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Sob Mino,Veja defendeu em editorial a pena de morte, o banimento e a prisão perpétua dos “subversivos” em 1969

“Syzeno Sarmento, Jarbas Passarinho, Garrastazu Médici, Orlando Geisel, Albuquerque Lima, Lyra Tavares – entre meia dúzia de personalidades que aparecem na capa desta edição pode estar um novo presidente da República. Além destes, há muitos outros nomes de prestígio e responsabilidade que, por sua própria projeção, ganham condições de candidatos a candidato.”

Era assim, de forma elogiosa e subserviente, que Mino Cara assinava (literalmente) a Carta de Leitores como editor da revista Veja, em 17/9/1969, quando especulava sobre quem substituiria Artur da Costa e Silva, o marechal abatido por uma trombose em agosto daquele ano e, desde então, substituído no poder por uma junta militar. Na reportagem, intitulada “Discute-se a sucessão”, Mino defendia medidas horripilantes. Não, não era a revista que ele editava que defendia os atos que serão narrados a seguir. A confiar no seu admirador, que com ele trabalhava à época, Mino escondia a revista dos patrões, para poder escrever nela o que bem entendesse. Paulo Henrique Amorim escreveu solene em seu blog: “Como é conhecimento do mundo mineral, quem fez a Veja, quando podia ser lida, foi o Mino Carta. O Robert(o) lia a Veja na segunda feira, depois de impressa, porque o Mino não deixava ele dar palpite ANTES de a revista rodar.” Acreditamos nele. E o que Mino escreveu ou mandou escrever na reportagem? Leiam a seguir:

“ A Junta, além de desde o início se ter qualificado como solução temporária, tem outros problemas.. De acordo com os propósitos  do Ato Institucional nº 12, reafirmados no comunicado de quarta-feira passada, a Junta se comprometeu a aplicar os planos de governo de Costa e Silva, que previam a reabertura do Congresso e uma nova Constituição. Mas desde o seqüestro do embaixador americano o combate à subversão ficou sendo o primeiro objetivo da Revolução. Os três ministros não se sentem autorizados a ordenar meia-volta no caminho traçado e percorrido pelo Presidente. Como ministros militares, têm de tomar providências contra a subversão, as mais drásticas, como as que marcaram a semana passada. Os acontecimentos, até por obra de coincidências, se avolumam e empurram a Junta para decisões inevitáveis, mas, ao mesmo tempo, de altíssima responsabilidade: a pena de morte, o banimento e prisão perpétua contra subversivos, confisco de bens contra corruptos e cassações contra políticos, sem poupar até mesmo um ex-ministro de João Goulart, Oliveira Brito, secretário de Minas do Governador Luís Viana Filho. Tão inevitável como essas decisões é a necessidade de ao país um governo normal, não temporário.”

É Mino Carta, e seus escribas, por ordem sua, defendendo a pena de morte, o banimento e a prisão perpétua de brasileiros. Atos horripilantes. Repulsivos. Mas que saíram da pena dele, sem dó nem piedade, porque, para ele, eram inevitáveis, soluções as mais drásticas, que precisavam ser tomadas. Esse é o Mino que posa agora de democrata. Na entrevista à Antônio Abujamra, no programa Provocações, de março do ano passado, na TV Cultura, Mino disse que não chega perto de um computador, porque teme ser comido por aquela ‘bocarra’. Hoje, sabemos por quê. Ele temia ser comido pelos arquivos digitais de Veja, abertos ao público, que denunciam o seu passado trevoso (um adjetivo que ele gosta muito de usar).

Nota do blogueiro: vou publicar a íntegra da reportagem mencionada mais tarde. Ela está disponível no Acervo Digital da revista Veja.

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