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À espera de novo índice, MST prepara invasões

José Maria Tomazela, de O Estado de S.Paulo

O mega acampamento Adão Preto, em Araçatuba. Foto: Jonne Roriz/AE


A expectativa da revisão dos índices de produtividade no campo pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva já causa uma corrida aos acampamentos de sem-terra no interior de São Paulo. Em Araçatuba, noroeste do Estado, moradores urbanos e cortadores de cana engrossam o Adão Preto, um mega acampamento formado por dissidentes do Movimento dos Sem-Terra (MST), considerado o maior do Brasil.

Desde a semana passada, o local passou a receber em média 20 famílias por dia. O coordenador Claudemir Silva Novaes chegou a suspender temporariamente o ingresso de novos acampados por falta de estrutura.

O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) utiliza os índices para avaliar a produtividade das fazendas e desapropriar áreas improdutivas para a reforma agrária. A revisão aumentará em até 100% o mínimo de produção a ser alcançado no campo.

Na região noroeste, a nova fronteira da cana-de-açúcar em São Paulo, muitas fazendas não atingirão o novo índice, segundo Novaes. “São áreas que estão no limite da produtividade atual, de 70 toneladas de cana por hectare”, disse.

Assim que os novos índices entrarem em vigor, lideranças dos sem-terra pedirão ao Incra a vistoria nas fazendas. “O presidente Lula quer que a revisão saia já. As terras improdutivas estarão na mira dos sem-terra”, afirmou Novaes. “Só não vamos ocupar áreas que estiverem dentro dos índices.”

O acampamento, criado no final de março pelo líder da dissidência, José Rainha Júnior, tinha cerca de mil famílias na última quarta-feira e novos acampados não paravam de chegar. Os 850 barracos ocupam dois quilômetros das faixas laterais de uma rodovia vicinal no distrito de Engenheiro Taveira.

Estrutura precária

Desempregado, Salvador da Rocha empregou as economias na compra de madeira e telhas tipo eternit. Ele ganhou a lona plástica de um vizinho e fretou um caminhão para levar tudo até o Adão Preto. A família de José Osvaldo Mianuti, de 67 anos, também chegou há poucos dias. “O tempo de espera não importa, tenho certeza que valerá o sacrifício”, disse.

José Osvaldo Mianuti, um dos novos acampados do Adão Preto. Foto: Jonne Roriz/AE

A estrutura é precária: o acampamento não tem energia, nem água. Cada acampado paga R$ 0,50 por semana pela água de um caminhão-pipa. O governo federal mandou 600 cestas básicas para os que permanecem no local – a maioria tem casa na cidade e fica no barraco só dois dias por semana.

O Adão Preto está numa área cercada por canaviais e fazendas de gado. Ele se formou graças à migração de José Rainha, Novaes e outros líderes sem-terra que atuavam no Pontal do Paranapanema, no extremo oeste, para essa região.

Muitos acampados têm automóveis e alguns circulam de caminhoneta. Novaes explica que eles têm pequenos negócios em Araçatuba e cidades vizinhas, como Birigui, Andradina e Guararapes. “É gente que foi expulsa do campo para a cidade e agora quer voltar para o campo.”

Acampamento ocupa laterais de estrada, em Araçatuba. Foto: Jonne Roriz/AE

Alta Paulista

O município tem três assentamentos instalados em fazendas desapropriadas – as fazendas Aracanguá, Floresta e Araçá – com um total de 407 famílias, administrados pelo Incra. “Ainda tem muito sem-terra para ser assentado”, avaliou.

Na região da Alta Paulista, famílias sem-terra interessadas em disputar um lote foram encaminhadas a acampamentos do MST e do Movimento dos Agricultores Sem-Terra (Mast) pelos sindicatos rurais. Um novo acampamento com bandeira do Mast começou a ser montado próximo de Ouro Verde, na região de Dracena.

Também houve uma retomada na procura por vagas em acampamentos do MST no Pontal e na região de Iaras, no centro-oeste do Estado. “Muitos sem-terra que já ficaram sob a lona voltaram a ter esperança”, disse Valmir Ribeiro Chaves, coordenador no Pontal.

Leia a íntegra da notícia no site do Estadão clicando aqui.

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