Blog do Pannunzio

Tragédias de Angra: o problema, de novo, são os políticos.

Apesar de sinais claro de que o clima está descontrolado e furioso, ainda há quem insista em negar as evidências do aquecimento global. Outros, mesmo admitindo, relutam em aceitar que os efeitos que estamos sentindo são consequentes da ação do homem sobre o meio-ambiente.

Os primeiros o fazem por ignorância ou comprometimento ideológico. Pode-se colocar nesse balaio personalidades retrógradas, em relação à educação ambiental, como George Bush Filho, o presidente Lula e uma boa parcela dos ruralistas brasileiros.

No ano passado, quando as encostas dos morros de Santa Catarina vieram abaixo, a reação do governo local foi despropositada e inexplicável. O governador Luiz Henrique, um troglodita ambiental, liderou uma cruzada nacional pela redução das áreas destinadas às matas de galeria em seu estado.

Aderiram a essa campanha líderes do agronegócio, para quem o que interessa é apenas a expansão de suas lavouras para além da fronteira do razoável. E também a parcela do governo brasileiro que representa o pensamento do agribusiness.

Agora, o planeta soterra, ao mesmo tempo, miseráveis dependurados em um morro de Angra e milionários que dormiam sobre o mar da Baía de Angra. Nem uns, nem outros sabiam o quanto estavam vulneráveis quando foram se deitar na noite do reveillon.

O que mais será necessário para demonstrar que há algo muito errado com a mentalidade predatória que pauta a irracionalidade do modelo de vida que adotamos ? Quantas Angras dos Reis terão que derreter feito gelatina para demonstrar que não há sustentabilidade possível com a continuação da ocupação desenfreada do solo — das encostas pelos miseráveis e dos baixios pelos mais ricos ?

Como de resto em toda a história, o Poder Público é o protagonista das tragédias que se anunciam em Santa catarina, Angra, Cunha ou na calha do rio Paraitinga.

É na política que reside o problema. É ali que se encontram homens como o governador Sérgio Cabral, que autoriza a construção de empreendimentos imobiliários em santuários protegidos por lei sem consultar ninguém além de suas conveniências. É ali que se nutre a delliberada falta de um planejamento urbano que permita aos mais pobres ter algo além de um barranco onde erguer seus barracos insalubres. É ali, também, que se forja a inação dos órgãos que deveriam fiscalizar o cumprimento das leis ambientais, que não vigoram para os abastados.

É ali que se criam justificativas para o injustificável. Como, por exemplo, a decisão de manter em funcionamento duas usinas nucleares quando não há saída possível para a população lindeira porque a rodovia, a única que tornaria isso possível, também ruiu com as chuvas.

Está tudo errado com as mentes “republicanas” (refiro-me aqui ao Partido Republicano dos EUA) que vão construindo dia a dia as condições para o agravamento dessas tragédias. Que o diga a atual ministra Dilma Roussef, para quem o meio-ambiente é o principal obstáculo para o desenvolvimento. Dentro desse sistema de valores, não se pode entender o enunciado de Kopenhague como uma gafe, e sim como um revelador ato falho.

Pois bem, as evidências estão aí. Só não verá quem se fingir de cego. Os morros estão derretendo. A caminho dos vales, as avalanches de lama e pedras arrastam os barracos e soterram as mansões.

O que mais será preciso para deixar claro que precisamos parar um pouco para pensar no que está acontecendo ?

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