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Saudade de Dona Marisa, que faz muita falta em Brasília

Dolley Madison: Primeira-dama antes de ser mulher de um Presidente

Desde que a saudosa Ruth Cardoso transferiu seu domicílio do Palácio da Alvorada para o bairro de Higienópolis, em São Paulo, o Brasil não tem uma Primeira-Dama à altura do status que essa designação inspira. A imagem atuante da esposa de Fernando Henrtique Cardoso contrasta de maneira cabal com o acanhamento e a inexpressividade de Marisa Letícia Lula da Silva, que passou oito anos no mesmo endereço de Brasília sem se deixar notar minimamente — e quase sem deixar vestígios.

Ruth Cardoso ajudou o marido a construir o núcleo estrutural dos programas sociais que viriam a se transformar no embrião do Fome Zero e seus sucedâneos. Sempre deixou claro que não gostava do rótulo de Primeira-dama. Muitas vezes, a condição de esposa de um presidente sedutor causou-lhe embaraços na vida pessoal. A despeito disso, os efeitos de sua passagem pelo núcleo de Poder em Brasília geraram consequências que todo o País reconhece.

Apesar de não gostar do rótulo, Ruth Cardoso talvez tenha sido a Primeira-dama brasileira que mais fez jus a ele.  Reconhecida como primeira Primeira-dama da história, Dolley Madison, filha de uma família agricultores do interior dos Estados Unidos, ganhou o título antes que seu segundo marido, James Madison, fosse eleito presidente dos EUA  em 1809. Ela era a anfitriã da Casa Branca durante o governo do viúvo Thomas Jefferson. Além de organizar festas e recepções, Dolley teve um papel político proeminente na Washington do Século XIX.

Dona Marisa Letícia, ao contrário de Ruth Cardoso, sempre gostou da condição de Primeira-dama. Mas jamais passou da fruição à ação. Nos primeiros anos do governo Lula, suspeitava-se de maneira jocosa que fosse muda. Não era. Mas sua voz foi ouvida pouquíssimas vezes fora do círculo íntimo dos frequentadores da Ala Residencial do Alvorada.

Marisa Letícia deixou, como marca indelével, apenas a imagem de um canteiro que reproduzia a estrela-símbolo do Partido dos Trabalhadores no jardim interno do Palácio — talvez motivada por lembranças de sua efêmera militância nos anos 80, quando ela bordou e costurou uma bandeira do PT para que o marido sindicalista conduzisse sua primeira passeata em direção à Presidência da República, onde chegaria anos depois. O canteiro foi destruído quando uma foto do Jardim de Marisa veio a público.

Críticos da estóica discrição de Dona Marisa dizem que sua maior obra foi seu próprio lay-out. É verdade que ela foi se transmutando fisicamente em uma espécie de clone brejeiro de Marta Suplicy — a ponto de, em eventos oficiais, sua presença ser confundida com a da então ministra do Turismo, comensal habitual da família Lula da Silva na cozinha (metaforicamente falando) do Palácio da Alvorada.

Com o advento do governo Dilma, por razões óbvias, o Brasil continua sem Primeira-dama. Lá se vão mais de oito anos assim, o que, para todos os efeitos, demonstra a inutilidade desse despiciendo formalismo institucional em torno do cônjuge do primeiro-mandatário . Também não temos um Primeiro-cavalheiro, o que é bom (pelo menos para nós, que pagamos as contas).  Parece bom também para a nossa Presidente, que está bem à vontade em sua condição de solteira. Com isso, desmonta o sofisma e prova que nem sempre é necessário haver um grande homem por trás de toda grande mulher.

Nem de um grande homem, como Lula.

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