O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, criticou duramente os “países ricos”, o G-8 e outros organismos internacionais, e responsabilizou os governos de países desenvolvidos pela crise econômica mundial.
“Os governos dos países ricos são os culpados (pela crise) por que não cuidaram da regulamentação do mercado”, disse o presidente, em entrevista exclusiva à BBC sobre o colapso do sistema financeiro global.
Lula se posicionou como uma espécie de porta-voz informal dos países em desenvolvimento desde o começo da crise. Ele vem defendendo o que acredita ser os interesses dos pobres em lugares como América Latina, África e Ásia, pedindo mudanças no sistema financeiro global.
Na entrevista com a BBC, Lula afirmou que os governos dos países ricos “sabiam como dar palpite em tudo sobre a economia dos países em desenvolvimento. Agora, quando a dor de barriga aconteceu com eles, eles não sabiam como agir”.
Suas críticas também foram dirigidas a instituições econômicas internacionais: “O FMI não tinha solução, não tinha certeza e não tinha resposta. O Banco Mundial não tinha solução, não tinha certeza e não tinha resposta. E os governos também não tinham!”
“Banqueiros de olhos azuis”
O presidente Lula também insistiu em afirmar que a crise foi criada por banqueiros brancos de olhos azuis no mundo rico. A expressão causou polêmica quando o líder brasileiro a pronunciou pela primeira vez, em março deste ano, ao lado de Gordon Brown, durante visita do primeiro-ministro britânico a Brasília.
Àquela época, Lula foi criticado por ter usado a expressão, considerada por muitos como inapropriada, quase racista. Durante essa entrevista, gravada para a série especial “The Love of Money”, da BBC 2, o presidente disse que não se arrependia, e voltou a falar da mesma forma.
“Aquilo que eu queria dizer está mais forte hoje do que estava na época. O que eu quis dizer era que não eram os índios ou os negros que deveriam pagar a conta (pela crise), mas sim os responsáveis pela crise, que eram os banqueiros de olhos azuis. E que não jogassem a culpa em cima dos pobres do mundo, como sempre acontece quando tem uma crise econômica”, disse Lula.
O presidente, entretanto, parece muito confiante em que os líderes do G-20 (o grupo das 20 maiores economias do mundo) consigam encontrar soluções para a crise, se continuarem a trabalhar juntos.
Eles se encontrarão novamente para discutir a crise em Pittsburgh, nos EUA, nos dias 24 e 25 de setembro, e o Brasil espera influenciar o debate, pedindo a consolidação do grupo e mais mudanças no sistema financeiro.
Lula defendeu o grupo, afirmando que o G-20 está se tornando um fórum extremamente importante para debater e encontrar soluções para a economia. Ele também argumenta, entretanto, que o grupo deve ampliar seus objetivos e começar a discutir e implementar políticas para acelerar o desenvolvimento de países pobres.
“Espero que não seja um fórum apenas para resolver o problema da crise. Os pobres do mundo, os emergentes do mundo são chamados apenas para resolver o problema da crise e, quando a crise terminar, acaba-se com o G-20 e volta ao G-8”.
De acordo com o presidente brasileiro, o G-8 não tem credibilidade para lidar com os novos desafios da economia global.
“O problema é que o G-8 é um clube fechado. Do ponto de vista da discussão da crise econômica, acho que o G-8 não tem legitimidade”, disse ele.
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