Pannunzio Comunicação

“Los enemigos crecen en el horizonte.
Son los reyes de la cola de hierro,
los sacristanes y los carniceros,
los usureros de las tristes lágrimas,
los tiranos de la patria ciega.”

Pablo Neruda, em “Enemigos”

A extrema-direita vai voltar ao poder em 2026. Isso não é um exercício de quiromancia, é apenas uma antevisão do óbvio ululante. A volta será motivada pela frustração com o terceiro governo de Lula, incapaz de dar as respostas que a sociedade está a exigir.

O anacronismo, as falhas gravíssimas na comunicação, a incapacidade de honrar suas próprias teses em nome de uma governabilidade tíbia, tudo isso fará com que a extrema-direita, mobilizada e atuante, derrote o campo progressista em 2026.

A falta de vigor para defender as próprias bandeiras, o medo do impeachment por qualquer motivo, talvez até as dores do longo período de encarceramento transformaram Lula 3 em um governo fraco em quase todos os sentidos.

Entende-se que a preocupação com a formação de uma base parlamentar justifique alguns recuos estratégicos. Mas ela não explica, por exemplo, o gosto de Lula por homens, enquanto as mulheres são sempre preteridas em benefício de algum varão.

Também não se explicam atitudes covardes como, por exemplo, a que impediu que as atrocidades do golpe militar de 64 fossem lembradas no dia 31 de março. Nem o recuo das bancadas governistas diante das investidas reacionárias do senador Rodrigo Pacheco, como a criminalização do porte da maconha.

Ou a permanência de um sujeito como Juscelino Filho, de nome pomposo e capivara considerável, no Ministério das Comunicações.

Não fosse pelo barulho que as mulheres criaram nas redes sociais, o governo teria mantido seu silêncio à proposta da chamada Bancada do Estupro de criminalizar também o aborto após 22 semanas. Nada explica a pusilanimidade de declarações como as do líder Josué Guimarães, para quem o governo não tem nada a ver com esse assunto.

Se é capaz de cravar vitórias desse naipe estando na oposição, imagine o que farão os deputados da Teologia da Prosperidade quando voltarem ao poder. Teremos o aiatolá Malafaia mandando nos direitos civis, o bruxo Osmar Terra governando as ciências, o xeique Magno Malta regulando a moral, o Goebbels Carluxo ditando a comunicação social e o Chanceler Bolsonaro, anistiado pelo Congresso de Lira, distribuindo armas para formar as Sturmabteilung que irão fustigar homossexuais, intelectuais, artistas e comunistas.

O futuro está escrito — e não é nas estrelas, é na crônica política mesmo. A população não consegue perceber nenhuma vantagem na eleição de Lula, que faz um governo analógico em plena era da inteligência artificial. E será tétrico, para um país que sempre foi a grande promessa irrealizada de futuro, se transformar em paradigma do passado.

Vamos virar um Afeganistão para as mulheres, uma Indonésia para os usuários de drogas, um Irã para os gays, uma Guiné para as adolescentes, uma Arábia Saudita para os jornalistas, um El Salvador para as meninas estupradas, um Iêmen para os milicianos, um inferno para os demais.

É o que está sendo desenhado por este governo, eleito sob tantas esperanças, com a frustração diária que vem acumulando entre seus próprios apoiadores. Um futuro muito difícil, uma reedição tardia dos horrores produzidos pela Alemanha nazista cem anos atrás.

Lá como aqui, a democracia foi usada pela extrema-direita apenas como tática. É preciso lembrar que Hitler, como Bolsonaro, só se curvou à democracia quando percebeu que não chegaria ao poder por meio da insurreição violenta. No caso alemão, depois do Putsch da Cervejaria de 1923.

As facilidades serão enormes. A direita estará mobilizada ao nível planetário. Nos EUA, a tibieza e a covardia de um Biden terão dado lugar a um novo governo Trump. Na Palestina, a população terá sido dizimada pelas atrocidades de um Netanyahu. No Leste Europeu, as novas tiranias anocráticas grassarão, movidas pela xenofobia e pelo ódio ao diferente. E talvez até mesmo a Argentina, exaurida e faminta, mas sem inflação, sirva de exemplo para a empreitada dos extremistas brasileiros.

Aqui mesmo, a direita legitimamente liberal terá sucumbido sob o peso enorme do bolsonarismo, e aderido incondicionalmente a todas as suas teses, como já o fizeram, por exemplo, os social-democratas. Na Alemanha de 33 também foi assim.

E qual seria o preço de dar uma guinada e voltar ao eixo que elegeu este governo? De valorizar o campo progressista e tentar anular os reacionários? O impeachment, claro!, dirão as carpideiras e os temerosos profissionais.

Eles gritarão que Lula terá o mesmo destino que Dilma, que será defenestrado por este Congresso cuja índole golpista está mais do que provada, apenas porque não querem mudar nada. Os covardes precisam de uma capa e uma máscara, e a ameaça do impeachment será o grande argumento para manter Lula imóvel como está. Nada diz que será assim, mas o argumento funciona.

E se Lula virar o Lula de tantas esperanças novamente, o Lula que nós elegemos para governar para um novo país, e não para o reino obsoleto de velhos fascistas reacionários? Pode ser que seja impedido, sim!

O risco é real e está posto desde que o Congresso cedeu 140 assinaturas para a abertura de um processo de impeachment sem nenhuma causa, motivado apenas pela manifestação de uma opinião pessoal do Presidente sobre os horrores de Israel contra os palestinos.

Convém lembrar que a derrota imposta pelo inimigo no campo de batalha é sempre mais honrosa do que a autoimolação. Que é melhor ser vencido como Crasso do que vencer como Pirro. Se sobrevier o impeachment porque Lula passou a defender as bandeiras que o elegeram, paciência.

Ao menos será lembrado como mártir, e não como um covarde que abriu mão dos sonhos de seus companheiros de luta apenas para permanecer em um poder vazio e desprovido de sentido fora do campo estrito da vaidade pessoal.

4 respostas

  1. Lula tem cometido inúmeros erros, na falta da Reforma Agrária, na incapacidade de negociar com sindicalistas que não são pelegos e no enfrentamento com o Centrão. Porém, cadê o restante da esquerda brasileira? Que compactua com as políticas de conciliação de classe e concessões a direita?
    Se

  2. Esse papo de “extrema-direita” somente é usado por militantes políticos. A pessoa ser conservadora nos costumes e valorizar a família, ser a favor do porte de armas e achar que um Estado grande e obeso não é a salvação para o país não o torno um extremista.

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