Blog do Pannunzio

BRASÍLIA NA MEIA-IDADE

Brasília comemora 49 anos de idade. A capital da República chega à meia idade com os problemas de um ancião. O patrimônio da humanidade representado pelo conjunto arquitetônico de Lúcio costa e Oscar Niemeyer é também uma cidade desumana, onde impera a violência e os pedestres ainda perdem o espaço para os carros, apesar da gentileza dos motoristas.  Dois riscos perpendiculares no vazio, a imagem da cruz com os braços estendidos de leste para oeste. O avião voando em direção ao nascente. A alvorada empoeirda de um novo tempo.  Esta foi a gênese de Brasília, materializada cinco anos depois de concebida pelo visionário Jucelino Kubistcheck . O planejamento virtuoso transformou o deserto representado pelo cerrado na terra prometida .Passados 49 anos, Brasília não é apenas a capital de todos os brasileiros. É também a capital dos seqüestros-relâmpagos, dos escândalos políticos e da explosão populacional que tirou miseráveis dos rincões para instalá-los como novos miseráveis à sombra dos prédios da Esplanada.A cidade que alguns governantes tentaram transformar em feudo político. E que, ao invés de abrigar o sonho da vizinhança entre patrões e peões, serviu de abrigo para a maior quadrilha de grileiros do país . Por tudo o que aconteceu ao longo dessas cinco décadas, Brasília também se transformou numa cidade de contradições. É o lugar onde primeiro os motoristas aprenderam a respeitar os pedestres que cruzavam suas extensa avenidas. Mas é também a metrópole com mais carros por habitante do país. É tanto carro que as guias são insuficientes para o estacionamento. Brasília foi construída para os carros, não para as pessoas. Em lugares a esquina do Eixo Monumental com a rua de acesso ao  Congresso (fica difícil dizer exatamente onde porque as ruas não têm nomes), os pedestres simplesmente não têm por onde seguir. A calçada termina. Quem quiser avançar tem que se arriscar na pista, disputando espaço com o trânsito. E não é o único  problema. Na disputa entre a arquitetura e a funcionalidade, as pessoas quase sempre saem perdendo. A capital foi concebida para ser o maior espaço público do planeta. Mas o povo às vezes atrapalha a institucionalidade. Em função disso, a arquitetura vai se adequando. Um fosso foi construído no Palácio do Planalto.  O Congresso, a casa do Povo, construiu outro por questões de segurança. E há outros fosse menos visíveis, com o que separa o Varjão, o maior enclave de miséria do distrito Federal, do Plano Piloto, a apenas cinco quilômetros de distância. Na pequena vila, os índices de desenvolvimento são compatíveis com os do interior do Piauí. Nos lagos e nas asas do avião de Jucelino assenta-se uma riqueza suíça.  Apesar de todas essas contradições, a população de Brasília rejeita os estereótipos e afirma sua identidade. Hoje foi dia de festa e de manifestações de orgulho de todos os que vieram dar forma a essa metrópole multifacetada.A única coisa inaceitável é o lugar-comum segundo qual em Brasília só Brasília tem muita gente séria, honesta, correta. A essas pessoas, que constroem a verdadeira história da cidade, nossas homenagens. 

 

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