“A crise do Senado não é minha, é do Senado”. Esta foi a frase-síntese da defesa que José Sarney apresentou da tribuna para uma claque que já conhecia o enredo. Agiu como o comandante do navio desgovernado que, no olho do furacão, empurra a nave para a tempestade.
O que Sarney fez foi agravar o problema. Não é ele o problema. Não são os homens que compõem a Instituição. É a própria instituição, uma ficção jurídica, a responsável por tudo o que está acontecendo.
Sarney não explicou por que tantos parentes — dele e de apaniguados — foram nomeados por atos secretos. Produto da ditadura militar, teve a audácia de afirmar que foi ele quem acabou com o AI-5. Apresentou-se como uma espécie de Rasputin da ARENA consiprando contra o regime dos generais.
Sobre as nomeações, limitou-se a confirmar que pediu por uma das sobrinhas. Quanto aos demais parentes, apenas o que já havia dito: que não sabia de nada. Nada sobre os favores “voluntários” prestados pelo generoso Epitácio Cafeteira. Nada sobre as nomeações secretas no gabinete da própria filha. Nada sobre um sistema reiterado de ações de ocultamento de atos que deveriam, por imposição legal e moral, ser tornados públicos.
O incrível é a maneira como a claque comprou a história. Como todos os demais se deixaram envolver pelas responsabilidades. Incrível foi ver a timidez de um Pedro Simon amortecido pela sucessão de escândalos. “Eu também tenho a minha parcela de responsabilidade”, disse o senador gaúcho que em outros tempos, por menos do que isso, aconselhou Arruda, ACM e Jader Barbalho a renunciar.
A única voz a se insurgir foi a do senador Cristovam Buarque, do PDT do Distrito Federal. Ao sair do Senado, tinha o semblante de quem está realmente indignado com o jogo de faz-de-conta armado em torno do discurso de Sarney. É provável que amanhã ele faça um discurso dizendo o que pensa.
A constatação inevitável de quem assistiu ao discurso e aos desdobramentos foi a de que o Senado se transformou num enorme Maranhão. Talvez por lassidão dos outros 80 senadores, mas provavelmente pela incômoda condição de litisconsortes dos escândalos que se sucedem no Senado.
Seja lá o que for, não é bom. Menos para Sarney neste momento, em que ele se comporta como o timoneiro que acredita que vai salvar a tripulação se jogar o navio na borrasca.