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É nazismo que chama. E não costuma terminar bem… Para os nazistas!

Você não precisa ser um observador atento ou um expert em história contemporânea para identificar uma série de semelhanças entre o que ocorreu na Alemanha dos nos 20 e 30 e o que ocorre no Brasil dos nossos dias.

Tudo é igual — ao menos muito parecido. E não é por acaso. As coincidências na verdade são remissões — portanto, uma farsa. São apenas memes replicados deliberadamente do passado para o presente. Não são produto da dinâmica do processo político e histórico, e sim apropriações farsescas de elementos simbólicos do período de ascensão do nazismo.

Quer alguns exemplos?

O emblema do partido de Hitler era “Deutschland uber alles”, que significa Alemanha acima de tudo; o de hoje é “Brasil acima de tudo”, que no idioma tedesco significa… “Brasil uber alles”. E ele já estava incrustado na casca do ovo da serpente. É a última frase de um artigo intitulado “O Salário está baixo”, o primeiro manifesto de insurreição com que um então desconhecido capitão Jair Bolsonaro se apresentou ao País em setembro de 1.986 na seção Ponto de Vista da revista Veja.

“Brasil acima de tudo”. Brasil uber alles.

Em seguida, o capitão Bolsonaro detalhou para Veja um estratagema cujo objetivo seria desmoralizar os comandantes superiores e assustar o País. Ele desenhou dois croquis explicando como seriam ações terroristas em instalações da AMAN e também em uma adutora do rio Guandu. Ele e um colega da academia pretendiam explodir bombas para conseguir um aumento de salário.

O manifesto catapultou a carreira política do líder máximo dos neonazistas brasileiros. Ele afirmou basicamente que o congelamento dos soldos num período de inflação alta havia corroído tanto a renda dos militares que , por esta razão, 80 cadetes desistiram do curso de formação de oficiais da AMAN (Academia Militar das Agulhas Negras).

Acuado por um processo disciplinar, Bolsonaro fez o que faz hoje — disse que nunca pensou em nada daquilo e acusou a jornalista Cássia Maria de ter inventado a história. Cássia denunciou à comissão processante que ele, Bolsonaro, a estava ameaçado, inclusive de morte. E provou que o capitão estava mentido com a publicação dos croquis que detalhavam o plano terrorista. Posteriormente, uma perícia encomendada pela Justiça Militar comprovou de maneira cabal que era de Jair Messias Bolsonaro a caligrafia nos desenhos.

Em 1.923, Adolf Hitler, ainda um líder regional de pouca importância na Baviera, levou a efeito a conspiração semelhante à que Bolsonaro não conseguiu implementar. Ele invadiu uma cervejaria onde a cúpula política e militar de Munique estava reunida. O golpe foi frustrado e, ao reprimí-lo, as forças regulares mataram 16 nazistas.

Hitler foi preso. Na cadeia ditou o primeiro volume de Mein Kampf (Minha Luta) a Rudolf Hess, que 10 anos depois se tornaria vice do fuhrer. Aqui, a ordem das ‘coincidências’ farsescas se inverte, mas há elementos da dinâmica do nazismo sobejamente presentes na liturgia golpista do bolsonarismo.

Frustrado o golpe que Bolsonaro tramava em prol de salários melhores, assim como Adolf Hitler, ele também foi preso. Mas foram apenas 15 dias de cadeia. E o manifesto, que seu inspirador do século passado escreveu encarcerado, o extremista brasileiro já havia produzido antes de ser detido administrativamente.

Bolsonaro teve mais sorte do que seu inspirador germânico. A Suprema Corte bávara, que poderia ter condenado Hitler à morte, impôs-lhe uma pena de cinco anos de prisão, dos quais nove meses foram efetivamente cumpridos. Já o Superior Tribunal Militar Brasileiro se acovardou diante do capitão-terrorista e resolveu absolvê-lo, desde que ele se desligasse da corporação. Assim terminou a carreira do soldado indisciplinado e nasceu o fuhrer brasileiro.

Outra inversão farsesca. Enquanto Hitler se converteu à democracia como tática para se tornar ditador, Bolsonaro valeu-se da democracia para tomar o Poder e logo se converteu ao golpismo com o fim notório de ser tornar um autocrata. O elemento que faz a intersecção desses dois período da história é o desprezo de ambos pela democracia.

