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O que (ainda) sustenta a corregedora da Polícia Civil de SP no cargo

Trefiglio: se ela não ligar pedindo a conta, o Secretário liga para ela.

Espera-se para qualquer momento o desfecho do caso que envolve o centro negrálgico da Segurança em São Paulo. Presa à cadeira de Corregedora-Geral por um fio, a delegada Maria Inês Trefiglio Valente segue comandando a polícia da polícia judiciária paulista. Mas em silêncio e longe da ribalta.

Pesa contra ela a ira do Secretário Antônio Ferreria Pinto, colocado no foco do escândalo, desatado depois que o Blog do Pannunzio e a Rede Bandeirantes divulgaram imagens que mostram delegados da corregedoria despindo à força uma escrivã que vinha sendo investigada por concussão. Maria Inês disse e reiterou, em entrevista coletiva concedida na última segunda-feira, que o secretário tinha conhecimento do video.

O secretário afastou três delegados e mandou investigar um quarto. Todos serão responsabilizados administrativamente pelas sevícias e pelo desrespeito que as cenas desvelam. Em nota oficial, Ferreira Pinto se disse perplexo com o arquivamento do caso determinado pela vara Distrital de Parelheiros e com a atuação do promotor de justiça responsável pelo inquérito. Mas não explicou por que só tomou providências quando o caso se tornou público, na última sexta-feira. E nada falou sobre a omissão da Corregedoria, que durante um ano e meio fez vistas grossas para os abusos, detemrinando, inclusive, o arquivamento de um procedimento administrativo.

Ressalte-se que o próprio procedimento administrativo só foi instaurado depois que o caso chegou ao conhecimento do Ministério Público por meio de um telefonema anônimo. Até então, as sevícias sofridas pela escrivã circularam internamente pelo computadores da Corregedoria, sempre em tom jocoso, mote de piadas infames feitas a partir dos dados anatômicos da vítima das sevícias.

“O jogo segue rolando”, diz um assessor da Secretaria, sem saber ainda que tratamento será dispensado à delegada-corregedora. Trefliglio tem um curriculum invejável. Ela atuou positivamente na limpeza do DETRAN, talvez o maior foco de corrupção da polícia paulista, resolveu os casos El Negro e Abadia. Nesses episódios, a conduta inflexível da corregedora foi fundamental para que o governo apresentasse resoltados para a sociedade.

O crédito das ações passadasconta pontos a favor de Maria Inês Trefiglio. Apesar de odiada por boa parte da corporação, ninguém questiona a honestidade pessoal da delegada durona. Mas neste momento, seu cacife político parece não ser suficiente para conter o alarido provocado pelas imagens dos policiais arrogantes arrancando as calças da escrivã indefesa. E tudo isso foi agravado pelas declarações da própria corregedora, que chegou a elogiar o comportamento selvagem dos subordinados.

O afastamento dos quatro delegados e a instauração de outro procedimento administrativo desmoralizaram a delegada. A determinação do secretário de segurança aniquilou todos os esforços para dar à atuação da Corregedoria uma aura de normalidade, como se pretendeu nas primeiras horas após a divulgação do video. Salvo a própria Maria Inês Trefiglio, ninguém na SSP quer se comprometer com os erros dos prepostos da delegada. Especialmente o secretário Ferreira Pinto.

O episódio também deixou sequelas no Palácio dos Bandeirantes. O governador Geraldo Alkmin não aceita a partidarização do episódio, que teria acontecido com as manifestações enfáticas de autoridades federais condenando o comportamento da polícia paulista. A ação desastrada dos policiais-corregedores obscurece e mancha a reputação de uma polícia que, mal ou bem, vem apresentando resultados positivos, como a redução drástica dos índices de homicídios, que serviram como combustível para o bom desempenho do atual governador nas últimas eleições.

Embora o Palácio dos Bandeirantes não admita ser pressionado pela indignação de agentes e delegados de polícia, o governo está acompanhando a convocação de um ato de protesto marcado para o dia 25, quando policiais civis prometem parar o trânsito e acionar sirenes por cinco minutos na porta da Corregedoria.

O prédio fica na Rua da Consolação, quase na esquina da Avenida Paulista, local de grande afluxo de veículos e pedestres. Qualquer interdição do tráfego naquele local gera reflexos na malha viária de São Paulo, o que poderia amplificar a reverberação dos portestos.

A manifestação está sendo convocada pela internet, como uma espécie de flash-mob dos indignados. Até agora, avalia-se que os “coordenadores” do ato de protesto são policiais interessados em desmoralizar a corregedora porque temem sua atuação. Segundo uma fonte da Secretaria, a motivação central seria o comprometimento da clientela habitual da Corregedoria — policiais corruptos que se viram em má situação a partir da gestão inflexível de Maria Inês Trefiglio.

Mas essa é apenas a maneira como a oficialidade enxerga o problema. A julgar pelos milhares de comentários postados em sites que trataram do assunto, a causa da indignação está nas próprias atitudes da corregedora, que foi incapaz de fazer uma autocrítica e de esboçar um pedido de desculpas. A esta altura, inócuo e impossível.

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