Em depoimento à Justiça Federal, o ministro do TCU (Tribunal de Contas da União) José Múcio Monteiro afirmou que o PTB “em hipótese nenhuma” participou do mensalão –esquema de integrantes de partidos da base aliada do governo para corromper congressistas.
Ex-coordenador político do governo Lula e ex-líder do partido na época do escândalo, Múcio disse que a parceria entre o PTB e o governo não envolveu vantagem financeira em troca de apoio durante as votações no Congresso.
“Em hipótese nenhuma [o governo oferecia dinheiro em troca de votações]. Votávamos absolutamente favorável ao governo. Governo e PTB tinham uma indiscutível parceria”, afirmou. “Não é verdade [dinheiro em troca das reformas].”
Segundo Múcio, PT e PTB só trataram de recursos quando discutiram alianças para as eleições de 2004. A negociação não envolvia votações do governo na Câmara e no Senado.
O ministro confirmou que participou de um encontro, em 2003, entre petistas e petebistas no qual ficou acertado um auxílio do PT de R$ 20 milhões para o PTB aplicar na disputa municipal.
“Foi um almoço na sede do PT, onde alguém perguntou ‘quanto vocês acham que precisam para bancar a eleição [municipal]. A orientação do partido era de que quanto mais aliados estivéssemos ao PT, melhor estaríamos. [O PT] trabalharia para que o acordo fosse mantido. A ideia era que fizéssemos uma parceria para a próxima eleição. Precisávamos de parceria, precisávamos de dinheiro para que a campanha fosse tocada”, disse.
Múcio reconheceu que apresentou o então tesoureiro do PT Delúbio Soares –também réu no processo do mensalão– para o presidente do PTB, deputado cassado Roberto Jefferson, responsável pela denúncia do mensalão.
“Logo que assumi a liderança do partido fui procurado pelo Delúbio [ex-tesoureiro do PT] para apresentá-lo ao Roberto [Jefferson]. Fui eu que apresentei”, disse.
“O Brasil todo tem [conhecimento]. Foi um episódio que maculou o conceito do Legislativo. Foi um ano negro para a democracia. Eu era líder do PTB, o partido de onde partiu a denúncia”, disse.
Múcio foi chamado a depor como testemunha de Roberto Jefferson, do empresário Marcos Valério, do ex-deputado José Janene (PP-PR), do deputado Pedro Henry (PP-MT) e do tesoureiro informal do PTB, Emerson Palmieri.
Na semana passada, também prestaram depoimento no processo do mensalão a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) e o ex-ministro da Fazenda e deputado Antonio Palocci (PT-SP). Os dois disseram que não tinham conhecimento do suposto esquema e elogiaram o ex-ministro e deputado cassado José Dirceu (Casa Civil). Dilma chegou a falar que Dirceu foi “injustiçado”.
Acusação
O ex-procurador-geral da República Antonio Fernando de Souza ofereceu denúncia ao STF (Supremo Tribunal Federal) em abril de 2006 contra 40 suspeitos de participarem de um suposto esquema de compra de votos de parlamentares da base aliada –o mensalão.
Em agosto de 2007, os ministros do STF acataram a denúncia e transformaram os suspeitos em réus.
Entre os denunciados estão os ex-ministros Luiz Gushiken (Comunicação do Governo), Anderson Adauto (Transportes) e José Dirceu (Casa Civil), além do empresário Marcos Valério, os deputados João Paulo Cunha (PT-SP) e José Genoino (PT-SP) e o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ).
Dos 40 denunciados, 39 continuam respondendo como réus. O ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira fez um acordo e foi excluído da ação em troca do cumprimento de pena alternativa.