muito sério, porque um grupo que assumiu o partido começou a tomar decisões monocráticas, diferentemente de como era antes, com o [ex-senador] Jorge Bornhausen. Eu me escolarizei com essa prática: caía pau, pedra ou canivete, mas a reunião da Executiva acontecia no tempo do Bornhausen.

Resisti muito no início. Quando Kassab disse que ia fazer uma fusão com o PSB, eu recusei. Depois, ele me garantiu que seríamos um partido que exerceria democracia interna. Esta tese foi usada com todos membros do partido, até porque a reclamação era essa: caciquismo partidário. Eu jamais pude imaginar que Kassab seria assim.

Não sabiam que ele centralizaria o comando do partido?

Sinceramente, eu não sabia. E espero que não continue sendo assim. Que esse erro cometido agora [em Belo Horizonte] sirva para corrigir rumos e não para fortalecer a prática abominável e autoritária de intervir por decisão própria de um líder.

Também me magoou muito a saída do Roberto Brant [o ex-deputado federal era segundo vice-presidente do PSD]. Perder alguém do nível dele, com o caráter e o preparo intelectual, é incalculável.

O Kassab não se importou com isso quando foi a Belo Horizonte e não fez um telefonema a ele.

Quantas vezes a Executiva do PSD se reuniu?

Nós só tivemos uma reunião da Executiva e nunca mais. Isso tem mais de um ano. De lá para cá, tivemos várias oportunidades de debates em que poderíamos contribuir para o país e estivemos ausentes. Estamos em meio a uma crise grave econômica e o que o PSD pensa?

Nós tivemos anteontem [quarta-feira] uma confraternização. Somos quase 50 membros, compareceram menos de 15 pessoas.

O prefeito foi?

Não sei, eu também não fui. Estou desestimulada e triste com o partido. Acreditei e ainda acredito que possamos fazer algo diferente. Se o prefeito tem outra ideia, ele não me comunicou quando me convidou para o partido.

Espero que ele retome os rumos e retire a sede de São Paulo. Esse é um partido nacional. Se o prefeito tem dificuldades porque está no Executivo, ele que encontre outra solução. Mas, por conta de suas dificuldades, o partido não pode ficar prejudicado.

Além do caso de Belo Horizonte, quais outras negociações a incomodaram?

Teve o projeto de São Paulo. O PSD não é só paulistano, mas o prefeito pratica política em São Paulo. Aquela dubiedade de um dia apoiar o PT e, no outro, apoiar PSDB.

Quero ressalvar minha admiração pelo José Serra. Não é nada pessoal, nem contra Fernando Haddad, foi apenas a mudança em poucas horas que me incomodou.

Dois dias antes, ele [Kassab] me chamou tentando me convencer que o partido deveria estar com o PT.

Dois dias depois, ele decidiu apoiar o José Serra sem falar com ninguém.

Não houve nenhuma reunião para discutir isso?

Sem comunicar absolutamente nada nem reunir o partido, ele decidiu apoiar o Serra. Argumentou que era uma questão paulista.

Tá bom. E agora, o assunto é mineiro. Não é o fato de Belo Horizonte e nem estou defendendo interesses de Aécio Neves. Admiro o senador, mas estou defendendo os interesses do meu partido. Foi uma atitude arrogante, contrariando o estatuto do partido e de forma truculenta.

A sra. teve alguma resposta à carta enviada ao prefeito após a intervenção em BH?

Não, nenhuma. Eu me mantenho em dissidência e o que poderia reverter isso seria o partido se reunir e firmar compromisso de que intervenções só poderão ocorrer por decisão da Executiva.

Qual a razão dessa falta de interlocução interna?

Centralismo e autoritarismo político. Isso não faz bem para um partido que veio não para servir um cidadão, mas para servir a um grupo e ao país. O prefeito Kassab acha que o PSD está a serviço de sua carreira pessoal, e não está. Todo mundo quer um papa para chorar e o partido está sem papa.

Beba na fonte: Folha de S.Paulo – Poder – ‘PSD não está a serviço da carreira pessoal de Kassab’ – 16/07/2012.

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