Gabriela Guerreiro e Márcio Falcão, da Folha Online.
A oposição classificou nesta segunda-feira de “natural” a decisão do conselho curador da Fundação José Sarney, no Maranhão, de fechar as portas da entidade, depois das denúncias envolvendo a fundação em meio à crise que atingiu o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). O presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE), disse que os patrocinadores da entidade mostraram que não estão dispostos a se envolver em novos desgastes.
A assessoria de Sarney confirmou que a Fundação decidiu fechar as portas, informação antecipada por Mônica Bergamo, colunista da Folha. O local reúne o acervo sobre o período em que o atual presidente do Senado ocupou a Presidência da República.
“É natural. Porque essas denúncias inibem os patrocínios e reduzem a oferta de recursos. Os colaboradores ficam com receio de serem envolvidos em desgastes. Para o próprio Sarney, politicamente, isso evita que ele seja novamente pressionado por qualquer suspeita de irregularidade que ocorra na fundação”, afirmou à Folha Online.
Em meio às denúncias contra Sarney durante a crise do Senado, o PSDB pediu que o Conselho de Ética da Casa investigasse irregularidades sobre a fundação.
O partido também tentou emplacar, na CPI da Petrobras, investigações sobre a entidade –mas elas acabaram derrubadas pelos governistas.
O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), disse que a ideia de se manter uma fundação com o acervo do período em que Sarney foi presidente da República é positiva, mas lamentou os “métodos” utilizados pela entidade para a captação de recursos. “A fundação ficou coberta de suspeitas. A ideia da fundação é boa, mas os métodos e os meios não foram os mais aconselháveis”, afirmou.
Virgílio lembrou que foram apontadas “irregularidades e vícios” na prestação de contas da entidade. O senador defendeu novas investigações sobre a Fundação José Sarney. “Claro que isso reforça a necessidade de investigações. Mas estamos vendo o presidente Lula dando sinal verde para as irregularidades se repetirem, sem investigações”, afirmou.
A oposição chegou a apresentar na CPI da Petrobras requerimento para investigar a denúncia de que Fundação José Sarney teria desviado recursos de um patrocínio cultural da Petrobras. A oposição pediu cópia de todas as prestações de contas de verbas recebidas da estatal pela fundação, mas os governistas conseguiram rejeitar o pedido liderados pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR).
Suspeitas
A assessoria do senador negou, no entanto, que a decisão tenha partido de Sarney. A fundação teria sido fechada por problemas financeiros. Ainda não foi decidido o que será feito com o acervo.
Procurado pela reportagem, o presidente da fundação, José Carlos Sousa Silva, disse desconhecer o fato e afirmou que as denúncias contra a fundação e contra Sarney são “preconceito” contra os nordestinos.
Em julho, uma reportagem publicada pelo jornal “O Estado de S. Paulo” informou que ao menos R$ 500 mil dos recursos repassados pela Petrobras para patrocinar um projeto cultural da Fundação Sarney teriam sido desviados para empresas fantasmas e empresas da família do senador.
O dinheiro teria ido parar em contas de empresas com endereços fictícios e contas paralelas. O projeto nunca saiu do papel.