Com o afastamento iminente do senador Sarney da presidência do Senado, os holofotes agora se dirigem para o líder do PMDB, Renan Calheiros. Um ano e meio depois de renunciar à presidência da mesma casa legislativa para não perder o mandato, Renan está numa posição desconfortável e tenta construir muralhas para a artiharia pesada que sabe que vai enfrentar.
Logo após a superação do affair Mônica Velloso, o líder do PMDB não fez como outros políticos, que se recolhem e vão para a ribalta — caso de Ricardo Fiúza, Ibsen Pinheiro e Alceni Guerra. Adotou uma estratégia de ressurreição instantânea que pode lhe custar caro agora. Ao assumir a liderança do PMDB, que tem a maior bancada no Senado, Renan muitas vezes subjugou interesses do governo em benefício de seus próprios interesses. Foi assim há algumas semanas, quando ele tentou emplacar um diretor na PETROBRAS para evitar a instalção da CPI que vai investigar a estatal.
Ao longo desse caminho, consolidou inimizades antigas e ganhou algumas novas. É o caso de Romero Jucá (PMDB-RR), hoje um desafeto declarado, que por pouco não renunciou à liderança do governo por não conseguir espaço para relatar a mesma CPI.
Aloizio Mercadante (PT-SP), líder da quarta maior bancada de senadores, também não tem nenhum apreço por Renan Calheiros. Talvez seja hoje seu maior inimigo, embora tenha a gentileza de não declarar abertamente o que pensa do colega do PMDB. Não é preciso recorrer ao passado para ilustrar o ânimo da relação entre ambos. Um mês atrás, Renan conseguiu impedir que ele fosse indicado membro titular da CPI da PETROBRAS.
O líder do PMDB chegou a reclamar ao presidente Lula, no Palácio do Planalto, que Mercadante havia vazado para a imprensa informações sobre a sua tentativa de indicar um dos diretores da estatal petroleira. A fonte da matéria não foi Mercadante. Mas o ônus político recaiu sobre ele, que terminou “enquadrado” pelo Planalto por algo que não fez. Em função disso, Mercadante terminou por desistir de participar da CPI da PETROBRAS
Renan é um homem cuja disposição de lutar em prol do que lhe interessa não tem limites. Isso valeu a ele uma escaramuça de bastidores com o colega Gim Argello (PTB-DF), líder da bancada trabalhista no Senado. Gim, que também está na fila dos complicados, conseguiu passar uma rasteira na velha raposa alagoana ao nomear seu ex-chefe de gabinete Ivo Borges de Lima, conhecido como “Professor Ivo” ou “Cabeça Branca”, para a direção geral da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres).
O cargo, que para os patrimonialistas do Congresso é considerado uma verdadeira mina de ouro, era ambicionado por Renan. Especialmente neste momento em que o governo federal está revendo todas as concessões de linhas das empresas de ônibus que fazem o transporte interestadual de passageiros. “Não sei nem como nós votamos aquilo”, diz um senador tucano que só percebeu qual era a jogada quando o nome do novo diretor já havia sido sabatinado pelo Senado — e aprovado.
O nome de Renan figura ao lado do de Sarney na representação ao Conselho de Ética feita pelo PSOL. É provável que o partido de Heloísa Helena sequer tenha cogitado promover as complicações que se seguirão para o ainda poderoso líder do PMDB. Mas Renan já as antevia desde ontem, quando passou a consultar a tropa de choque para tentar compor, da maneira mais favorável possível, o novo conselho de ética.
Com a saída de Sarney, Renan é o próximo da fila. E vem chumbo grosso por aí.