Há exatos 15 dias este Blog iniciou uma série de reportagens que tinha como objetivo denunciar um esquema de aliciamento de jornalistas de Minas Gerias por políticos com mandato federal. O esquema, como ficou demonstrado, consistia na contratação, para empregos fantasmas, de correspondentes que atuam em veículos privados.
O Blog demonstrou que pelo menos três repórteres da Rádio Itatiaia, a maior cadeia de emissoras daquele estado, estão ou estiveram lotadas nos gabinentes dos senadores Hélio Costa (PMDB-MG, atual ministro das Comunicações), Wellington Salgado (PMDB-MG) e Eduardo Azeredo (PSDB-MG). E o que é mais grave: o diretor de jornalismo da emissora mantém a própria esposa pendurada numa sinecura no gabinente de Wellington Salgado desde 2003.
As reportagens tiveram uma enorme repercussão na internet. Foram reproduzidas em centenas de sites e geraram um fluxo de comentários espetacular. Todos os leitores condenaram a prática, que em outros tempos era conhecida pelo nome pejorativo de “jabaculê”.
Fora do ambiente dos blogs, no entanto — e a despeito de não ter havido nenhum desmentido –, o assunto foi simplesmente desconhecido. Os jornais de Minas não foram capazes de dar uma linha sequer sobre o assunto. E, pior, não houve uma manifestaçao sequer de desaprovação à conduta aética por parte das entidades que representam a categoria. O único sindicalista que expressou sua opinião, ainda que em caráter pessoal, foi o presidente do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais.
Ocorre que nem o site do sindicato mencionou o problema. O silêncio, incômodo para todos os jornalistas éticos e honestos de Minas e do restante do país, gerou uma onda de inconformismo. Num momento em que a credibilidade da imprensa, como instituição, está em xeque, o absenteísmo cheira a cumplicidade.
É lamentável que isso tenha acontecido. Fica cristalizada a suspeita de que há um processo de institucionalização do jabaculê, inaceitável para quem exerce a profissão com um mínimo de dignidade.
A maior parte dos jornalistas de Minas Gerais segue rigorosamente todos os postulados éticos que regem a profissão. São estes os maiores prejudicados pela indignação que não houve, pela censura que não veio e pela ausência dolosa de discussão sobre um problema que não afeta apenas jornalistas — afeta principalmente o público leitor, que é o grande prejudicado por essa simbiose entre políticos de baixa qualidade e jornalistas oportunistas.
Felizmente muitos colegas se prontificaram a fornecer informações que confirmam a disseminação dessa prática espúria. Elas estão sendo rigorosamente checadas e, uma vez confirmadas, serão prontamente publicadas por este Blog.