Sarney entrou mudo e saiu calado da reunião marcada hoje com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O encontro tinha como objetivo esclarecer e definir passos para contornar a crise que vem devastando o Senado há mais de quatro meses.
A conversa reservada entre os dois no Centro Cultural Banco do Brasil, onde está instalado o gabinete da Presidência da República, era de extremo interesse de Lula, que luta para manter a aliança com o PMDB e a “governabilidade”, apesar da posição do PT de preferir o afastamento de Sarney. E mais essencial para Sarney se decidir sobre a permanência ou não no cargo, já que ele anda ameaçando uma renúncia caso partidos não parem de solicitar o licenciamento temporário.
Sobre Sarney, ainda recairia a mais nova missão de explicar as últimas denúncias que o envolvem: a de que o parlamentar não teria declarado à Justiça Eleitoral a propriedade de uma mansão no Lago Sul, avaliada em R$ 4 milhões e, segundo o Jornal O Estado de S.Paulo, comprada do banqueiro Joseph Safra, há 12 anos, através de um “contrato de gaveta”.
Ao fim da reunião, Sarney adotou mais uma vez a postura do “não vou falar nada”. Saiu de fininho e se manteve em silêncio. Um silêncio do tipo “quem cala consente”. Mas deixou à assessoria de comunicação a tarefa de fazer a defesa do caso, agindo assim como porta-voz do político. Em nota oficial divulgada à imprensa, Sarney afirma que declarou o imóvel à Receita Federal, ao Senado e ao Tribunal de Contas da União, e apresenta certidão do TCU comprovando que o casarão está presente nas cópias de declarações do Imposto de Renda entre os anos de 1999 e 2007.
No documento, o presidente do Senado esclarece que comprou a mansão durante leilão público, em 1997, e que quitou o imóvel em dez parcelas. Durante o pagamento, a propriedade do imóvel continuou em nome de Safra, não sendo assim incluída na declaração de imposto de 1998.
Em 1999, a casa começou a estar, finalmente no nome dele. Mas, por equívoco do contador, a mesma lista de bens de 1998 foi apresentada à Justiça Eleitoral oito anos mais tarde, não constando, portanto, a declaração da residência.