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Comando da PM é conivente com grupos de extermínio, afirma Inteligência da Polícia Civil

48% das vítimas de grupos de extermínio formados por policiais militares não têm passado criminal. A informação está contida em um estudo realizado pelo serviço de  inteligência do Departamento de Proteção à Pessoa da Polícia Civil de São Paulo. O levantamento, feito no ano passado, analisa 70 ocorrências, que resultaram em 152 mortes — todas com características de execução sumária e suspeita de participação de policiais militares.

A maior parte dos crimes — 55 , correspondentes a 78,6% dos casos — ocorreu na região da Quarta Seccional da Polícia Judiciária, na Zona Norte de São Paulo. A região é a mesma onde a última “caravana da morte” eliminou seis pessoas na madrugada de quarta para quinta-feira passadas.

O levantamento do DHPP demonstra que as vítimas do grupo são majoritariamente do sexo masculino (91%). Entre os que se sobreviveram aos ferimentos a bala, apenas 18% têm anotações em folha corrida. 82% jamais passaram por uma delegacia.

Os alvos dos grupos de extermínio com pendências criminais são preferencialmente pessoas acusadas de roubo (27%), tráfico (23%) e furto (15%). Em 39% dos casos não foi possível identificar a causa das execuções. Entre os motivos apontados para os demais, 20% foram cometidos por vingança, 13% foram justificados como “limpeza”, outros 13% foram catalogados como decorrentes de abuso de autoridade e 15% foram motivados por cobranças do trafico ou das quadrilhas que exploram o jogo ilegalmente.

Chama a atenção no levantamento a anotação de que armas e munição de uso exclusivo da Polícia Militar  foram utilizadas em 46 das 152 mortes analisadas. Exames balísticos demonstraram que os disparos foram feitos de uma mesma arma — um fuzil calibre .556. E em 11 execuções foi identificado o uso de uma arma comum, de calibre .40 ou .38.

Assasinos continuam impunes

O Blog do Pannunzio teve acesso ao conteúdo de um Relatório de Inteligência produzido pelo DHPP sobre a atuação do principal grupo de extermínio. Ele aponta o soldado PM Valdez Gonçalves dos Santos como chefe da quadrilha. O PM é acusado de matar pelo menos 23 pessoas e ferir outras 17. Mas o número de vítimas, de acordo com uma fonte que pede o anonimato, pode ultrapassar 50.

O relatório da Polícia Civil afirma que os grupos de extermínio são compostos “por policiais militares especializados em vitimar egressos,  toxicômanos  e  praticantes de pequenos delitos, com conivência e suporte da instituição policial militar, sempre havendo guarida de policiais militares fardados, que corroboram para a “ higienização social”, e “limpeza da área”.”

O relatório também revela os métodos dos assassinos:  “Policiais militares em serviço agem com extremada truculência no labor policial, e mais, praticam desmandos, silenciam insurgentes e exterminam seus desafetos, utilizando-se da modalidade de atuação delitiva conhecida nas dependências militares como “caixa dois”.

O “caixa-dois” seria a tática segundo a qual um dos três integrantes de uma viatura desce do carro da PM, se descaracteriza e passa a orientar e executar os assassinatos.  De acordo com o RELINT, isso é feito para que o PM “possa livremente exaurir seus escopos criminosos, eximindo-se de responsabilizações por estar ficticiamente no interior da viatura policial militar, trabalhando, mas estando, na realidade, praticando extermínio”.

Os apontamentos da Inteligência do DHPP dão conta de que “para tais despropósitos ilícitos, contam com apoio integral de outros milicianos em serviço  e fruem uma estrutura organizada, onde costumeiramente emprega-se o peculiar modus operandi, sendo que policiais militares de serviço tocaiam a vítima, verificando a melhor oportunidade para a ação dos exterminadores, sendo que posteriormente os algozes abordam a vítima utilizando-se de vestimentas pretas, balaclavas e pistolas de calibre nominal .380 ou .9mm”.

A ação  dos policiais envolvidos, de acordo com as informações do RELINT, vai muito além do assassinato de seus alvos:  “Além de monitorarem a vítima, também dão guarida à fuga dos algozes, bem como manipulam o local de ocorrência, recolhendo estojos e projéteis, lavando o sítio de prática criminosa, afugentando, ameaçando e coagindo testemunhas”.

Os investigadores da Polícia Civil a cargo do relatório afirmam que a ação é conhecida e apoiada pelo comandado da PM e também por empresários. “Obtivemos informações de que não bastasse a velada conivência do comando da polícia militar no brutal saneamento social, interessada na extinção de ações criminosas e na consequente queda de estatísticas criminosas, há também  o favorecimento da iniciativa privada, tendo em vista que comerciantes das adjacências remuneram os milicianos, incentivam o abate criminoso e dão guarida aos “ninjas”, como são conhecidos os policiais militares sancionadores da pena de morte”.

O Blog do Pannunzio solicitou informações à Secretaria de Segurança Pública sobre que providências foram adotadas a partir desse relatório e também sobre a situação funcional do Soldado Valdez, mas ainda não obteve resposta.

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