Desde que postei o primeiro artigo sobre as sinecuras dos profissionais da Rádio Itatiaia, os leitores do Blog parassaram, mais do que justificadamente, a cobrar compostura dos jornalistas. Mas há um outro lado do problema que precisa ser observado. Trata-se da atuação do jornalista Hélio Calixto da Costa, o ex-repórter mais famoso da cadeia mineira. Ele já esteve na situação em que se encontram todos os seus colegas, agora constrangidos pela revelação de que o jabaculê foi institucionalizado naquela emissora — “favor” que muitos devem a ele.
Hélio Calixto da Costa começou sua carreira em Barbacena. Seu primeiro emprego na capital do estado foi justamente na Rádio Itatiaia. A partir daí, a carreira decolou. Ficou famoso como correspondente da Globo nos Estados Unidos, onde permaneceu até a véspera da Assembléia Nacional Constituinte. Eleito deputado com mais de 115 mil votos, começou uma prodigiosa ascensão política. Tornou-se um político tão popular que obteve o mandato de senador com 3.569.376 votos em 2002. Foi alçado ao ministério do governo Lula há quase três anos. Virou um ministrão, o homem da TV digital — muito embora seu antecessor tivesse deixado quase tudo pronto.
Ao longo desse caminho, entre a redação da Itatiaia e a Esplanada dos Ministérios, Hélio Costa abandonou o sobrenome do meio e perdeu completamente o respeito pela condição de jornalista, que está na gênese do político em que se transformou.
Imagino que Hélio Costa deve, um dia, ter pelo menos lido o Código de Ética e seguido seus preceitos. Mas observando deste ponto de sua história é difícil imaginar o jornalista Hélio Costa no ministro Hélio Costa. É fato inquestionável que o senador (ele era senador quando esse “sistema” começou) abrigou jornalistas em seu gabinete com o propósito de retroalimentar seu esquema político. Distribuiu o jabaculê, arquitetou as sinecuras que hoje são denunciadas — e para as quais até agora não houve resposta.
Foi ele quem contratou a mulher do diretor de jornalismo da emissora, que deve ter sido seu contemporâneo, para um emprego fantasma em Brasília. Foi ele quem criou uma cota de vagas em seu gabinete para as correspondentes da emissora na Capital da República. E com certeza foi ele quem determinou ao suplente Wellington Salgado, que muitas vezes atua apenas como seu preposto, que mantivesse a fatasmagoria ativa.
Pois hoje Hélio Costa é ministro das Comunicações. É o homem que manda na radiodifusão brasileira. É o cara das concessões, do marco regulatório, é quem decide tudo o que é importante para os radiodifusores brasileiros. Em que condição ele se apresenta perante os outros radiodifusores, uma vez que privilegia com benesses públicas um dos concessionários em detrimento de todos os seus concorrentes?
Hélio Costa, o ministro, é um homem que tem uma profunda relação com o Reino de Hades em que Brasília se transformou. Dependurou fantasmas onde pôde. Do filho aos funcionários da sua própria emissora, passando pelo diretor de jornalismo da Itatiaia e pelos correspondentes da emissora. Mas nada disso parece ter qualquer importância no pragmático universo em que a política se transformou. “Subjetividades” como respeito ético, respeito ao bolso do contribuinte, respeito à dignidade dos ex-colegas de profissão não têm lugar nesse ambiente deletério.
Por essa metamorfose, que transformou um jornalista respeitável em um político tosco, Hélio Costa talvez encarne hoje o melhor protótipo do que um profissional da imprensa não pode ser. Sem medo de errar, sou capaz de apostar que o repórter Hélio Costa ficaria constrangido e ofendido com as “facilidades” que o ministro Hélio Costa anda distribuindo por aí.