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Roberto Romano: “Dilma não tinha alternativa a não ser atacar”

Roberto Romano, Professor titular do Deparamento de Filosofia e Ciências Humanas da UNICAMP, é uma das fontes mais requisitadas do momento para interpretar os movimentos da sociedade. Ele tem uma visão muito própria dos últimos movimentos da campanha eleitoral. Ele acha que Dilma Roussef adotou a melhor tática para enfrentar o momento delicado que vive na campanha eleitoral. E reclama da falta de discussão sobre ciência e tecnologia, temas que saíram da pauta com a derrota de Marina Silva.Neste domingo, Romano interrompeu o almoço com  netinha e cedeu uma hora de entrevista ao editor deste Blog.

BP: Que papel teve o debate da Band no contexto das eleições?

Romano: Em primeiro lugar, sou contra aqueles que dizem que os debates anteriores, inclusive o primeiro, foram lentos e não houve emoção. Desta vez a emoção veio à tona. Porque a política é 70% emoção e 30% racionalidade – e muitas vezes uma racionalidade que produz emoções. Nesse caso, foi típico. A candidata Dilma Rousseff utilizou de uma maneira muito eficaz de mobilização de emoções. O problema [e que essa mobilização de emoções traz a contra-emoção. Você suscita uma onda e você recebe o troco. O que é preciso ver é se o troco não vai ser prejudicial a essa candidatura.

BP: O Senhor Achou que o tom foi adequado?

Romano: Achei adequado dada a defensiva a que ela havia sido imposta. Ela soube revidar. O problema é que no jogo da política você precisa pensar, como no caso do xadrez, dez jogadas adiante. Você não pode pensar apenas na mais imediata. Porque, caso contrário, você faz um trabalho tático, mas perde a estratégia. É isto o que está sendo avaliado neste momento.

BP: E como é que esse freio de arrumação do debate vai contribuir para a composição do tabuleiro onde ocorre o jogo eleitoral?

Romano: O primeiro ponto, deste debate particularmente, é que ele vem a colocar um bemol muito sério na propaganda. A propaganda manipula, produz fantasias, deixa as pessoas quase que santificadas. O debate mostra a individualidade. Por mais que exista assessoria aconselhando, por mais que existam regras, a subjetividade vem à tona. A pessoa mostra muito o que ela é. E esse ponto, me parece, o debate trouxe para o eleitor. Quem vai governar não é apenas uma cabeça estatística, não é uma mente científica, é um ser humano. É preciso então considerar esse dado da prudência do indivíduo. O debate cumpriu bem esse papel de mostrar o que os dois candidatos são.

BP: E qual será a conseqüência da contra-onda a que o senhor se referiu para a Dilma Rousseff?

Romano: Isso vai depender da jogada do adversário. A contra-onda existe. Muita gente se sente desagrada com esse tio de atitude. Se não houver uma administração eficaz pelo adversário, se não houver um aproveitamento inteligente, evidentemente ela ganhará pontos formidáveis para sua campanha.

BP: Quer dizer que esses efeitos estão sendo construídos a partir de agora?

Romano: Eu acho que o debate foi um start, abriu uma via. Os dois saíram correndo. Agora, casa corredor vai administrar o seu itinerário.

BP:E para José Serra, o que pode representar essa maior passividade, essa administração mais racional do conflito?

Romano: Ele ganhou e vastos setores da classe média intelectualizada, urbanizada. Mas, evidentemente, esse não é o grande eleitorado. O grande eleitorado pensa mais com as emoções. Nesse sentido, ele foi tomado de surpresa. Esse foi um elemento positivo do debate.

BP:Quer dizer: a tática do boxeador, que quer levar o adversário a nocaute no primeiro assalto, pode ter funcionado para a candidata do PT?

Romano: Exatamente. E isso ela conseguiu graças ao debate. Porque, se fosse apenas a propaganda, essa verdade política não teria aparecido.

BP: Com esse tom mais emocional, tema relevante, como propostas de governo, acabou ficando de fora. Vai ser assim o tempo todo?

Romano: Isso vai depender das duas conduções das campanhas. Eu acho que muito disso já foi trazido pelo debate. Agora é preciso que os próximos se pautem pelas questões estruturais brasileiras. Eu sempre insisto em que se fala muito sobre segurança, educação, economia, mas não se toca numa questão fundamental que é a da ciência e tecnologia. O presidente Lula, no primeiro mandato, dizia que iria aplicar 4% do PIB em ciência e tecnologia. Ora, quando você uma potência como a China produzindo bens de alto valor agregado; quando você vê que a indústria no Brasil sofre a possibilidade de em uma década perder boa parte de seu parque, esse tema da ciência e tecnologia deixa de ser um tema de interesse meramente acadêmico. É um tema estratégico e tático. E não tem aparecido nos debates. O erro é fazer ver a economia apenas pelo aspecto do consumo e não da produção, que é onde está o grande gargalo. Como é que se vai fazer para o Brasil competir em termos mundiais com produtos de valor agregado? Isso, só com ciência e tecnologia. E essa discussão parece que não existe na pauta dos dois candidatos. Paradoxalmente, existia de forma negativa na pauta de Marina Silva. E todo esse eleitorado que se voltou para Marina Silva percebeu que esse é um problema permanente.

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