Lilian Tahan
Luísa Medeiros
Os dois primeiros decretos de Rogério Rosso (PMDB) como governador do DF tem propósito policial. Um deles determina auditoria em todas os contratos da administração. O outro manda suspender por 30 dias a concessão de terrenos do Pró-DF e de lotes da Companhia Habitacional do DF (Codhab). O objetivo é apurar as denúncias reveladas pelo Ministério Público e pela Polícia Civil na Operação João de Barro, que investiga indícios de corrupção na doação de áreas por meio da Codhab.
Em função dos dois decretos, o Diário Oficial do DF que deveria ter circulado ontem demorou mais para ser rodado. Até o início da noite, a equipe de juristas do novo governo aprontava os últimos detalhes do texto informando o início das auditorias nos contratos e a blitz na Codhab. A publicação oficial que circulará hoje com a data de ontem informará as áreas responsáveis por conduzir o pente-fino pedido pelo governador.
Ao impor investigação como primeira medida de governo, Rogério Rosso tenta marcar uma postura moralizadora. É a chance que tem para causar um impacto positivo sobre sua gestão. E Rosso não tem tempo a perder. Está pressionado pelo calendário eleitoral, o da Justiça, que ainda vai julgar o processo de intervenção e o do próprio mandato, com data para terminar em 31 de dezembro.
Os contratos, especialmente os ligados à informática, foram a base do escândalo revelado pela Caixa de Pandora. Segundo as denúncias que deram início ao Inquérito nº 650 do Superior Tribunal de Justiça (STJ), deputados e integrantes do governo negociavam propinas com os empresas prestadoras de serviço para o GDF.
Na última quinta-feira, o Ministério Público e a Polícia Civil prenderam um servidor da Codhab, Lester Sebastião, indicado pelo deputado Paulo Roriz, acusado de cobrar propina para fraudar a lista de lotes destinados a policiais e bombeiros militares. Um corretor de imóveis, Fábio Neri, também foi preso e admitiu ter negociado o dinheiro. Há suspeitas da participação de mais pessoas ligadas a outros deputados na Operação João de Barro.
Convênio renovado
Um dos últimos atos de Wilson Lima (PR) como governador interino do DF foi renovar o contrato com a Linknet, empresa de informática citada no inquérito da Operação Caixa de Pandora como uma das supostas fornecedoras de propina para a cúpula do governo local em troca de benefícios em convênios. A prestação de serviço de locação de microcomputadores, notebooks e estabilizadores de tensão foi estendida por 12 meses. A assessoria de imprensa do governador Rogério Rosso informou que a prorrogação decorria de uma licitação antiga e foi suspensa ontem.
O dono da empresa, Gilberto Lucena, é investigado pela Polícia Federal e pela CPI da Codeplan, da Câmara Legislativa. No último dia 6, ele ficou calado ao depor na comissão sobre as supostas irregularidades nos contratos com o GDF. Lucena foi filmado pelo ex-secretário de Relações Institucionais Durval Barbosa negociando o pagamento de dinheiro ilícito em troca de favores em contratos. Na gravação, o empresário cita o percentual entregue a autoridades como o ex-vice-governador Paulo Octavio e o ex-secretário de Planejamento, Ricardo Penna. Em fevereiro, o então governador Wilson Lima suspendeu o pagamento dos contratos das empresas citadas na Caixa de Pandora. (LM)
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