Em 1935, Adolf Hitler, já então Chanceler da Alemanha, cravou que “a democracia deve ser destruída por suas próprias forças”. Oitenta e quatro anos depois, Bolsonaro diria em Washington o seguinte: “Nós temos é que desconstruir muita coisa. Desfazer muita coisa”. Mera coincidência ou clara inspiração?

Outra diferença cabal: enquanto Hitler se cercava de auxiliares leais e competentes, o bolsonarismo foi recrutar os comandantes de sua SA entre a escória da sociedade.

Não há paralelo, por exemplo, entre os pendores literários de um Joseph Goebbels e indigência intelectual de um Roberto Alvim, o palhaço que se fantasiou de ministro da Propaganda nazista para assustar o Brasil em rede nacional.

Alvim, a propósito, protagonizou a mais vil de todas as encenações nazistas até aqui, mas está longe de ser o único. O ex-secretário de Comunicação Social da Presidência da República Fabio Wejngarten, que tem ascendência judaica, foi buscar no emblema do Campo de Concentração de Auschwitz “Arbeit macht frei” (só o trabalho liberta) inspiração de peças de propaganda nas quais se lê claramente que “o trabalho liberta”.

O uso desses bordões manjados deixou de cabelo em pé parte da comunidade israelita brasileira que apoiou a eleição e vinha dando suporte ao governo do protoditador brasileiro. Segundo o historiador Michel Gherman, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, os neonazistas locais se valeram até de símbolos do judaísmo como uma espécie de lavanderia para o seu antissemitismo.

Mas esse tratamento cosmético nem de longe é capaz de apagar os vestígios da xenofobia e da eugenia em certas manifestações do governo. Como ostentar a Cruz Gamada é crime no Brasil, passível de prisão por cinco anos de acordo com a Lei 7.716/89, os neonazistas caboclos inventaram um universo de códigos que tem o propósito de criar identidade e servir como elementos de difusão dessa nefasta ideologia.

São centenas de símbolos que correm as redes sociais sem que a maioria dos internautas os perceba. Os mais atrevidos são o copo de leite e o sinal WP feito com a mão, marca registrada do White Power (Poder Branco, slogan dos segregacionistas norte-americanos).

O WP foi o gesto que colocou numa enrascada com o Senado e a Justiça Felipe Martins, neonazi que Bolsonaro ainda emprega como assessor internacional. Como os demais, ele, que não tem ascendência judaica, diz ter se convertido ao judaísmo para lavar seu antissemitismo.

Bolsonaro pai e o filho Eduardo já se deixaram fotografar ostentando copos de leite, em claras demonstrações da força por trás desse símbolo. O mesmo se deu com Allan dos Santos, o chefe da célula terrorista desbaratada pelo ministro Alexandre de Moraes cuja fachada era o site Terça Livre.

Observadas as semelhanças, agora vamos falar do desfecho. O destino tem sido cruel para com os nazistas. Em 30 de abril de 1.945, no fuhrerbunker onde se refugiara para não ser capturado pelo aliados , Adolf Hitler se matou com um tiro na cabeça. Eva Braun, com quem ele havia se casado na véspera, suicidou com cianeto.

No mesmo bunker, Joseph Goebbels e a mulher doparam e depois envenenaram seus seis filhos, numa tragédia sem precedentes até mesmo no ambiente cruel da Segunda Grande Guerra.

Benito Mussolini, o grande inspirador de Hitler, morreu dois dias antes. Foi assassinado por partisans junto com a amante Claretta Petacci em uma cidadezinha no norte da Itália quando tentava fugir do País. Os corpos deles foram levados a Milão, onde ficaram dependurados em postes e expostos à sanha e ao ódio da população.

O fim dos nazistas normalmente é trágico, diz a tradição. Mas isso não é motivo para que você se compadeça deles, pois muito maiores do que sua desdita são as tragédia que eles provocaram. O fuhrer alemão matou ou permitiu a morte de 6 milhões de judeus, 20 milhões de prisioneiros e de cerca de 30 milhões de soldados que tombaram por causa de sua estranha doutrina ao longo da Segunda Guerra.

O Duce italiano é responsabilizado por cerca de meio milhão de mortos. Os neonazi brasileiros já estão adiante dele, pois o negacionismo com que pautaram o enfrentamento da pandemia matou 600 mil pessoas sem que fosse necessário disparar um tiro.

É bom que os nazistas brasileiros se lembrem disso tudo enquanto ainda é tempo de recuar de seu projeto de restauração do fascismo. O sofrimento infligido à população é grande, mas a história deles nunca termina com um final feliz.

 

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