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Resposta do Professor Fábio Morales ao Blog do Pannunzio

Publico a seguir  a resposta do Professor Fábio Morales ao post “Perfil do vândalo: arruaceiro médio, segundo a polícia, faz parte da elite“. Em seguida, faço algumas considerações.

Prezado Fábio Pannunzio,

Recebi com surpresa a notícia ontem, de alunos e amigos, que meu nome era citado em uma postagem com as palavras “arruaceiro” e “elite” no título. Mais surpresa ainda foi saber que o senhor era o autor, e que meu nome é o que aparece em primeiro. Após ler o post inteiramente, devo dizer que fui tomado por uma “vergonha alheia” considerável. Vamos por pontos:
1. Não houve “flagrante”, como o senhor afirma no post. Fui abordado quando, após participar na passeata, chegava ao metrô Clínicas. Não portava qualquer objeto além de meus documentos: nenhuma mochila, pedra, martelo, vinagre, nada. Você se “esqueceu” de mencionar isso, ou não verificou com rigor a informação. Espero que seu professor de “ética no jornalismo” não tenha lido este post, pois eu sei como se sente o professor quando vê um aluno fazer exatamente o oposto do que se assevera.
2. Não faço parte de qualquer grupo que defenda o vandalismo; não fui “convocado pelos Black Blocs”; não cometi qualquer ato de vandalismo, não há qualquer prova ou indício para isso, mas mesmo assim sou enquadrado pelo seu texto como “arruaceiro”. Gostaria que você me apresentasse qualquer prova, ou mesmo motivo para tamanha difamação. Isto é bastante sério, e é absolutamente incompreensível que o senhor, já distante da adolescência, não compreenda esta seriedade.
3. Não aceitei que meus dados pessoais fossem divulgados. Nenhum profissional da imprensa pediu meus dados ou mesmo minha autorização. Não foi solicitada qualquer entrevista ou declaração por parte da imprensa. Quando fui liberado por absoluta falta de provas, não havia nenhum jornalista para averiguar o caso. Informei meus dados aos policiais que o solicitaram, e como estes dados chegaram ao seu conhecimento, é algo bastante revelador das relações entre a polícia, a grande mídia e a prática da cidadania.
4. Não recebi qualquer telefonema, email ou sinal de fumaça partindo do senhor ou de qualquer membro de sua equipe (se houver). Não há mensagem na secretária eletrônica do meu celular ou telefone residencial, ou mesmo da instituição onde trabalho. Nenhum recado, nada. Ou não houve contato, ou a tentativa foi mínima, o que, desculpe a repetição, também é revelador de sua concepção de jornalismo, considerando que meu nome e dados pessoais receberam considerável destaque neste post. Continuo disponível para conversar sobre qualquer assunto de interesse público (me questiono se o fato de eu ser “solteiro”, como o senhor destaca no post, tem alguma relevância pública – mas, pensando bem, estamos na sociedade de espetáculo e essas coisas acontecem nos becos da comunicação social).
5. Curiosamente, o senhor sabe onde moro. No final do ano passado, o recebi em minha casa para uma entrevista sobre o Império Romano, por ocasião do lançamento da série “Roma”, na Band. Lembro de sua muito simpática equipe, especialmente do cinegrafista que havia visitado (e, copmpreensivelmente, se encantado com) a acrópole de Atenas. Não lembro se ofereci a vocês todos um copo d’água ou um café – apesar de historiador, não tenho a memória do borgeano Funes. Mas lembro que tivemos uma conversa muito clara e informativa (no meu ponto de vista), apesar da tentativa de sua parte de associar “pão e circo” ao programa “bolsa família”, o que demonstrava um desconhecimento tanto de um, quanto de outro. Como o senhor mesmo disse, tinha uma “formação generalista”, portanto esta impropriedade se justificava, em parte, ao menos. A entrevista não foi ao ar, e pelo que fui informado por amigos e alunos, optaram com a fala de um professor de cursinho pré-vestibular. Revelador…
6. Em função desta ocasião, o senhor sabe que moro no Brás em um apartamento de cerca de 50 metros quadrados. Por favor, defina novamente “elite”, pois esta sociologia me é inacessível (nem a “lulopetista”, nem a “pannunziana”).
Posso passar mais detalhes sobre minha vida pública e minha atividade política, especialmente acerca do motivo da manifestação em questão ou mesmo da falta de ética e/ou profissionalismo na cobertura jornalística dos nossos tempos. Não o ameaçarei de processo ou coisa que o valha, pois, para usar um topos ateniense, nunca processei nem fui processado. Também não acredito, pelos poucos minutos em que conversei pessoalmente com o senhor, que exista má fé de sua parte. Possivelmente, trata-se de uma concepção diferente de jornalismo e de política, e se, na sua retratação ou resposta (que considero imprescindível), o senhor se propuser a explicá-la, tenho certeza de que sairei menos ignorante.
Atenciosamente,
Fábio Morales

Resposta do editor

Professor,

 

Não associei seu nome à pessoa que entrevistei no ano passado. Asseguro, no entanto, que se a reportagem fosse feita agora, eu não o entrevistaria.Mas isso não tem qualquer relação com o conteúdo do post que o senhor contesta.Vamos aos fatos.

