Este provavelmente vai ser o pior natal da curta e conturbada existência do menino Sean Goldman. O menino-chicana, que durante quatro anos foi objeto de uma das mais cruéis disputadas judiciais que a história registra, está a caminho de recomeçar uma vida que foi interrompida muito antes do tempo mais remoto que sua memória consegue registrar.
Sean Goldman foi subtraído do convívio do pai por decisão unilateral da mãe, que o trouxe para o Brasil sem dar conhecimento a David Goldman de que jamais voltaria a Nova Jérsey, Estados Unidos, onde o menino nasceu e a família vivia.
Desde o início, o pai lutou como um leão para reaver o direito de conviver com a criança, que a família brasileira lhe negava de maneira acintosa e arrogante. Depois da morte trágica da mãe, Sean teve sua guarda entregue pela justiça brasileira ao padrasto. Mas quem o criava era a avó materna, em nome de quem foi movida a cruzada que terminou na manhã de hoje.
O egoísmo da família brasileira, que justificava seus movimentos protelatórios em nome de um afeto sem limite, deixou indignada a opinião pública internacional.
Curiosamente, enquanto jornais de todo o mundo tratavam o caso como “sequestro” ou “abdução”, a imprensa brasileira adotou o lado errado para fixar seu ponto-de-vista. David Goldman, o pai do garoto, passou a ser chamado de “pai biológico” nas reportagens, especialmente as veiculadas por órgãos da imprensa carioca.
O afeto transbordante da avó quase sempre dava o tom das matéria. David foi exposto como pobre, vagabundo, desocupado, pernicioso, um homem sem coração que usava o pretexto de seu sofrimento pessoal para vender bugigangas com ícones de seu elemento de promoção pessoal — o próprio filho.
Enquanto a família brasileira de Sean o transformava em objeto de chicana nos tribunais, a imprensa vendia ao público uma patriotada construída sobre estereótipos de valores de nacionalidade, família e afeto.
Agora, no entanto, é que vai começar o problema de verdade. A entrevista que os Lins e SIlva encomendaram a uma psicóloga caiorca deixa claro que o psiquismo do garoto não guarda espaço para a figura do pai. Especialistas asseguram que ele é vítima de um quadro severo de privação parental.
Pela vigilância exercida nos parcos encontros entre pai e filho, pela imagem negativa que cuidadosamente se construiu na cabeça do menino, pelos esforços para desqualificar Dadvid Goldman, por tudo que os avós, tios e o padrasto devem ter dito a Sean sobre seu genitor, é provável que ele experimente um período longo e profundo de infelicidade e tristeza.
Embora esteja agora sob a guarda de quem deveria tê-la, Sean foi ensinado a detestar o pai. E vai ter que reconstruir a imagem destruída por essa campanha insana movida no Brasil contra a volta do menino ao lugar de onde ele jamais deveria ter saído.
Imagino o que se passa agora na cabeça dessa cruança. O menino abduzido pela mãe e pela família da mãe deve estar se sentindo sequestrado pelo pai. Está a caminho de um local “frio” no pico do inverno. Não vai mais ter as praias, o haras e o luxo dos Lins e Silva. Teve seu natal furtado por decisão de alguém que ele não alcança — um tal ministro do Supremo — em plena véspera de natal
Talvez seu maior presente seja a possibilidade de descobrir no afeto do pai o sentido do amor paternal. Em meio a essa guerra em que ele foi usado como munição, talvez não tenha sobrado a nenhum dos parentes brasileiros a energia necessária para que ele soubesse o que é, de verdade, o amor de um pai pelo filho.