Filhos de padres são personagens abundantes nos recônditos brasileiros. No Brasil de meados do século passado, padres, bispos e vigários eram prolíficos e viviam emprenhando as carpideiras e as carolas rezadeiras. Em certos casos, até uma medida de caridade.
Minha mulher é do interior da Paraíba e tem um parente que é filho de um padre. O padre tinha diversos outros filhos e jamais assumiu nenhum. Conta-se que todos saíram ao pai – exceção feita ao costume da batina, que nenhum deles pode usar por não conseguirem o beneplácito do batismo que a Igreja, com seu moralismo anacrônico, nega aos “filhos do pecado”. No caso de Mari, diz-se, os tais “filhos do pecado” são mesmo a cara do demônio.
Em defesa de Lugo digo que pelo menos foi fiel às orientações da Igreja. É notório que não usou camisinha, por exemplo, seguindo a catilinária que o Papa foi recitar na África, diante da maior platéia de aidéticos do planeta. Também ficou evidente que ele, ao contrário das centenas de colegas denunciados nas últimas duas décadas, não é pedófilo. Pelo menos não há evidência de que seja, a julgar por esse caso. Em se tratando de um padre católico envolvido por escândalos de natureza sexual, é um feito e tanto.
Se serve de consolo, também ficou evidente que não é homossexual, contrariando a crença corrente de que todo clérigo que tem vida sexual ativa é gay ou congênere.
E também tem outra: o que mais iam querer de um bispo “made in Paraguay”? Tá de bom tamanho.
“El conto Del vigário”, Lugo bem poderia servir de inspiração a outros líderes políticos da América Latina que têm passivos parecidos. Pelo menos ele teve a coragem de assumir, ainda que empurrado pela tenacidade da mãe. Há outros pecadores por aí, menos católicos, ainda que mais dissimulados, que jamais tiveram a menor vontade de um gesto como esse.
A menção a isso não caracteriza nenhuma violação de privacidade. Mas o povo tem o direito de saber qual é o caráter do homem que o governa. O político que se traveste de vestal e esconde um laço inquestionável de paternidade não tem fibra nem condição moral para tomar conta da vida de ninguém. Seja ele padre, bispo, pastor, rabino ou cientista social.