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Cadê o ‘efeito Lula’?

No Datafolha divulgado hoje há algumas informações que não estão explícitas, mas ainda assim chamam a atenção dos leitores mais atentos. A primeira delas diz respeito à situação eleitoral de Fernando Haddad. Apesar de o PT e o governo já terem colocado todas as suas fichas na mesa — leia-se Lula, Dilma e Marta Suplicy — , o escolhido de Lula para enfrentar a eleição paulistana não conseguiu, a esta altura, sequer ser alçado ao patamar histórico de votos do partido em São Paulo.

No pleito de 2008, Marta Suplicy obteve 33,06% dos votos válidos no primeiro turno. Quatro anos antes, em 2004, obteve 35,82%. Perdeu depois para José Serra.

Neste momento, a três semanas da eleição, o candidato petista Fernando Haddad se encontra praticamente estacionado em um patamar muito inferior, de 17%, que representa, grosso modo, apenas metade do potencial de votos destinados tradicionalmente à legenda.

Quatro anos atrás, no começo de setembro de 2008, Marta Suplicy era considerada imbatível. Os números do Datafolha revelam que a ex-prefeita tinha 40% das intenções de voto. Kassab e Alckmin disputavam a segunda vaga com uma diferença de apenas 4% entre ambos, mas ainda assim com menos de metade das intenções de voto atribuídas à cabeça-de-chapa do PT.

Oito anos atrás, na mesma altura do processo eleitoral, a diferença entre Marta, que tinha 33% das intenções de voto, e Serra, que liderava e terminou por vencer o pleito, era de apenas 4 pontos percentuais. Marta tinha os 33% historicamente reservados a seu partido. Um terço dos votos.

Este ano, Fernando Haddad patinou no patamar dos nanicos até se descolar deles com o início da campanha pelo rádio e televisão. Mas, pelo que mostram as três últimas sondagens, a curva das preferências já aponta para uma acomodação. Num ponto de inflexão que não é bom para o postulante do Partido dos Trabalhadores — o terceiro lugar.

O que se prevê de agora em diante é um disputa renhida entre tucanos e petistas pela chance de disputar o segundo turno com o azarão Celso Russomanno, que parece ter consolidado sua condição de favorito neste primeiro turno. E a despeito da situação de empate técnico, que torna o resultado virtualmente impossível de se prever, é de se notar que ainda há uma diferença de 3 pontos percentuais em favor de José Serra.

O esforço para dar viabilidade a Haddad é notável. A seu favor estão a máquina federal (com a engajamento de Dilma Rousseff) e o prestígio pessoal de Lula, o patrono do candidato. O uso da máquina fica claro na compensação oferecida a Marta Suplicy por seu engajamento na campanha. Preterida por Lula na escolha do candidato, a ex-prefeita teve que ser agraciada com um cargo no primeiro escalão para subir ao palanque de Haddad. Uma ajuda e tanto — que, não obstante, não se mostrou capaz ainda de vitaminar a chapa petista na medida que se esperava.

Mas é fato que o que se esperava nos meses que decorreram entre o lançamento da candidatura e o início da propaganda eletrônica não aconteceu. Nem o prestígio de Lula, nem o reforço de Marta, nem a forcinha de Dilma foram capazes de devolver ao Partido dos Trabalhadores os votos que historicamente lhe eram destinados.

O que mais intriga no comportamento do eleitor é a ausência de resposta ao esforço de Lula para dar viabilidade eleitoral ao mais importante candidato apresentado por seu partido às eleições deste ano.

O que a maioria dos analistas antevia era que Lula conseguisse não apenas reaver os votos tradicionais da legenda, mas incrementar o cacife do partido com a popularidade que faria dele o grande eleitor deste pleito. E isso, de fato, está longe de acontecer.

Resta, portanto, saber o que foi que aconteceu com a popularidade de Lula. Não há nenhuma dúvida de que ela é enorme. Assim como não restam dúvidas de que, como cabo eleitoral, Lula não tem funcionado como se supunha que funcionaria. A rigor, todo o esforço empreendido em favor de Haddad não agregou, pelo menos até agora, mais que 10 pontos percentuais ao postulanente do PT. E ainda faltam quase 20 pontos percentuais para que a legenda ascenda novamente ao patamar dos 33%.

É claro que ainda é cedo para cravar uma aposta no resultado do primeiro turno. Assim como é improvável que, haja o que houver na campanha, surja ainda um milagre capaz de alterar radicalmente o quadro. A partir de agora, com a consolidação das intenções de voto, o que se espera são pequenas oscilações, inclusive com a possibilidade de inversão dos candidatos que disputam o segundo e terceiro lugares na preferência do eleitorado.

A tese que vem sendo defendida por 10 entre 10 analistas é a de que não há transferência de prestígio — ou a tradução do prestígio em votos — a não ser entre candidaturas análogas. Por esse raciocínio, Lula poderia, sem dificuldade, eleger um poste Presidente da República. Foi o que aconteceu com Dilma Rousseff, a desconhecida auxiliar alçada por ele ao posto de primeira-mandatária brasileira dois anos atrás. Mas não tem como influenciar o eleitor paulistano, que termina por definir seu voto com base em uma cesta de propostas e um menu de candidatos vinculados exclusivamente à seara da comunidade.

Seria, desta forma, um santo milagreiro que só tem poder para promover grandes milagres. Dos pequenos, o eleitor mesmo prefere cuidar, sem a interferência nem o cabresto de quem quer que seja.

O que pouco gente se arrisca a dizer, com medo de errar o prognóstico que vai se desenhando, é que talvez os poderes atribuídos ao ex-presidente não passem de um exagero retórico que vem sendo construído pela reiteração de certos dogmas — especialmente o de que Lula pode tudo. Pelo que se viu até agora, não pode.

Talvez não possa por causa do desgaste sofrido pelo PT desde que a legenda foi associada à corrupção descarada e às piores práticas políticas, agora materializadas com as primeira  condenações de mensaleiros, e à perspectiva de prisão de gente como João Paulo Cunha, José Genoíno, José Dirceu e Delúbio Soares. É claro que o espetáculo propiciado pelo maior julgamento da história do País produz efeitos no eleitor. O que não se sabe, até agora, é qual o tamanho do estrago.

Caso Haddad seja derrotado neste primeiro turno, muitas serão as tentativas de explicar o fracasso. Alguns dirão que o PT está pagando o preço de ter sido colocado por seus próprios dirigentes entre as legendas que protegem criminosos e incentivam a gatunagem em seu próprio proveito. Mas isso não seria suficiente para explicar o malogro.

Outros irão dizer que a escolha de Haddad foi infeliz, que a vitória com alguém já testado como Marta Suplicy seria pule de dez. Mas aí o erro seria de Lula, e não convém atribuir erros a santos.

E sempre haverá quem diga que, quando o santo não produz o milagre, não é por falta de santidade — é por falta de fé do devoto.

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