1) O ‘motivo’ que o senhor me pede está aqui:

New Doc20130731165418595

New Doc20130731165418595

 

2) O senhor foi efetivamente preso e seus dados constam do boletim de ocorrência registrado no Distrito Policial de Pinheiros.

3) O senhor não contesta que esteve na manifestação. Portanto, a informação divulgada é inquestionavelmente verdadeira.

4) O senhor foi preso em flagrante, como está caracterizado no boletim de ocorrência. Flagrante é a situação delitiva em que o autor — ou acusado, como é o seu caso — foi detido menos de 24 horas depois do crime imputado.

5) A ‘manifestação’ da qual o senhor participou terminou com a depredação de lojas, agências bancárias, destruição de veículos e ataque a caixas eletrônicos. Isso não é vandalismo ? O que seria, então ?

6) O Boletim de Ocorrência é um documento público e pode ser consultado por qualquer pessoa. Não houve violação da sua privacidade. Ao contrário: tive o cuidado de não publicar o documento na íntegra para não devassar o telefone e endereço dos que foram ali relacionados como vândalos, como é o seu caso.

7) Não me interessa a sua militância política. Vivemos em um País democrático e o senhor tem todo o direito de ter suas convicções. Também tem o direito de participar de atos ou manifestações, o que lhe é assegurados pela Constituição. Mas, exercendo o meu direito de criticar, que também é assegurado pela mesma Constituição,  repudio com veemência o vandalismo, que é criminoso, e sustento que não se pode chamar a baderna e a destruição de patrimônio público e privado de “ato político”.

8) A manifestação da qual o sr. participou foi efetivamente convocada pela página Black Bloc no Facebook.

9) Em nenhum momento afirmei que o sr. portava pedras, paus ou outros objetos.

10) Ao contrário do que o senhor afirma, liguei para os números dos telefones que constam da sua qualificação no B.O. quatro vezes. Os registros estão na conta do meu telefone (duas chamadas para o de prefixo 3271, duas para o celular eu começa com 97619). Se o senhor quiser, posso publicar um fac-símile desses registros — e só não o faço agora em respeito à sua privacidade. Mas se o senhor insistir que eu não tentei contatá-lo, publico o documento para provar que quem está faltando com a verdade é o senhor.

11) Deixei recado, sim senhor, na secretária eletrônica do seu celular. Não houve ‘esforço mínimo’, houve o esforço suficiente. O senhor optou por não retornar.

12) Também liguei para a PUC de Campinas para confirmar a informação de que o sr. leciona lá. Não faltou rigor na apuração, a despeito de toda essa verborragia sobre a ‘velha mídia’, que vocês abominam, ainda que esteja se referindo ao post de um blogueiro.

13) Com relação à reportagem da Band, digo que a sua crítica deveria ter sido feita na época, há mais de um ano. Mas se quer falar sobre o assunto, digo o seguinte: Eu não firmei contrato de exclusividade com o senhor. Não lhe disse que o senhor seria a única fonte. Se soubesse que o senhor iria ficar molestado pela presença de um ‘professor de cursinho’ que figurou como personagem, eu teria simplesmente reavaliado a sua participação. Porque isso é pura soberba. Somente agora fiquei sabendo que a entrevista não foi ao ar. Esclareço que quem seleciona os entrevistados que irão aparecer ou na matéria é o editor, não o repórter.

14)Se um professor universitário não é da elite, não sei realmente o que é elite. Sob qualquer aspecto: renda, escolaridade etc etc. O senhor mora em um bairro central da quinta cidade mais cara do mundo. Não se trata aqui, portanto, de definir uma sociologia lulopetista ou pannunziana. O senhor, professor, é da elite sim. Não entendo por que se envergonha disso. Deve ter batalhado muito para chegar até aí.

15) Tenho certeza de que, se estivesse vivo, meu professor de ética iria ficar orgulhoso do ex-aluno. Mas não sei o que os seus alunos pensam dos exemplos que você dá a eles.

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