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Russomanno, a galinha que voa

Russomanno: galinha voa ?

Celsinho das Placas.

Era assim que Celso Russomanno era conhecido quando funcionário do DETRAN, muito antes de enveredar pelo jornalismo e tornar-se famoso pela ocorrência de uma tragédia: a perda da esposa, vitimada pelas mazelas do sistema médico-hospitalar  em 1990. De posse de uma pequena câmera filmadora, Russomano registrou a cena e as transformou em combustível de sua prodigiosa ascensão.

Do episódio trágico emergiu uma carreira política meteórica. Na eleição de 2006, ele chegou à Câmara Federal com mais de 573 mil votos. Depois disso, preferiu consolidar seu nome em 2010 e disputou uma eleição perdida para governador. Pelo que se vê nas pesquisas eleitorais, a estratégia deu certo.

Hoje, Russomanno é um desafio para os analistas políticos e os sociólogos que tentam entender e explicar o que se passa no processo eleitoral. Tem sido tratado pela imprensa como um fenômeno episódico, a despeito de ter seu nome desde o início no topo da lista das preferências dos eleitores. A inflexão para cima de sua curva de popularidade seria uma espécie de voo da galinha, imagem que tanto incomoda o candidato.

Ocorre que o perfil eleitoral transforma Russomanno numa galinha cujo voo se assemelha mais ao dos urubus e dos gaviões. E que, em performance, equipara-se ao de outra espécie no zoomorfismo político atual: o dos tucanos.

Tratado como episódico, o crescimento do candidato do PRB é um dos dois fenômenos a serem anotados nessa etapa inicial da campanha eleitoral. O outro é a paralisia de Fernando Haddad, uma espécie de baleia franca encalhada no aquário dos nanicos.

E por que a candidatura Russomanno teima em desafiar as previsões de queda feitas pelas pitonisas ?

Talvez porque os analistas não tenham ainda se dado conta da importância de uma das categorias em que se costumam enquadrar grupos de eleitores por preferências ideológicas ou de simples afinidade. Refiro-me ao malufismo, ao qual de certa forma o ‘peerrebista’ Russomanno atrelou seu passado até ser trocado por Haddad pelas hostes pepistas.

No passado próximo, e apesar de todos os estigmas das denúncias de corrupção, Maluf congregava em torno de si uma gigantesca corrente, que lhe assegurava de saída cerca de 30% dos votos em qualquer eleição paulistana. Força equivalente somente à do petismo do tempo dos petistas imaculados.

O que aconteceu com os malufistas ?

Tenhamos em mente que uma boa parte dos malufismo era composta por eleitores de caráter consevador. Outra fração era de antipetistas convictos. E havia também, como é tradição no patrimonialismo brasileiro, aqueles que esperavam repartir o butim amealhado nos desvãos dos negócios com dinheiro público — supostamente uma gota d’água no oceano malufista.

Pois esse eleitorado mais conservador, que gosta tão pouco de tucanos quanto de petistas, ficou órfão com a inviabilização moral do projeto malufista.

Russomanno percebeu isso. Festejou quando seu padrinho Paulo Maluf decidiu trocá-lo pelo candidato petista. O candidato do PRB seria um espécie de legatário do malufismo — e, melhor de tudo (para ele), sem Paulo Maluf por perto. Fica com os eleitores, livra-se do estigma. Desta forma, vai crescendo na periferia e entre os eleitores de baixa renda. Com a vantagem de ter empurrado para para o PT a mala Maluf com todas as consequências que isso implica.É isso que pode explicar a consolidação dessa candidatura.

Pelo que se viu até agora, talvez fosse mais apropriado tratar Russomanno não como a galinha que voa alto, mas como  uma ave de rapina que se alimenta da decomposição do malufismo e do neomalufismo petista.

Enquanto houver detritos para se alimentar, o urubu do PRB vai continuar sobrevoando os despojos dos dois feudos que jazem em agonia pública, de mãos dadas, a caminho acelerado de se tornarem fósseis da política brasileira.

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